Matheus Firmino*
Quem conhece minimamente a história da participação do PT nas eleições municipais de João Pessoa sabe o quanto é marcante a participação intensa da militância petista na campanha. Historicamente o PT é o partido que mais mobiliza suas bases mais orgânicas, sejam lideranças comunitárias, dos movimentos sociais, comunidade acadêmica, sindicalistas e pessoas comuns que se sentem representadas pela agenda política do partido, pelas bandeiras de lutas que são defendidas, por aproximação ideológica. Essas pessoas se tornam o eixo da campanha, são elas que tocam o dia-a-dia da campanha desde os comitês às caminhadas, dos debates púbicos à construção do plano de governo, das visitas nas casas aos debates nos mais diversos espaços da esfera pública.
Isso é um fato, o nível de mobilização da militância do PT é incomparável a qualquer outra organização partidária. E esse é um ponto crucial para quem pretende ser candidato à Prefeitura Municipal de João Pessoa, ter a militância petista ao seu lado, acreditando na plataforma de governo, se sentindo bem representada e contribuindo com a campanha com o máximo de vontade política. É neste sentido que se faz necessário para os e as pré candidatas do PT uma leitura do atual estado de coisas no partido em João Pessoa para que se possa saber quem melhor leva o “ser militante” a empolga-se o suficiente para fazer dessa pretensa campanha, uma campanha de fato petista.
Mas para essa leitura é também necessário revisitar a história recente do PT de João Pessoa, que, diga-se de passagem não foi nada fácil e afetou diretamente o partido em todos os aspectos, da estrutura partidária aos processos democráticos internos, da capacidade de aglutinação de militantes na atividade partidária cotidiana aos processos mais simples e burocráticos, mas sem nenhuma dúvida diminui bastante a força e a capilaridade política do PT e sua capacidade de incidir sobre a política local. Os dois marcos mais recentes que desestabilizaram o partido sem dúvida alguma foram a saída de Luciano Cartaxo do PT em 2015, quando o mesmo era prefeito da capital pelo PT e a decisão da Direção Nacional do partido de que Ricardo Coutinho seria o seu candidato na disputa municipal em 2020 quando a militância da cidade já havia decidido pelo nome de Anísio Maia, o que ocasionou em uma disputa jurídica e resultou em uma punição de membros da então direção municipal, destituição do DM e intervenção nacional na cidade, deixando a direção municipal nas mãos de uma comissão provisória interventora.
Tendo em vista essas questões é possível agora fazer uma leitura das possibilidades que cada pré candidatura tem de agregar a militância petista. Em um primeiro plano o pré candidato que mais aparece, dada a sua história recente, que não é das melhores em termos políticos, é Luciano Cartaxo. Esse é sem dúvida alguma o que têm mais dificuldade. Cartaxo foi eleito em 2012 pelo PT em uma disputa histórica, engana-se quem pensar de se estar aqui falando da eleição em si, mas na verdade a disputa mais dura foi garantir que ele fosse candidato, que o PT tivesse candidatura própria. O esforço político que as correntes mais à esquerda do partido dedicaram a construir um movimento chamado “Agora é a vez do PT” que desde 2010 lutava contra as máquinas da prefeitura que queria levar o partido para as mãos de Luciano Agra e do governo estadual, do PSB, de Ricardo Coutinho que queria arrastar o PT para uma candidatura de Estela Bezerra. Há quem diga que foi mais difícil garantir que Cartaxo fosse candidato que o eleger prefeito dado o tempo e o esforço que foi necessário para tal. Eleito prefeito o então petista na metade de seu mandato, Cartaxo abandona o PT em meio a um golpe de Estado (que alguns insistem em chamar de impeachment) que se construiu para derrubar ilegalmente o Governo do PT, da então Presidenta Dilma Rousseff. E ainda sai do PT acusando o partido de corrupto e cai no colo da direita mais tradicional que existe na política paraibana. No PSD o então prefeito fingia que nada estava acontecendo no país, não fez se quer uma fala em defesa da democracia, não delegou nenhum esforço para reverter o voto de algum Deputado Federal em favor de Dilma e cercou-se em um círculo que nos bastidores da política da capital se denominava de cartaxolândia. Tal posição (ou falta dela) tatuou na testa de Cartaxo o nome de covarde e de traíra, tatuagem essa que para quem é de fora do PT pode ter sido feita de henna que se desfaz em semanas, mas para a militância do PT foi feita de tinta permanente e não importa o que ele faça, será dificílimo recuperar a confiança da militância.
Cida Ramos, a Deputada Estadual têm ao que parece uma dificuldade comum aos demais nomes, o tempo. Tempo para construir uma relação mais próxima com a militância petista, considerando que ela ingressou no PT há não muito tempo e foi reeleita Deputada Estadual pelo partido. Porém, Cida pode ter a seu favor, nesse ponto, seu histórico de proximidade (e de origem) com os movimentos sociais, estudantis, sindicatos e acadêmicos. A Deputada também foi Secretária Estadual de Desenvolvimento Humano e coordenou diretamente políticas públicas que dialogam diretamente com a base petista e em diversos momentos a levou a debater agendas importantes com a militância que se encontra na base, lá nas comunidades e nas conferências de políticas públicas das mais diversas. Outro fator que a favorece é a capacidade de se colocar de forma clara em qualquer debate, Cida em seu mandato não foge de qualquer debate que seja, tem sido uma voz de enfrentamento aos ataques da extrema direita naquela casa legislativa e fora dela, ao que parece, aos olhos dos militantes, Cida seria uma candidatura sem medo de travar um debate de caráter ideológico durante a campanha e isso é de fundamental importância para setores do partido, pois uma candidatura não passa apenas pelo cunho eleitoral, não é apenas para ganhar a gestão municipal, mas também para disputar os corações e mentes das pessoas, colocar na agenda do debate os as pautas dos setores marginalizados, das minorias e dos direitos humanos. Nesse quesito há um abismo entre Cida Ramos e o pré candidato citado anteriormente. Mas, sem dúvida alguma o que aparentemente conta mais pontos para a Deputada é o seu posicionamento firme a favor da democracia e sua participação inquestionável na luta contra o golpe.
A terceira pré candidatura que se destaca é da ex-deputada estadual Estela Bezerra, o nome de Estela dialoga muito com o de Cida Ramos em termos de relacionamento com a base do PT, mas com algumas implicações. Em relação ao perfil da ex-deputada ela é tudo o que a militância mais orgânica do PT gosta, tem um pulso para o debate tão firme quanto o de Cida Ramos, Estela teve dois mandatos irretocáveis que pautaram a Assembleia Legislativa à conduzindo muito além do cotidiano normal da agenda parlamentar paraibana, emendas parlamentares e as articulações das eleições seguintes, sim na AL-PB o clima de eleições é permanente. Sem dúvida alguma Estela também esteve em contato permanente com a base do PT durante vários processos políticos dos quais Cida Ramos também participou como mencionado à pouco e converge em muito com a agenda de setores importantes do PT como o LGBTQIAP+, Cultura, Movimento Negro, uso medicinal da canabis e etc. Porém, o que pesa sobre Estela, e pesa muito, é a sombra de Ricardo Coutinho. A própria ex-deputada se coloca como herdeira política de Coutinho e isso cria arranhões profundos entre ela e a militância petista, principalmente a militância mais presente no cotidiano do partido. É preciso considerar que o histórico de Ricardo com o PT é incontestavelmente difícil, duro para a legenda em Joao Pessoa. O Ex-governador não é conhecido por ser a pessoa que respeita os processos democráticos internos, ao contrário, ele é conhecido pelo caráter autoritário que sempre se manifesta quando seus interesses não são os mesmos das instancias do partido, foi assim quando saiu do PT para ser candidato pela primeira vez a prefeito de João Pessoa, foi assim quando tentou inviabilizar a candidatura própria do partido em 2012 e por ultimo em 2020 quando decidiu que queria ser candidato a prefeito pelo PT quando o encontro municipal da militância já havia decidido pelo nome de Anísio Maia e registrado sua candidatura. Deixando então um cenário de terra arrasada, prejudicando a candidatura legítima do PT, proporcionando punição para militantes históricos, colocando a Direção Municipal sob uma intervenção tão esdruxula e constrangedora até para os interventores. A derrota que o candidato do ricardismo, Antônio Babosa, sofreu, perdendo para Marcus Túlio na recém eleição para Presidente do PT municipal da capital foi uma mensagem muito nítida do quanto a militância do partido não tem afeto pelo ricardismo.
Será muito difícil para Estela estabelecer uma confiança entre ela e a militância do PT quando se tem a imagem de RC como fundo na sua fotografia, mesmo com todas as qualidades e histórico de lutas da pré candidata.
Esse é o cenário de cada uma das pré candidaturas em relação a quem pode ter mais chances de conquistar e mobilizar a base e a militância petista, pois ter o PT e não ter a militância petista é ter apenas a legenda, como em qualquer outro partido tradicional, é como ter uma franquia que pode usar a estrela e a foto de Lula.
*Matheus Firmino é sociólogo.
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