É importante que haja uma visão histórica minuciosa quando falamos de problemas relacionados com países como a Venezuela, pois a grande mídia, devido aos Estados Unidos, qualificam este governo como ditatorial e por isso, acreditam que quaisquer ações deste país, serão antidemocráticas e não terão apoio da população que não seja local, por isso, recomendo, que ao falarmos do país ou ao querermos ir a fundo realmente no que está acontecendo vejamos outros tipos de jornais, podendo até mesmo ser de direita, mas que estejam adequadamente preocupados com o que ocorre nos países latino-americanos.
Pois, ao falar do tema, estão trazendo o fato de que ano que vem haverá eleições (2024) na Venezuela e essa seria uma medida desesperada do presidente, Nicolas Maduro, que pode acabar perdendo. Esta afirmação é errada, por dois motivos muito simples: o primeiro, porque este território é um problema para o país desde que houve a independência venezuelana em 1811. Ou outro, porque Maduro tem em suas mãos a máquina estatal, a polícia e o exército, com a fama que já tem de ditador, realizar um golpe não seria nada difícil e uma opção em caso de derrota eleitoral. Portanto, este argumento é falho e nulo, não deve ser considerado de nenhum modo.
O que houve, foi que a região que hoje conhecemos como a Guiana, anteriormente era da Holanda e quando o a Venezuela ficou independente da Espanha, estabeleceu, para não haver problema, o Rio Essequibo como fronteira entre os dois. Mas, com os acontecimentos da Europa na época, a Grã-Bretanha tomou conta da região que antes era holandesa e sem se preocupar com a fronteira, já estabelecida, começou a tomar posse da região, que não estava sendo defendida, pois os venezuelanos estavam se recuperando da guerra de independência. Anos mais tarde houve um problema, entre o Reino Unido e a Venezuela, que reclamou pela região que era sua por direito, o que, acreditando ser um mediador, Estados Unidos, disse que resolveria e chamou a uma reunião extremamente imparcial, na que participou os Estados Unidos, o Reino Unido e um Russo, que era professor na Inglaterra, sem que a Venezuela fosse chamada, resultou que a região era britânica.
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Anos mais tarde, obviamente, o governo venezuelano avisou que não considerava a região e novamente a reclamou, mas dessa vez o Reino Unido estava buscando por meio do Acordo de Genebra, fazer a independência e tornar a Guaiana Britânica na Guiana o que foi feito em 1966.
O conflito se iniciou em 2018, quando a Guiana, que herdou o problema dos britânicos, perguntou para a ONU, se já haviam resolvido a decisão que haviam pedido em 1983, e que ainda não se sabia e como a organização já estava cansada do problema, considerou que a região era da Guiana por direito e obviamente isso incomodou o governo venezuelano, que começou a se preparar para uma resposta em 2020.
A região é rica em minerais e recentemente se descobriu que há petróleo no mar, esse que a Guiana já vendeu para uma empresa privada norte-americana e que está melhorando muito a economia do país, o que claramente abriu os olhos da Venezuela, pois agregar esta parte ao país, poderia ser a solução para a crise econômica que passa desde que Nicolas Maduro tomou posse.
O que está havendo, é que Nicolas Maduro é muito diferente de Hugo Chavez e está finalmente realizando a anexação desta parte, por vontade própria e por decisão do povo venezuelano, ao qual vinte milhões de pessoas votaram que aceitam tal anexação em um plebiscito recente.
Assim, o que vale deixarmos claro, é que o Essequibo historicamente é por direito da Venezuela, mas que a Guiana também não vai se desfazer do território que foi tomado quando ela nem era independente, pelos britânicos, por isso, o conflito que pode tomar maiores proporções, poderia ser resolvido por autoridades competentes da América Latina, para que cheguem finalmente a uma solução benéfica para as duas partes e que não acabe resultando em uma guerra regional.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol.