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Racismo não 23/Fev/2024 às 12:13 COMENTÁRIOS
Racismo não

Censo mostra que esgoto revela racismo, assim como racismo vem do esgoto

Publicado em 23 Fev, 2024 às 12h13
Censo mostra esgoto revela racismo assim como racismo vem esgoto
Imagem: Minervino Júnior | CB

Leonardo Sakamoto, em seu blog

Não é apenas o racismo que vem do esgoto. Dados do Censo 2022, divulgados, nesta sexta (23), pelo IBGE, mostram que o esgoto também indica racismo. Estrutural, neste caso.

Os negros (pretos e pardos) representam 55,5% da populacão brasileira, mas são 68,6% dos que vivem em locais sem descarte adequado de esgoto.

Enquanto isso, os brancos são 43,5% do país, mas 29,5% dos que não contam com esgotamento sanitário decente. E nós, os amarelos, somos 0,4% do Brasil, mas apenas só 0,1% dos que não têm esgoto adequado.

Completam a lista os indígenas: 0,8% da população e 1,7% dos sem-esgoto.

Entende-se por descarte adequado tanto o esgoto que saiu por coleta em ruas e avenidas como as fossas sépticas.

O IBGE aponta que há uma presença proporcionalmente maior de negros e indígenas nas regiões Nordeste e Norte, onde os serviços de saneamento básico são mais precários. Lembrando que as dinâmicas que forjaram as desigualdades regionais brasileiras também incluem muito preconceito.

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Mas não é só isso: “Em todos os 20 municípios brasileiros mais populosos, a população de cor ou raça branca tem mais acesso a abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo do que a população de cor ou raça preta, parda e indígena”, afirma Bruno Perez, analista do IBGE. Ou seja, o padrão de brancos mais atendidos que negros se repete.

De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, divulgada em dezembro do ano passado, entre pretos e pardos, 40% eram pobres em 2022 – um patamar duas vezes superior à taxa da população branca (21%). Ou seja, a pobreza tem cor de pele no Brasil e sofre com as consequências disso.

O Brasil nunca conseguiu inserir socialmente e economicamente a população negra. Os descendentes daqueles trabalhadores escravizados do final do século 19 continuaram a ser tratados como cidadãos de segunda categoria, sofrendo todo tipo de discriminação, recebendo bem menos que os brancos pela mesma função, enfrentando as piores condições de trabalho – isso quando não são mortos por balas de traficantes ou milicianos ou executados por policiais ou militares nas periferias das grandes cidades simplesmente por ter a “cor errada”.

Também não estiveram, na maioria do tempo, entre as prioridades do poder público. Afinal, os interesses do Estado costumam ser atendidos por governos e parlamentos não pela quantidade de indivíduos de um grupo social, mas pelo tamanho de sua carteira.

O Brasil ser um país de maioria negra reforça o absurdo de eles serem minoria no Congresso Nacional, em governos estaduais e distrital, em ministérios e em tribunais. Mas também nas presidências e nos conselhos de grandes empresas, nas reitorias das universidades, na direção dos partidos políticos. E, claro, no direito de ter a merda escoada decentemente, evitando doenças e dores de cabeça.

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