América Latina

Como vencer a ascensão da direita na América Latina?

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Me parece interessante pensar no movimento que pode ser o espaço no qual foi organizado um evento de tal magnitude, que é a Jornada Latino-americana e Caribenha da Integração dos Povos, por ter sido sediada em Foz do Iguaçu no marco das três fronteiras, onde sempre lembro e um paraguaio também lembrou em uma exposição, que foi o protagonismo de uma ou se não a guerra mais sangrenta de nossa história, que foi a da Tríplice Aliança (é errado chamar de Guerra do Paraguai, pois culpa o país que mais sofreu por essa guerra, sendo que a culpa é sobretudo da Argentina e do Brasil), em se tratando dessa relação entre Paraguai, Brasil e Argentina, é um espaço em que se decidiu, após esse momento tão horrível de nossa história, criar um espaço de paz e de conciliação e ainda mais, de integração desses povos e que hoje se expande para outros países como exemplo de harmonia e paz. Exemplo concreto disso, é a criação da Usina de Itaipu e da criação da UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-americana, que dispensa comentários, pois o próprio nome já evidencia a sua intenção fundamental.

Diana Araujo Pereira – Reitora da UNILA

Quando falamos de união e integração, sempre lembramos desta região, que é uma parte importante para a paz no continente, por isso a escolha, assim como afirmou a reitora da UNILA, foi certeira ao definir esta localização como a do evento, além disso o prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro (PSD-PR), aceitou sediar o evento, por conta, também deste fator e entre outros, que não valem a pena serem comentados.

Me parece que por mais que as falar iniciais tenham tido um grande peso político, principalmente do prefeito, que não é tão próximo à esquerda ou às centrais sindicais, conseguiram em certa medida se colocar como “imparciais” e preocupados com a integração dos povos e não em discursos eleitoreiros sem sentido. Por mais, que eu quando vi o prefeito de Foz no palco, tenha pensado e necessitado pesquisar o partido que ele faz parte, porque pensei que era de algum partido de esquerda por estar ali. 

Nesse assunto, vale a pena que a jornada é por meio de centrais sindicais e estudantes, sejam eles membros da UNE, estudantes da UNILA, UNIOESTE e entre outras e milhares de sindicatos da América Latina que não irei conseguir nomear neste texto que carece de espaço para tal. Não é um evento eleitoral de partidos políticos. 

Saindo um pouco da temática do evento, foi feita uma exposição do povo Palestino, que sofre desde que o Estado de Israel se estabeleceu na região e que recentemente se intensificou a guerra de forma a que se decidiu exterminar os palestinos e que os povos ainda não haviam se preocupado tanto, mas parece que o último discurso de Luís Inácio Lula da Silva (PT), fez ressurgir das cinzas a preocupação dos povos, para o que se cria para o lucro de uns poucos e extermina a vida de uns muitos.

Mãe e filho (realidade da Palestina)

Ao ver uma mãe com sua filha no palco, chama muito a atenção dos participantes para o que ocorre na Palestina, deixando claro, que as vidas inocentes que estão sofrendo em território palestino, que o Estado israelense reivindica para ele, é algo extremamente violento, não estão mais interessados em atacar os terroristas que ali estão, mas em exterminar o povo que ali vive e isso, recentemente, vimos até mesmo o povo israelense contra, sendo protagonizados diversos protestos do povo, contra o que se está realizando. 

 

Leia aqui todos os textos de Danilo Espindola Catalano

 

Voltando ao tema, no primeiro dia, me pareceu que ao ver a mesa sobre a ascensão da direita na região, iria ver os povos latino-americanos preocupados com o nascimento de uma direita populista em El Salvador com Nayib Bukele, colocando até mesmo ênfase nessa forma de política, o que foi algo que vi com a apresentação de uma Argentina e com um comentário das políticas de Daniel Noboa no Equador de uma equatoriana, que não utilizou o nome, mas que esteve ali subentendido o que ela estava falando, que é justamente a cópia do presidente equatoriano da política salvadorenha contra o crime organizado, que foi também outro exemplo de algo que apareceu muito, mas acho que ai devo apresentar algo que uma menina brasileira comentou.

 

Pois a esquerda, está sempre vendo que os fenômenos existem, está sempre percebendo os problemas, mas nunca contextualiza e analisa academicamente, sempre carece de definições claras e bem formalizadas, até mesmo com o exemplo de uma apresentadora da mesa, que disse que o populismo é de esquerda, algo que é um erro conceitual importante de se corrigir, pois o populismo não tem um lado político definido e um conceito bem complicado de se definir e que não podemos dar juízo de valor para ele, por permear todos os lados de uma análise política.

Mas o que pareceu importante desse dia, foi a forma em que teremos que estruturar as análises que devemos ter sobre o capitalismo e a sua relação com as elites que se expõe em uma relação de destruição da democracia, por isso, devemos entender qual seria a luta que devemos armar, para poder mudar o que criamos após o fim da União Soviética, até porque, o que nasceu depois disso, hoje em dia, parece não estar mais chamando a atenção da população, que vive o dia a dia e depende do salário para a sua subsistência e não fica pensando em um sistema diferente, mas que o que tem para ver nas eleições e no sistema, é sempre mais do mesmo, o que já lhe deixou socialmente cansado e sem interesse em nenhuma proposta que se faz, ou, como estamos vendo recentemente, procuram se acercar a políticos que buscam o fim dessa lógica democrática de forma extremistamente de direita, como se essa fosse a única saída para as estruturas anteriores, sendo que na verdade não o é e as centrais sindicais e os movimentos sociais, devem se colocar para estruturar uma nova forma de atuar e agir, que mude o sistema dando ao povo, uma opção que seja de igualdade social e do como diz Francia Márquez-Mina: “vivir sabroso”.

Francia Márquez-Mina (Vice-presidenta de Colômbia)

A presença da vice-presidenta da Colômbia, fez os ânimos de quem estava participando do evento, aumentassem e até mesmo os corações começassem a bater mais fortemente, devido a sua importância tão representativa para a América Latina e o Movimento Negro, tanto colombiano, como ao movimento latino-americano dos afro-americanos (não, não são dos Estados Unidos). O que mais chamou a atenção em sua fala foi a de que devemos criar e incentivar mais o trabalho acadêmico nos países latino-americanos, para que os estudantes, parem de achar que é mais vantajoso ir para países nórdicos do que se manter no regionalismo, o que é também, um pensamento que apoio profundamente, pois somos capazes de muito sem precisar da muleta dos colonizadores ou dos norte-americanos.

Outro ponto apresentado pela vice-presidenta e que considero importante para os povos latino-americanos poderem finalmente terem confiança em seus políticos, é não se distanciar da base, não deixar de lado o que realmente é o político, como ela mesma faz ou até mesmo o ex-presidente José Mujica, que se mantem até hoje com seu fusca e sua casa simples, sem sair de sua verdadeira origem, porque se tornou presidente, pois o mais importante quando se é representante do povo, não é o cargo, mas sim a forma pela qual o político deve agir para ajudar aqueles que mais precisam, lembrando sempre, que tenha feito parte de quem precisa ou não, que esteve na pele do povo.

Por ter sido certeira e extremamente provocativa, finalizo com a apresentação do ex-candidato a vice-presidente da Argentina em 2023, Juan Grabois, que conseguiu com uma fala de trinta minutos, abalar os pensamentos e realizar grandes propostas para a integração latino-americana, principalmente com o projeto de uma moeda única para a região, fazendo com que os países parem de depender de economias externas para o seu crescimento econômico, que é um dos principais culpados das crises atuais na região.

Para finalizar, deixo aqui uma provocação aos leitores, se estamos diante de uma reviravolta da direita, qual a forma que devemos abraçar para alcançar a luta e poder transformar-se para que, aqueles ditos da extrema-direita, parem de chamar tanto a atenção para a população dos países latino-americanos. Qual o melhor processo e a melhor forma para os povos latino-americanos prosperarem de forma una e única, possibilitando o famoso buen-vivir?

 

 

Carta final do evento.

 

 

 

 

 
 
 
 
 
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol. Mestrando no Programa de Integração Contemporânea Latino-americana da UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-americana.
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