Devastação causada por colapso de mina da Braskem em Maceió é “nossa Chernobyl”, afirma um dos principais geólogos do Brasil. O professor reforça que se trata de uma "tragédia anunciada", já que houve diversos alertas desde a década de 1970 sobre as consequências da exploração naquela região. Lobby da Braskem no Congresso impede instalação de CPI
Para o geólogo e professor Pedro Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), as consequências da tragédia da Braskem em Maceió são comparáveis ao desastre de Chernobyl – acidente nuclear que aconteceu na Rússia.
“Dificilmente essas áreas poderão ser ocupadas. Talvez em algumas delas, após um monitoramento de vários anos, possa se constatar alguma estabilidade e poderão ser reocupadas, mas não vejo um futuro muito bom para essa área no sentido de reocupação e reurbanização. Teremos ali uma espécie de ‘Chernobyl brasileiro’. Ou seja: uma cidade que ficou desocupada por força de uma tragédia e pela dificuldade de se restabelecer a normalidade nessa área afetada”, afirma.
Em alerta máximo, a Defesa Civil de Alagoas estima que a cratera que pode ser aberta pelo colapso da mina pode ter cerca de 300 metros de diâmetro.
Cortês classifica o caso como uma “tragédia anunciada”, já que houve diversos alertas desde a década de 1970 sobre as consequências da exploração da mina naquela área. Para o geólogo, além da Braskem, o estado também tem parcela de culpa pelo desastre.
“É um escândalo histórico. Desde a implantação desse empreendimento, na década de 1970, o órgão ambiental do estado já recomendava a não aprovação da licença de mineração. O empreendimento foi iniciado por decisão de ofício do governador da época. As análises e os protestos vêm ocorrendo ao longo das décadas, mostrando o grande perigo que era esta exploração em uma área com processo de urbanização crescente”.
“Nada impediu que o empreendimento continuasse. Agora, temos essa tragédia anunciada. Não é algo que tenha ocorrido repentinamente. Estamos diante de uma dificuldade imensa pela remoção compulsória de milhares de pessoas e como indenizá-las. Espanta a divisão entre prefeitura e governo do estado, que sequer conseguem coordenar um gabinete de crise unificado”.
O ministro dos Transportes Renan Filho atribuiu à Braskem a “total responsabilidade” pelo desastre em Maceió, com o iminente colapso de uma mina de sal-gema. Ele compara o caso na capital alagoana à tragédia em Brumadinho e em Mariana, quando o rompimento de uma barragem da mineradora Vale causou 270 mortes em 2019.
Influência da Braskem sobre políticos impede CPI
A demora na instalação de uma CPI para investigar a atuação da Braskem no colapso iminente de uma mina de sal-gema em Maceió deve-se ao lobby da empresa no Senado.
“O lobby da Braskem está atrasando a instalação da CPI no Senado. O requerimento foi apresentado pelo senador Renan Calheiros e aprovado em meados de outubro, mas até o momento os partidos não indicaram quem serão os integrantes da comissão. Sem essas indicações, não há CPI, exceto se o presidente Rodrigo Pacheco escolher os nomes e enfrentar os líderes, o que não é o jeito dele”, afirmou o jornalista Tales Faria.
Tales chamou a atenção para o interesse da Petrobras em adquirir a parte da Novonor, sócia majoritária da Braskem, mesmo com um passivo ainda não calculado e todas as indenizações e compensações pelo colapso da mina em Maceió.
“No plenário, Renan apontou que é inequívoca essa relação entre o afundamento e as atividades de mineração do sal-gema pela Braskem. Chamou de ‘maior tragédia ambiental urbana do mundo’. Estamos em uma situação na qual uma empresa privada fez uma confusão geral na cidade, lucrou barbaridades e há a possibilidade de essa companhia sofrer insolvência se tiver que pagar tudo o que precisa. Aí vem o governo, com a Petrobras querendo comprá-la, e o prejuízo fica para a viúva”.