Assassino usava as redes sociais para idolatrar Jair Bolsonaro e o Véio da Havan, além de fazer postagens sobre Deus e orações. Novas imagens desmentem versão do autor do crime e mostram que morador de rua foi covardemente morto pelas costas em Santa Catarina enquanto tentava vender paçoca
Um morador de rua foi covardemente assassinado na última sexta-feira (3) a facadas em frente a um supermercado no Centro de Blumenau, em Santa Catarina. A vítima se chama Giovane Ferreira da Silva de Oliveira, de 29 anos, e trabalhava como vendedor de paçoca.
O autor do crime é Gleidson Tiago da Cruz, de 41 anos. A princípio, o assassino afirmou que matou o morador de rua porque ele teria colocado doce na boca da sua filha. Gleidson também disse que a faca utilizada no crime era do morador de rua e ele apenas teria tentado se defender.
No entanto, imagens de câmeras de segurança desmentiram a versão do assassino. Os vídeos mostram que o morador de rua foi esfaqueado mais de 10 vezes pelas costas.
As cenas fortes fizeram com que o juiz do caso decretasse a prisão preventiva de Gleidson. Segundo o juiz o “crime foi praticado de forma violenta e cruel, sendo a vítima atingida por ao menos quinze golpes de faca, tendo o instrumento cortante inclusive ficado preso ao tórax da vítima, que caiu à beira da calçada em local de intenso fluxo de pedestres e veículos”.
O magistrado ainda descontruiu a tese do advogado de Gleidson, que alegou que o assassino agiu em legítima defesa após o morador de rua supostamente ter ameaçado a filha do agressor. “É inviável dizer que o indiciado agiu em legítima defesa, ao menos nesse momento embrionário das investigações, porque não há nenhum elemento concreto até o momento que pudesse corroborar tal versão”, diz o juiz.
As novas imagens mostram que Geovane, após ser atingido nas costas, tenta fugir do ataque e vai em direção à entrada do supermercado. Gleidson vai atrás do morador de rua e desfere outras facadas quando o homem que vendia doces cai no chão. Depois de matar o vendedor, Gleidson retornou para onde estava sua filha.
O juiz também rebateu a tese da defesa, de que o crime foi uma “ação instintiva de um pai que estava na eminência de uma grande ameaça que colocava em risco não somente à sua integridade física, mas também, a de sua filha menor que conta com pouco mais de 2 anos de idade”.
“Mesmo que a provocação tenha partido da própria vítima – o que não é possível ainda confirmar e nem parece ser o caso – não há como ignorar que o desdobramento que se seguiu, ao que tudo indica, foi desproporcional ao contexto narrado e extrapolou os limites jurídicos de uma eventual legítima defesa”, afirmou o magistrado.
A esposa do assassino trabalha no supermercado e está grávida. Ela estaria cuidando da filha do casal, que presenciou o crime.
A advogada Maria Cecilia Seraphim assumiu voluntariamente a representação da família de Geovane e atuará como assistente de defesa junto ao Ministério Público. “Ele não era apenas um morador de rua vendedor de paçoca. Era um ser humano, filho e tio. A família me mostrou várias fotos dele com os sobrinhos e contou que ele ia lá toda semana para jantar, tomar um banho e dormir com eles. Mas de tempos em tempos escolhia ir para a rua porque não queria ser um fardo para a família, já que é dependente químico”, afirmou em entrevista ao site O Município, de Blumenau.
“Pessoas em situação de rua são vistas sempre como um incômodo, vagabundos. Se não tivermos um processo rápido, teremos um massacre de pessoas em situação de rua na cidade, porque não querem ver a vulnerabilidade social que existe”, afirmou a advogada.
A Polícia afirmou que o morador de rua não tinha passagens pela polícia. Os únicos registros são apenas por perda de documentos.
Assassino é fã de Bolsonaro
Nas redes, Gleidson idolatrava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o empresário Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan. Ele reproduziu uma publicação de Bolsonaro em que uma primeira página de O Globo era reproduzida com uma manchete dizendo que a Receita Federal havia confirmado que as joias do escândalo saudita seriam bens isentos de impostos.
Na mesma semana, Gleidson também “amou” uma postagem do líder extremista listando supostas reformas realizadas em seu governo. Gleidson também compartilhava posts que falavam em ‘orações’, ‘Deus’ e família.