Governos puramente latino-americanos
Com todas as recentes discussões sobre a decolonialidade, acredito ser pertinente apresentarmos alguns dos governos puramente latino-americanos, que podemos considerar que não se pode encontrar em nenhum outro lugar no mundo.
O primeiro deles, me parece ser o de Lázaro Cárdenas no México, que após a Revolução Mexicana tomou posse em seu país retirando o poder de Carranza, que acreditava ter mudado algo no país, mas que até Emiliano Zapata percebeu que era só mais um que não ia apoiar o povo, como Porfírio Díaz. Cárdenas de alguma forma, fez o que se esperava de Carranza, pois a principal base de seu governo foi a melhora da vida dos trabalhadores rurais e urbanos, com aumento de salários e entre outras coisas. Foi até mesmo nessa época fundados alguns partidos de esquerda no país.
O governo mexicano desta época se baseava em uma política populista, que busca o apoio de forma a beneficiar não só as classes mais baixas, mas também as mais altas e até mesmo as elites.
Outro exemplo importante de algo que só poderíamos ver na América Latina, é o que presenciamos na Revolução Boliviana de 1952, que por mais que tenha sido por alguns dias, ajudou aos trabalhadores urbanos e rurais com a revolta popular, que alavancou direitos aos trabalhadores e a ascensão do Movimento Nacional Revolucionário, que ao ter posse do governo, alavancou diversas reformas, entre elas a agrária e até estatizou diversas empresas.
Como podemos perceber, estes dois primeiros exemplos, se mostram variolizando os trabalhadores, melhorando as suas condições de trabalho e de vida e aumentando o poder do Estado.
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O mesmo ocorreu na Argentina com Juan Perón, que mesmo que tenha sido um presidente populista, que começou com uma proximidade com o fascismo e com uma admiração ao Mussolini, não igualou a sua política para a região, tornando-a para algo que mudou ao que vimos com Cárdenas e com o MNR da Bolívia, pois viria a aparecer nas políticas nacionais uma mistura entre uma política de extrema-direita ou de direita, com a de uma esquerda, não só visando mais os trabalhadores, mas crescendo seu foco para as elites dominantes e em ascensão. Essa mudança no governo de Perón consideram como principal fator as ideias de Eva Perón, sua esposa.
Um dos melhores exemplos para a mudança das características do populismo foi o de Getúlio Vargas no Brasil, que se utilizou do apoio das massas para ajudar as elites em nascimento, sobretudo aos empresários industriais que iniciavam seu trabalho no país, com o exemplo das automobilísticas, que se tornou um exemplo para toda a região, pois em qualquer país que podemos ir, ouvimos sobre o “escaravajo” ou o nome popular brasileiro, o fusca.
As políticas populistas as quais consideramos de nascimento puramente latino-americano, tem se tornado costume na região e eficazes na mudança de vida e melhora das condições sociais, sendo desta forma hoje em dia características como estas, estarem vivas, mais caracteristicamente em políticos de esquerda. Em se tratando dos de direita, acredito que o melhor exemplo é Nayib Bukele de El Salvador, que se mostra um político que faz o que as massas precisam, que espera mudar as lógicas do país de forma a ouvir o povo, por mais que essas acabem tornando ou fazendo com que uma outra parcela se torne descivilizados.
O que quero deixar claro aqui, é que as políticas populistas sempre foram criadas em prol de uma classe ou de um grupo, nunca podendo se tornar algo que se caracterize por ser um único viés ou ideologia políticos, como é o caso de países como Estados Unidos e Europa, que se especializam em algo fácil de analisar e de se perceber quais conceitos inserir. O que no caso da América Latina se torna praticamente impossível, pois não se cria uma política que se estabelece de uma forma, mas que se estabelece em prol das massas e do que acreditam que seja melhor para a população.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol.