Maceió deixa luzes de Natal apagadas em parada LGBTQIA+: "Ficamos pasmos, tristes, porque o preconceito ainda é muito forte". O prefeito João Henrique Caldas (PL) não quis se pronunciar sobre o episódio
Carlos Madeiro, Uol
A Prefeitura de Maceió não acendeu a tradicional iluminação de Natal durante a parada LGBTQIA+ que ocorreu no último domingo (26) na orla da capital alagoana. O evento reuniu cerca de 40 mil pessoas, segundo a organização.
As luzes apagadas chamaram a atenção dos participantes, que fizeram imagens e postaram nas redes sociais. O prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), foi marcado em várias publicações, mas não se pronunciou.
Desligamento aconteceu por medida de segurança, informou a Prefeitura de Maceió. A justificativa é que havia um elevado número de pessoas na orla e o risco de choques elétricos.
“Foi estranho, ficamos pasmos. A orla estava lotada de turistas, e eles perderam a chance de ver aquela decoração bonita. Nós, do movimento, ficamos tristes, porque ainda existe o preconceito. O movimento deu brilho”, revelou Messias Mendonça, gerente de Articulação e Monitoramento de Políticas LGBT de AL e um dos coordenadores da parada.
“Total preocupação” com os acontecimentos na parada, declarou a OAB-AL. A manifestação foi feita por nota pela Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Alagoas.
Participantes da parada LGBT contestaram a versão da prefeitura. Muitos citaram o dia em que ocorreu o lançamento das luzes de Natal, que teria reunido mais pessoas do que o registrado na parada e todas as luzes ficaram acesas.
“O fluxo de pessoas na orla sempre foi intenso para visitar a iluminação e a árvore; essa justificativa, para nós, não vai colar. Foi um claro boicote mesmo”, disse a publicitária Gabrielly Argolo.
Alguns vídeos mostram a decoração sendo acesa logo após a passagem do trio elétrico da festa. A parada aconteceu no fim de tarde e começo da noite.
Segundo os moradores do local, as luzes de Natal da orla estão sendo acesas por volta das 17h. “Por volta das 20h, estava tudo completamente apagado. Conforme o trio passava, começaram a acender a iluminação aos poucos”, relatou Gabrielly.
“Pior foi perceber que, quando o evento passou, as luzes foram imediatamente acesas na parte em que já havia passado. Ficou a parte para trás acesa e a parte em que a parada transitava apagada”, desabafou Vanessa Duarte, jornalista e empresária.
No dia do lançamento das luzes e do “Natal de Todos Nós”, a orla ficou lotada. Segundo a prefeitura, foram espalhados mais de 150 mil pisca-piscas por 500 coqueiros da orla.
O que disse a gestão municipal
“Segurança e evitar choques”. Em nota, a Autarquia de Iluminação Pública de Maceió informou que os equipamentos foram desligados “visando resguardar a segurança da população e evitar choques elétricos, já que aconteciam dois eventos, reunindo milhares de pessoas simultaneamente na Orla de Maceió”.
“Mesmo com as placas, avisos e sinalizações, devido ao intenso fluxo de pessoas, havia o risco de eventuais acidentes”, alegou a Prefeitura de Maceió.
O que disse a OAB-AL
“É fundamental que as atitudes tomadas sejam revistas e devidamente apuradas, a fim de que situações como as que foram presenciadas no evento não sirvam para justificativa de violências generalizadas, uma vez que a eventual tentativa de enfraquecimento de uma parcela da sociedade representativa corrobora, invariavelmente, na negativa de direitos”, defendeu Marcus Vasconcelos, presidente da comissão da OAB.
Disputa política?
A parada 2023 teve apoio do governo de Alagoas, comandado pelo MDB. Em contrapartida, a prefeitura gerida pelo PL realizou outro evento, no bairro do Jaraguá, onde foi montado um palco com shows para receber o público após a parada.
Antes do evento, a prefeitura questionou na Justiça o horário e o local da concentração da parada e obteve uma liminar. A gestão municipal argumentou que já havia evento marcado no Marco dos Corais, na Ponta Verde.
No dia da parada, uma decisão judicial derrubou essa liminar. O juiz determinou que o evento seguisse o trajeto estabelecido previamente.
A prefeitura publicou em suas redes sociais que a programação de Natal estava cancelada neste domingo, “atendendo a uma determinação judicial”. O uso político do debate também foi visto com preocupação pela comissão da OAB.
“Reduzir o movimento – que é legítimo – às manifestações partidárias ou eventuais embates de ordem política contribui, efetivamente, em torná-lo ainda mais invisível, ocasionando ainda mais violências e omissões a uma comunidade que já luta todos os dias para ser vista, incluída e respeitada numa sociedade que historicamente já apaga suas luzes todos os dias, de forma simbólica”, explicou Marcus Vasconcelos, da OAB.
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