Revolução do Futebol Brasileiro: o dinizismo conquista o mundo
No campo da implicância, há tempos que o jornalismo esportivo brasileiro não acusava um mapa de calor tão intenso contra um treinador de futebol como é o caso com Fernando Diniz
Lucio Massafferri Salles*, Pragmatismo Político
No campo da implicância, há tempos que o jornalismo esportivo brasileiro não acusava um mapa de calor tão intenso contra um treinador de futebol. Refiro-me à insistente má vontade de boa parte dos que cobrem o futebol profissional, em relação ao treinador, ex-jogador e psicólogo, Fernando Diniz.
Embora eu tenha escrito implicância, ali e acolá observadores atentos seguramente detectarão a presença pulsante deste sentimento humano de “desgosto provocado pelo sucesso ou prosperidade do outro”, chamado inveja, em boa parte das críticas fáceis envolvendo as ideias, o estilo e o modo com que Fernando Diniz trabalha o futebol.
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É claro que se deve dar um desconto, pois além da seleção brasileira não encantar o mundo com o seu futebol, há décadas, grande parte da mídia futebolística é apegada às ciências do achismo e da futurologia, quase sempre exercidas com um manifesto clubismo.
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Diniz está começando a colher alguns frutos do seu trabalho. No dia 29/12/2023 foi eleito o 5o melhor treinador de futebol do mundo pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) e concorre no próximo dia 31 ao prêmio de melhor treinador da América, dirigindo o Fluminense Football Club. E mesmo que não seja escolhido como vencedor, nesse último, é fato que já conquistou em 2023 uma inédita Taça Libertadores da América, no Maracanã, além do Bicampeonato Carioca sobre o grande rival Flamengo, com um passeio avassalador de 4 x 1 num domingo de Páscoa.
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Sem medo, Fernando rompeu com a mesmice que atrofiou a musculatura do outrora ágil e criativo futebol brasileiro implementando novas concepções de treinamento, de relações humanas e esportivas, algo que se reflete no seu autoral, criativo, hiper-cooperativo e aposicional jogo de campo.
Os conservadores, desatualizados, gritam (aproveitando os espaços que têm pra isso). Esperneiam, tentam diminuir e adivinhar qual será o próximo fracasso do ousado treinador do Fluminense. Se tiver tempo, olhe no YouTube, em grandes canais brasileiros de cobertura esportiva/futebolística, a quantidade enorme de previsões erradas, engraçadas e tendenciosas que cravavam, com certeza, que Diniz não conseguiria conduzir o seu time ao topo da América.
Diniz incomoda, também, porque trabalha forte a inclusão social, as relações humanas no esporte, o acolhimento dos jovens da base e dos veteranos que ainda jogam futebol, desafiando o que nossa sociedade doente estigmatiza como sendo “casos perdidos” ou “velhos em atividade”.
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Sim, medíocres são esses críticos por antecipação e torcida contra. Pessoas que não estudam o jogo de bola, que só repetem as mesmas falas para as suas bolhas, às vezes grandes, às vezes alienadas, mas que não se atualizam. O tal “dinizismo” na verdade é uma revolução, um desafio ao mesmo. Um enfrentamento ao medo e à acomodação no papel de cópia ultrapassada dos europeus, algo que já não funciona nem mesmo para dar a miserável alegria de adotar como sinônimo de êxito somente “o 1o lugar e a medalha de ouro”, considerando que o restante é lixo; mesmo que o desempenho esportivo tenha sido potente, belo e bem executado.
O neoliberalismo da era digital é devastador. Agora se tem os influencers clubistas, alguns deles jornalistas ávidos para moer o próximo “perdedor”, “aposentado”, “baladeiro”, “caso perdido”, quando não é o caso de mascarar a saudável rivalidade com o desejo de destruição do adversário.
Fernando Diniz, do Fluminense, é eleito melhor técnico da América por jornal uruguaio
Não entendeu?
Ora, o torcedor carioca que seca avidamente para um Vasco ou um Botafogo ser rebaixado gosta de competir, gosta do futebol esporte, ou goza com a frustração do outro?
É o gozo sem presença, ou, fazendo um trocadilho, o “gozar com o time do outro”.
Ahhh … “o futebol é assim mesmo […] é a rivalidade”.
Seria/será o fim da disputa, no esporte. Um mergulho no desejo da aniquilação do outro/adversário, sempre acompanhado do chavão “que é assim mesmo”.
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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista (membro da Associação Brasileira de Imprensa). Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU. Criador do Portal Fio do Tempo (YouTube).
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