O título deste breve texto, “etarismo, clubismo e futebol”, aponta para uma escala de importância que está presente nas falas de alguns comentaristas esportivos brasileiros, que cobrem o futebol
Lucio Massafferri Salles*, Pragmatismo Político
O título deste texto, “etarismo, clubismo e futebol”, aponta para uma escala de importância que está presente nas falas de alguns comentaristas esportivos brasileiros, que cobrem o futebol.
O jornalismo esportivo brasileiro – que cobre o futebol – (ainda) é majoritariamente composto por homens intensamente apaixonados por esse jogo de bola.
Lembrando aqui que, o ardor da paixão costuma se alinhar com impulsos, parcialidades, desvairamentos e inibição da sensatez; senão coisa pior, dependendo de quem for.
Pois bem, alguns desse tipo indicado acima realmente parecem não conseguir deixar de pensar e agir como torcedores-clubistas-meninões. Formam uma espécie de jornalismo à imagem e semelhança da nossa seleção de futebol nacional/CBF, há décadas praticando um futebol que decai mofadamente sem encantar ninguém.
Em texto recente, destaquei como que a criatividade, o senso de inovação e a coragem do treinador Fernando Diniz vem incomodando diversas pessoas.
E penso que é bastante provável que vá incomodar ainda mais.
Brasileiro não gosta de futebol – gosta de ganhar
Tendo voz e espaço, esses torcedores de microfone refletem a relativa impotência de uma seleção nacional brasileira aderida a conceitos importados (e ultrapassados) que vem há algum tempo transformando o futebol brasileiro numa outra coisa, diferente e distante da bola com arte que se jogou por aqui durante décadas; desde o surgimento desse esporte no Brasil.
É isso aí.
A seleção brasileira de futebol já provocou muitos arrepios, medos e suspiros.
Já mostrou estilo de jogo criativo e ousado. Já jogou um futebol-arte competitivo, numa época em que se jogava bola sem tanta obsessão por marcar, anular ou destruir.
Vale dizer que hoje se tem muito mais grana em jogo. Muito mesmo.
Tem mais grana, também, fora dos gramados, onde torcedores são apostadores com chances de diminuir a frustração de ver o time jogar mal, ou perder, acertando os números de cartões ou escanteios de uma partida.
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Nessa onda de crise da bola e do jornalismo esportivo brasileiro, o etarismo entrou com toda força. E isso já não é de hoje.
Há pouco assisti a duas lives bastante impressionantes, no YouTube. Entre outras poucas coisas, nelas se condenavam contratações recentes, como as dos atletas Renato Augusto e Douglas Costa pelo Fluminense.
Cabe dizer que o choque nem foi tanto por essas “condenações”, que considerei bastante rasas devido à fraca fundamentação e a argumentação falaciosa.
Mas, por essas críticas ácidas terem sido proferidas com risadas, gargalhadas, entre os participantes. É impressionante notar como boa parte do público/da massa ainda é facilmente conduzido/iludida por falácias apresentadas com ar de ciência.
No que estamos nos baseando aqui para apontar essa falácia? Ora, vejamos: de acordo com o criterioso site Sofascore, a média de idade do elenco do Fluminense Football Club (clique e confira), hoje, é de 27,7 anos.
E apenas a titulo de comparação/reflexão, a média de idade do elenco do Palmeiras (SP) é de 25, 3 anos. A do Atlético-MG é de 28, 1 anos (mais alta do que a do Fluminense…). A do Internacional é de 27,3, quase igual a do Fluminense, e a do todo poderoso Real Madrid é de 27,4 anos de idade.
Numa dessas rodas de conversa se chegou a dizer que um jogador de futebol gabaritado como o Renato Augusto (35 anos de idade) chega ao Fluminense do Rio de Janeiro encorpando o “Lar de Idosos”, a “Casa de Repouso” treinada por Diniz e que é composta, também, pelo (eleito) melhor jogador da América (2023) Germán Cano, por Fábio, por Felipe Melo e pelo astro internacional Marcelo.
Em causa não estava nenhuma verdadeira expectativa quanto ao trabalho que deverá ser realizado para que Diniz treine e acerte um time com tantos atletas experientes/veteranos de alto nível, como é o caso. O mot era a galhofa e a construção de piada com a idade dos atletas.
Para quem não se apressa em concluir e curte observar, isso pode trazer à vista a intensidade do incômodo em se ter assistido Diniz e seus comandados conquistarem uma inédita Libertadores da América (no Maracanã), no mesmo ano (2023) em que esse “time de veteranos” desfilou inúmeras apresentações de alto nível; onde se inclui a goleada histórica sobre o Flamengo, que deu o bicampeonato carioca ao Fluminense, num domingo de Páscoa.
Em uma das lives, não satisfeito em dizer que Fernando Diniz treina uma “casa de repouso”, um “lar de idosos”, um dos torcedores de microfone incrementou o próprio preconceito e falta de respeito trocando alguns nomes.
Chamou de “lar de idosos” a Casa de Saúde Dr. Eiras, sendo essa um antigo manicômio (que nos deu um baita trabalho para ser fechado/desativado).
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Já passou da hora dessa parte específica do decadente jornalismo esportivo brasileiro, que cobre futebol, se reinventar, amadurecer, largar a infância apaixonada de meninões para quem futebol parece se resumir a “vencer para agradar ou tirar sarro/gozar com as caras dos coleguinhas”.
Há forte relação (ato-consequência) entre esse tipo de mídia infantilizada, o agressivo business que mói muita gente no meio da bola e a semifalência do futebol apresentado, há tempos, pela seleção brasileira. Com isso, o torcedor comum acaba adoecendo também.
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Enfim, concluindo com a nossa seleção nacional.
Ganha o Fluminense, agora que tem o Fernando Diniz somente para si.
E que Dorival Júnior tenha muita sorte, pois vai precisar. De preferência batendo com muita arruda e sal grosso.
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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista (membro da Associação Brasileira de Imprensa). Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU, realizou o seu estágio de Pós-Doutorado em Filosofia Contemporânea na UERJ. É criador do canal FluPress (YouTube).
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