PF intercepta troca de mensagens entre Cariani e sua sócia: "Arrumar a casa e fugir da polícia"
"Trabalhar no feriado para arrumar a casa e fugir da polícia". PF interceptou trocas de mensagens entre Renato Cariani e sua sócia. Os dois são proprietários da Indústria Química Anidrol. Delegado reforça que Cariani sabia do desvio de produtos. "Os sócios tinham conhecimento pleno de tudo. Há diversas informações bem robustas nas investigações que determinam a participação de todos eles de maneira consciente"
A Polícia Federal interceptou algumas trocas de mensagens entre Renato Cariani e sua sócia. As mensagens apontam, segundo o inquérito, que eles tinham conhecimento do monitoramento por parte da polícia.
Em uma das conversas, Cariani disse: “Poderemos trabalhar no feriado para arrumar de vez a casa e fugir da polícia”. Pelo contexto do diálogo, os investigadores dizem que o fisiculturista sabia que era investigado.
Em outra troca de mensagens, de acordo com uma representação do Ministério Público de São Paulo, a sócia disse a Cariani que era possível retirar rótulos dos produtos para ludibriar a fiscalização e as investigações.
O delegado Fabrizio Galli disse que Renato Cariani e sua sócia tinham “conhecimento pleno” do desvio de produtos químicos para a produção de crack. “Os sócios tinham conhecimento pleno do desvio de produtos químicos. Há diversas informações bem robustas nas investigações que determinam a participação de todos eles de maneira consciente. Não há uma ‘cegueira deliberada’ em relação a outros funcionários. Eles tinham conhecimento daquilo que estava acontecendo dentro da empresa”.
A droga produzida era distribuída para os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, segundo o delegado. Cerca de 19 toneladas de drogas teriam sido produzidas e os valores movimentados são incalculáveis.
Oscar Hinsberg que deu nome à operação, foi um químico que percebeu a possibilidade de converter compostos químicos em fenacetina. Essa substância foi o principal insumo químico desviado, apontou a investigação.
COMO COMEÇOU A INVESTIGAÇÃO
Dois depósitos que somam R$ 212 mil em uma conta da empresa Anidrol fundamentaram o início das investigações da PF sobre desvio de produtos químicos para a produção de crack.
Documentos mostram que a empresa biofarmacêutica AstraZeneca pediu à PF, em julho de 2019, a instauração de um inquérito policial sobre notificações que havia recebido da Polícia e da Receita Federal referentes a supostos depósitos e movimentações financeiras que teria feito para a Anidrol.
A primeira notificação ocorreu em 17 de abril de 2017, sobre supostas infrações administrativas cometidas pela AstraZeneca ao fazer movimentações não informadas, referentes a três notas fiscais emitidas pela empresa da qual o influenciador é sócio.
Já a segunda intimação foi enviada pela Receita à empresa biofarmacêutica em meados de fevereiro de 2018. O órgão questionava dois depósitos realizados em 2015 e 2016, nos valores de R$ 103,5 mil e R$ 108, 5 mil, à Anidrol.
A empresa do influenciador, ainda segundo o pedido de abertura de inquérito, teria informado à Receita Federal que havia vendido cloreto de lidocaína para a AstraZeneca. A biofarmacêutica nega.
“A AstraZeneca nunca manteve qualquer relação comercial com a empresa Anidrol, a qual não está cadastrada na relação de fornecedores da AstraZeneca, o que impede que qualquer pagamento tenha sido realizado em seu benefício”, disse biofarmacêutica.
No dia 10 de maio de 2019, a AstraZeneca teria recebido nova intimação fiscal sobre emails que a biofarmacêutica teria trocado com um representante da Anidrol. Um homem identificado como Augusto Guerra seria o colaborador da AstraZeneca.
Mais uma vez, a biofarmacêutica negou que tenha trocado os emails e que o representante tenha ligação com a empresa. A AstraZeneca ainda anexou ao pedido de inquérito um print de uma busca em um site de domínios IPs em que o endereço utilizado por Guerra aparece como de sua própria titularidade, desvinculado da empresa.
“O senhor Augusto Guerra nunca foi colaborador da AstraZeneca, o que reforça as suspeitas de que o nome e os dados da empresa AstraZeneca estão sendo utilizados indevidamente por terceiros”, disse a empresa.
Renato Cariani
Renato Cariani é um fisiculturista brasileiro com 7 milhões de inscritos em seu canal no YouTube — o que o torna o maior influenciador fitness do Brasil. Graduado em Química pela Universidade Metropolitana de Santos, ele exibe em suas biografias nas redes sociais que é professor de química, além de professor de educação física, empresário e youtuber.
Somadas todas as redes sociais, Renato Cariani tem mais de 13,6 milhões de seguidores. Ele se apresenta como coach e instrutor de condicionamento físico. O influencer costuma exibir detalhes de sua vida luxuosa nas redes, com diversos carros importados e mansões.
Renato Cariani também é sócio da Supley, maior fabricante de suplementos da América Latina, responsável pelas marcas Max Titanium e Probiótica. O grupo faturou R$ 830 milhões no ano passado, e a projeção é superar R$ 1 bilhão em 2023.