Leonardo Sakamoto, em seu blog
Não é apenas o racismo que vem do esgoto. Dados do Censo 2022, divulgados, nesta sexta (23), pelo IBGE, mostram que o esgoto também indica racismo. Estrutural, neste caso.
Os negros (pretos e pardos) representam 55,5% da populacão brasileira, mas são 68,6% dos que vivem em locais sem descarte adequado de esgoto.
Enquanto isso, os brancos são 43,5% do país, mas 29,5% dos que não contam com esgotamento sanitário decente. E nós, os amarelos, somos 0,4% do Brasil, mas apenas só 0,1% dos que não têm esgoto adequado.
Completam a lista os indígenas: 0,8% da população e 1,7% dos sem-esgoto.
Entende-se por descarte adequado tanto o esgoto que saiu por coleta em ruas e avenidas como as fossas sépticas.
O IBGE aponta que há uma presença proporcionalmente maior de negros e indígenas nas regiões Nordeste e Norte, onde os serviços de saneamento básico são mais precários. Lembrando que as dinâmicas que forjaram as desigualdades regionais brasileiras também incluem muito preconceito.
Mas não é só isso: “Em todos os 20 municípios brasileiros mais populosos, a população de cor ou raça branca tem mais acesso a abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo do que a população de cor ou raça preta, parda e indígena”, afirma Bruno Perez, analista do IBGE. Ou seja, o padrão de brancos mais atendidos que negros se repete.
De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, divulgada em dezembro do ano passado, entre pretos e pardos, 40% eram pobres em 2022 – um patamar duas vezes superior à taxa da população branca (21%). Ou seja, a pobreza tem cor de pele no Brasil e sofre com as consequências disso.
O Brasil nunca conseguiu inserir socialmente e economicamente a população negra. Os descendentes daqueles trabalhadores escravizados do final do século 19 continuaram a ser tratados como cidadãos de segunda categoria, sofrendo todo tipo de discriminação, recebendo bem menos que os brancos pela mesma função, enfrentando as piores condições de trabalho – isso quando não são mortos por balas de traficantes ou milicianos ou executados por policiais ou militares nas periferias das grandes cidades simplesmente por ter a “cor errada”.
Também não estiveram, na maioria do tempo, entre as prioridades do poder público. Afinal, os interesses do Estado costumam ser atendidos por governos e parlamentos não pela quantidade de indivíduos de um grupo social, mas pelo tamanho de sua carteira.
O Brasil ser um país de maioria negra reforça o absurdo de eles serem minoria no Congresso Nacional, em governos estaduais e distrital, em ministérios e em tribunais. Mas também nas presidências e nos conselhos de grandes empresas, nas reitorias das universidades, na direção dos partidos políticos. E, claro, no direito de ter a merda escoada decentemente, evitando doenças e dores de cabeça.
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