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Brasileiros que chegaram de Gaza são ameaçados de morte por bolsonaristas e pedem proteção

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"Fugimos das bombas, da fome, da sede para nos sentir seguros em nosso país, e agora aqui não conseguimos ter segurança". Brasileiros que escaparam da barbárie em Gaza são ameaçados agora no Brasil e fazem pedido oficial de proteção à União. Bolsonaristas estão divulgando nas redes dados dos repatriados e realizando ameaças

Hasan Rabee (imagem ao fundo)

Jamil Chade

Depois de fugir de bombas, da falta de alimentos, da morte e do medo, os brasileiros que conseguiram sair da Faixa de Gaza agora são ameaçados no Brasil. Um deles é Hasan Rabee e sua família, que optaram nesta semana por fazer um pedido oficial de proteção ao estado brasileiro.

“Saímos da guerra para nos sentir seguros em nosso país, e agora aqui não conseguimos ter segurança, xenofobia, ameaças”, disse Hasan Rabee, um dos 32 moradores de Gaza que chegaram ao Brasil nesta semana. “Da violência física da guerra para outras violências”, lamentou.

Antes de sair do Oriente Médio, ele havia dito que só tinha um plano ao sair de Gaza: “Quero trazer minha família ao Brasil. Não há outro plano…”.

Ele ficou conhecido por seus vídeos que descreveram o cotidiano das famílias brasileiras em Gaza. Mas deixou para trás três pessoas que, agora, espera poder socorrer. Nas redes sociais, Hasan vem sendo alvo de ameaças, além de campanhas de ódio e difamação.

A operação de pedido de proteção está sendo realizada por Talitha Camargo da Fonseca, especialista em direito público e que atua na promoção e proteção de direitos humanos.

O sistema de proteção existente no Brasil para este caso é o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

“O PPDDH tem por objetivo oferecer proteção às defensoras e aos defensores de direitos humanos, comunicadoras e comunicadores e ambientalistas que estejam em situação de risco, vulnerabilidade ou sofrendo ameaças em decorrência de sua atuação em defesa desses direitos”, explica o programa.

Segundo Talitha, “como Hasan era um dos únicos com internet estável, ele acabou se tornando símbolo da divulgação da violência perpetrada em Gaza e é ativista por direitos humanos”.

“Solicitei para Hasan e sua família amparo psicológico pelo programa pró-vítima. Pois não podemos receber pessoas de uma guerra sem oferecer oferta adequada de proteção e reconstituição de identidade depois de tudo que assistiram”.

O governo afirmou que estava ciente dos ataques sofridos por Hasan. A percepção no Executivo é de que são condenáveis tanto as manifestações de ódio, sejam elas contra quem forem, tanto de antissemitismo quanto de islamofobia.

Nos dias da retirada do grupo de Gaza e viagem ao Brasil, circularam nas redes sociais postagens antigas de Hasan nas quais ele sugeria queimar ônibus em Israel, em 2015. Dias depois, no Jornal Nacional, ele afirmou que não se lembrava das postagens e que poderia ter postado “com raiva”.

“Não sou a favor de violência nenhuma, sou a favor da conversa, sempre”, disse. “Pode ser que eu tenha postado com raiva. Mas, em 2015, não me lembro de nada”, completou.