Barbárie

Médicos em Gaza operam crianças que gritam sem anestesia, usando celulares como luz

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Nos poucos hospitais que ainda funcionam na Faixa de Gaza, os médicos operam crianças palestinas que gritam sem anestesia, usando telefones celulares como luz. É a maior barbárie dos nossos tempos

Dezenas de recém-nascidos morreram no hospital al-Shifa por conta da falta de energia. Israel não permitiu ajuda (NBC)

Jamil Chade, em seu blog

O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, apresentou hoje (16) o informe mais duro sobre a situação em Gaza até agora tornado público e pediu que a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança — que estabelece uma pausa humanitária — seja “imediatamente implementada”.

Segundo ele, os ataques sobre Gaza ocorrem em uma intensidade raramente vista neste século e um de cada 57 palestinos já foi morto ou ferido. “Nos poucos hospitais que ainda funcionam, os médicos operam crianças que gritam sem anestesia, usando telefones celulares como luz”, alertou.

Falando aos governos de todo o mundo numa reunião extraordinária, Turk pediu uma investigação internacional sobre os crimes cometidos em Gaza, o fim da ocupação dos territórios palestinos por Israel e a implementação da resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovado ontem — e que prevê uma pausa humanitária.

Para a ONU, a resolução do Conselho de Segurança é “necessária” e precisa ser “imediatamente implementada”. Mas, pelo sistema internacional, não existe uma forma de obrigar um governo a cumprir o que diz o documento.

O chefe da instituição defendeu uma “assistência humanitária rápida e desimpedida em toda a Faixa de Gaza”. “É preciso pôr fim às graves violações dos direitos humanos, principalmente contra as crianças. Todas as formas de punição coletiva devem chegar ao fim. Todos os reféns devem ser libertados”, disse Volker Turk.

“Deve haver um cessar-fogo por motivos humanitários e de direitos humanos e o fim dos combates – não apenas para fornecer alimentos e água urgentemente necessários, mas para criar o espaço para uma saída desse horror”.

“Poucas vezes ouvi um testemunho tão perturbador sobre os danos catastróficos que as pessoas comuns sofreram e que continuam a aumentar. E nunca, em minha carreira de trabalho em muitas situações de crise em todo o mundo, encontrei tamanha manifestação de medo, raiva e desespero”.

“O povo de Gaza, que há anos vive profundamente empobrecido atrás de cercas de arame farpado, está sofrendo bombardeios das Forças de Segurança de Israel de uma intensidade raramente experimentada neste século”.

“Uma em cada 57 pessoas que vivem na faixa de Gaza foi morta ou ferida nas últimas cinco semanas. Mais de 11.100 pessoas foram mortas, das quais mais de 4.600 eram crianças. 102 dos mortos eram membros da equipe da ONU: pessoas cujo único objetivo é prestar assistência a civis”.

“A morte de tantos civis não pode ser descartada como dano colateral. Não em um kibutz. Não em um campo de refugiados. E não em um hospital”.

De acordo com a ONU, nos poucos hospitais que ainda funcionam, os médicos operam crianças que gritam sem anestesia, usando telefones celulares como luz.

A OMS registrou pelo menos 137 ataques a serviços de saúde em Gaza, com impacto especialmente grave no Hospital Al-Shifa nos últimos dias, onde recém-nascidos com suporte de vida estão morrendo devido a cortes de energia, oxigênio e água, enquanto muitos outros pacientes de todas as idades estão em risco — assim como médicos e pessoas que se abrigam no terreno do hospital.

Conselho de Segurança da ONU

A reunião foi tomada por uma troca de acusações entre governos e a ONU. O governo de Benjamin Netanyahu anunciou que não irá aceitar nem as críticas e nem os apelos internacionais, num sinal de que não pretende cumprir a resolução do Conselho de Segurança.

O governo Netanyahu criticou Turk e disse que “não se pode fazer uma equivalência moral entre Israel e Hamas”. Para os israelenses, há uma tentativa deliberada de se reescrever o direito internacional. “Não vamos deixar Israel ser deslegitimado”, insistiu Meirav Eilon Shahar.

O governo palestino reagiu. “Acordem”, disse Ibrahim Mohammad Khraishi, embaixador palestino na ONU em discurso aos demais governos. “Isso é um genocídio”, afirmou.

Para ele, é lamentável que Israel tenha já anunciado que não irá cumprir a resolução do Conselho de Segurança. O palestino acusou o governo Netanyahu de “bater recorde de mentiras”.