"Eu preciso levantar a bandeira da educação como elemento transformador da vida das mulheres. A educação é um empoderamento feminino de combate ao machismo"
Com FolhaPE e G1
Uma rotina com até 18 horas de estudo é o cotidiano de Jullie Dutra, de 38 anos, a primeira pessoa a ganhar o prêmio de R$ 1 milhão no quadro “Quem Quer Ser um Milionário”, no “Domingão com Huck”, neste domingo (10). Realizando cursos preparatórios para prestar concurso para diplomata, ela conta que não fez nenhum esquema especial para o programa.
Ao longo das oito temporadas da atração, ninguém – até então -, tinha conquistado a premiação. Jullie sempre viu na educação o caminho para ter uma vida melhor. Ela é mãe solo de Maria Helena, de 3 anos, que foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Jullie acertou 15 perguntas. A última era sobre o número da camisa usada por Pelé na Copa de 1958, quando o Rei do Futebol tinha só 17 anos. A resposta: a icônica camisa 10. Para acertar, Jullie ligou para a amiga Nerfetite Amanajás, que mora em Belém, no Pará.
A nova milionária é jornalista, tem uma agência de comunicação e estuda para ser diplomata do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores.
“Eu vivo para estudar. Sempre fui a nerd, o patinho feio da turma. Quando todo mundo estava na farra, eu estava estudando”, conta a jornalista nascida em Limoeiro e criada pela mãe e pela avó na cidade de João Alfredo, ambas no Agreste de Pernambuco. Seu pai foi assassinado quando ela tinha apenas cinco anos. Aos 18 anos, Jullie decidiu ir para Recife, onde estudou os dois últimos anos do ensino médio no Colégio Contato e fez matérias isoladas para se preparar para o vestibular.
“Minha mãe era professora das redes públicas estadual e municipal, em João Alfredo. Desde pequena consegui estudar em escolas particulares conseguindo bolsas”.
Assim ela chegou a cursar radiologia, no Recife, e medicina em universidades da Bolívia e de Cuba, antes de se formar em jornalismo pela Uninassau (Centro Universitário Maurício de Nassau) e fazer pós-graduação em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Ao longo dos quatro anos do curso universitário, Jullie conta que nunca parou de estudar. “Eu vivia em São Paulo, em congressos e foi quando conheci o projeto Repórter do Futuro, prestei a seleção e eles selecionaram 25 estudantes de jornalismo a dedo. Desse curso eu comecei a ter o sonho de ser correspondente internacional”.
Com o desejo em mente, articulou com um dos palestrantes, conheceu pessoas da ONU e da Cruz Vermelha e conseguiu viajar ao Haiti. Um ano depois de voltar de lá, publicou o livro “Caro Haiti“, sobre os momentos de antes, durante e depois do terremoto que marcou o país, em 2010.
A partir do livro, várias portas se abriram para a jornalista. Ela ganhou uma bolsa do Google para estudar jornalismo investigativo em Madri e estagiar no El Mundo. Porém, semanas antes de viajar, a mãe dela teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e veio a falecer. Jullie então entregou a bolsa e decidiu direcionar os planos para atuar em Pernambuco.
A experiência acendeu nela o desejo de entrar para a carreira diplomática, uma disposição ainda maior para os estudos e a ideia de se inscrever para participar do quadro no “Domingão com Huck”.
“Comecei a estudar ainda mais. Mas o custo dos cursos preparatórios é elevadíssimo. Comecei a correr atrás de bolsa, consegui algumas, mas não tenho todas. Agora, com o prêmio, vou conseguir estudar como se deve”, afirma.
Jullie diz que nunca duvidou de que ganharia. “Sempre soube que ia ganhar. Era uma certeza divina, minha fé. Me inscrevi em 2021 e não mudei meu foco. O concurso do Itamaraty exige até a alma”.
Segundo a nova milionária, a dedicação ajudou muito no resultado da competição. “Quase todas as disciplinas fazem parte do meu programa de estudos. Foi uma felicidade cair coisas que eu sei, como a COP [conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas], por exemplo”.
Com exceção das três questões em que usou o recurso de ajuda, Jullie afirma que tinha muita convicção de todas as respostas. “Não chutei nenhuma”, garante.
“Eu acho que não tem receita, mas eu tive a sorte e felicidade de navegar por tantas disciplinas que acabavam fazendo parte do cronograma de estudos do Itamaraty. Tem que ter pluralidade de conhecimento, de literatura a artes plásticas, passando por economia, por exemplo”.
A dica para quem quer ser um milionário como ela vem em seguida: “Todo mundo é capaz. Mas, além do conhecimento, tem que ter o fator sorte e usar estrategicamente as ajudas. Deixei os três recursos para o final”.
O valor ganho já tem destino certo, além de financiar os estudos para trilhar a carreira dos sonhos.
“A primeira coisa é dar uma casa para Carmelita, a minha mãe do coração. E quero tirar férias, que nunca tirei na vida. Sempre que fiz viagens de lazer, também estava trabalhando”.
Atualmente, Jullie mora em Salvador, na Bahia, e é CEO do Grupo Coros Comunicação, agência de comunicação e marketing que abriu em 2014, onde tem 14 colaboradores e cerca de 50 clientes espalhados em todo o Brasil. A agenda repleta de novos compromissos depois de ganhar o prêmio, Jullie ainda não tem ideia de quando as férias virão. Numa rede social, ela passou de 8 mil seguidores para mais de 150 mil, minutos após o final do programa.
“Não sei quando será nem para onde vou, mas preciso realmente parar”.
Antes de concluir a entrevista, ela pede para deixar um recado para as mulheres. “Quero que as mulheres não desistam dos sonhos. A gente precisa se agarrar com a educação, porque ela é ferramenta de transformação e é a maior arma de combate ao machismo. Uma mulher com educação consegue ir muito além”.
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