Estudo publicado na Noruega mostra que os riscos inerentes à ingestão de alimentos crus, especialmente os peixes, vão além de intoxicação alimentar
Janaína Silva, VivaBem
Os riscos inerentes à ingestão de alimentos crus, especialmente os peixes, vão além de intoxicação alimentar.
Estudo publicado na Noruega em junho deste ano detectou a presença de bactérias do gênero Aeromonas em produtos pesqueiros disponíveis no mercado norueguês. Além de isso mostrar que o processamento de sushi, sashimi e peixe defumado a frio é ineficaz na prevenção do crescimento bacteriano, algumas cepas de Aeromonas podem espalhar a resistência aos antibióticos, pela troca de material genético com outras bactérias.
De acordo com uma das autoras da pesquisa, Hyejeong Lee, comer frutos do mar infectados por bactérias resistentes é uma maneira provável de elas se propagarem de animais e ambientes marinhos aos humanos, com maior potencial patogênico.
“A emergência de resistência a antimicrobianos é crescente em todo o mundo. O uso indiscriminado dessas medicações é constante no tratamento de humanos e animais, o que leva à seleção de bactérias resistentes em nosso organismo e no meio ambiente”, afirma Jane de Oliveira Gonzaga Teixeira, infectologista da Saúde Digital do Grupo Fleury.
Marcella Garcez, nutróloga, pesquisadora, diretora e professora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), lista as razões pelas quais a resistência a antibióticos associada a bactérias como Aeromonas é preocupante:
↗ dificuldade no tratamento de infecções;
↗ transmissão de resistência a antibióticos entre os hospedeiros, que leva a limitações na escolha desses medicamentos;
↗ aumento de custos de saúde.
“Na verdade, o problema de bactérias multirresistentes já existe há algum tempo e é uma questão de saúde pública, no qual medidas precisam ser implantadas não apenas em ambiente hospitalar, mas fora dele também, afinal o uso de forma indiscriminada de antibióticos na agropecuária, bem como falta de saneamento básico e tratamento de esgoto, descarte inadequado de antibióticos em rios e mar induzem a resistência bacteriana”, indica Ana Carina Serfaty, Infectologista do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”).
Outros micro-organismos causam infecção alimentar
Além das Aeromonas, que podem causar infecções gastrointestinais, de pele e respiratórias, várias outras provocam intoxicação alimentar, como:
↗ Vibrio parahaemolyticus é comum em águas salgadas e contamina moluscos, camarões e peixes.
↗ Salmonela é capaz de infectar vários tipos de alimentos, incluindo peixes crus ou mal cozidos.
↗ Variedades de Escherichia coli, patógenos que podem causar doenças gastrointestinais, incluindo diarreia sanguinolenta e cólicas abdominais.
↗ Listeria monocytogenes, encontrada em peixes defumados e perigosa para mulheres grávidas, idosos e pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos.
A nutróloga da Abran cita ainda o risco do botulismo alimentar, que ocorre se peixes crus ou mal preservados estiverem contaminados pela toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, levando à doença grave que afeta o sistema nervoso.
Além de bactérias, vírus, parasitas e toxinas naturais, como as que causam envenenamento por mariscos, provocam intoxicações e infecções.
Procedência e manuseio
O consumo de peixe traz inúmeros benefícios à saúde, sendo uma excelente fonte de proteína, ômega 3 e outros nutrientes, por isso o consumo de sushis e sashimis não está proibido. Mas é bom tomar cuidado com a procedência, o preparo requer manuseio cuidadoso para evitar a contaminação cruzada com superfícies e utensílios que podem abrigar bactérias patogênicas, e a refrigeração deve ser adequada para evitar a multiplicação e aumentar o risco de intoxicações.
Entre as precauções para minimizar riscos ao consumir alimentos crus, as especialistas elencam:
↗ Comprar peixes de alta qualidade de fontes confiáveis, de preferência em estabelecimentos que apresentem o selo da vigilância sanitária.
↗ Observar a refrigeração e armazenamento em temperaturas adequadas, antes da preparação.
↗ Higienizar muito bem as mãos e utensílios de cozinha ao manusear alimentos crus.
↗ Escolher restaurantes de boa reputação e instalações, com chefs que sigam procedimentos de segurança alimentar.
↗ Evitar o consumo de peixes de água doce crus, que têm um maior risco de contaminação parasitária.
↗ Consumir peixes de água salgada, como atum, linguado e salmão de boa procedência, que são frequentemente congelados antes de serem servidos crus, o que ajuda a matar possíveis parasitas.
↗ Verificar o frescor do peixe, sem sinais de odor forte ou textura viscosa.
↗ Evitar ingredientes como moluscos e ovas crus ou pouco cozidos.
↗ Evitar levar sobras de sushi ou sashimi para consumo posterior, pois os alimentos devem ser consumidos imediatamente.
↗ Se possível, optar por peixes bem cozidos, pois cozinhar os alimentos destrói microrganismos causadores de doenças e quebra possíveis toxinas presentes em alimentos, neutralizando-as.
Atenção redobrada
Existem pessoas que são mais sensíveis a terem intoxicações alimentares e infecções gastrointestinais do que outras, devido a condições de saúde, idade e imunidade, como:
↗ crianças pequenas;
↗ idosos;
↗ gestantes;
↗ quem tem doenças como diabetes, insuficiência renal e hepática;
↗ quem tem doenças inflamatórias intestinais;
↗ quem tem HIV/Aids;
↗ quem sofre de cânceres;
↗ pessoas imunossuprimidas e alérgicas.
Ainda em relação às bactérias resistentes, as especialistas indicam medidas como:
↗ Educação alimentar: informar a população sobre os riscos e como evitar contaminações.
↗ Campanhas para a população sobre os perigos da automedicação e de se compartilhar remédios desse tipo com outras pessoas, sobre o uso de antibióticos prescritos por médicos e o ciclo de tratamento indicado.
↗ Conscientização sobre resistência a antibióticos: com esclarecimentos para o uso responsável na medicina e na agricultura.
↗ Vigilância epidemiológica, que monitore surtos de doenças transmitidas por alimentos e investigue suas causas e efeitos potenciais relacionados às Aeromonas e outros patógenos.
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