Padre que roubou R$ 140 milhões de hospital público que atendia pessoas carentes é preso na PB
Padre comprou 29 imóveis de alto padrão e torrava o dinheiro com vinhos que custavam milhares de Reais a garrafa, além de decorações e obras de arte. Toda a vida de luxo era bancada com dinheiro destinado a hospital que atendia pessoas pobres pelo SUS. De acordo com as investigações, pessoas necessitadas tiveram seus tratamentos e atendimentos gravemente comprometidos por conta dos roubos do religioso
Carlos Madeiro, em seu blog
O padre Egídio de Carvalho Neto, 56, suspeito de desviar recursos de entidades filantrópicas, se entregou à polícia em João Pessoa na manhã desta sexta (17). Mais cedo, o Tribunal de Justiça da Paraíba havia expedido mandado de prisão contra ele.
Segundo as investigações, o padre teria sido responsável por apropriação de dinheiro do hospital e do Instituto São José, que atende pessoas pobres pelo SUS, e da Ação Social Arquidiocesana. Com o dinheiro, diz a apuração, usufruiu e adquiriu diversos bens de luxo, entre eles 29 imóveis de alto padrão em três estados. As investigações, porém, ainda estão em curso.
Em nota, a promotoria afirmou que “as investigações revelam um esquema de desvios de recursos públicos estimados em cerca de R$ 140 milhões. Esses desvios (…) ocorreram entre 2013 e setembro deste ano. As operações ilícitas afetaram gravemente o Hospital Padre Zé, comprometendo o atendimento a populações carentes e necessitadas.”
A ordem de prisão foi dada nesta sexta-feira (17) pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida, que atendeu pedido do MP (Ministério Público) da Paraíba.
“Presentes a prova da materialidade delitiva e indícios de autoria, aliados à necessidade da custódia para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal, resta autorizada a imposição da segregação cautelar [prisão].”
Segundo a investigação, o padre Egídio recebia salário pela gestão do hospital em torno de R$ 15 mil. Entretanto, entre janeiro de 2021 e setembro de 2023, passaram pela conta dele de R$ 4,5 milhões, o que dá uma média de R$ 140,9 mil por mês. A quantia desviada pode ser muito maior, como estipula a nota da promotoria.
Além da grande quantia, o padre adquiriu bens de alto padrão incompatíveis com sua renda formal. “Ao agir por aproximadamente uma década, Egídio enriqueceu-se ilicitamente às custas dos cofres públicos e, em última análise, da própria sociedade hipervulnerável desta localidade. Foram 29 imóveis ao total — até o momento — nos Estados da Paraíba, Pernambuco e São Paulo, TODOS de elevadíssimo padrão de construção e perdulário, orquestração de pisos, iluminação e decoração”, diz a ordem de prisão.
Além disso, diz a apuração, há registro de compra dois carros de luxo e inúmeros vinhos, “que superam a média de mil reais por garrafa.”
A investigação ainda apontou, segundo os depoimentos colhidos de pessoas da administração do hospital, que documentos já chegavam “montados e prontos, havendo constante pressão para que os servidores assinassem e carimbassem sem a análise do objetivo.”
O pároco era diretor-presidente do hospital e foi afastado do cargo em agosto, assim como das suas funções eclesiais. Ele responde a processo canônico, que pode resultar em sua expulsão da Igreja Católica. As duas mulheres atuaram com ele na administração e são suspeitas de ajudar no desvio de recursos.
Além de Egídio, foram expedidos mandado de prisão contra Jannyne Dantas Miranda e Silva, tesoureira do Instituto São José e do próprio Hospital Padre Zé; e Amanda Duarte Silva Dantas, que atuava na contabilidade.
O hospital Padre Zé é uma referência em serviço de saúde gratuito em João Pessoa e atende cerca de 18 mil pessoas por ano em diversas áreas. A nova direção do hospital, que assumiu no dia 25 de setembro, é presidida pelo padre George Batista.
O padre Batista afirma que se deparou com dois empréstimos feitos pela gestão anterior em um total de R$ 13 milhões. Elas geram hoje parcelas mensais pagas em torno de R$ 250 mil, que comprometem os serviços ofertados na unidade.