Estão fugindo do trio elétrico de Bolsonaro na Paulista
É saudável, porque anima a quaresma da extrema direita, o debate sobre o trio elétrico de Jair Bolsonaro. O trio provoca choques em quem chega perto, muitos dias antes da aglomeração do dia 25.
Perguntam-se até em Mambucaba, antevendo danos pontuais ou sequelas graves, se é razoável que um sujeito na situação de Bolsonaro convoque um ato com a dimensão pretendida e na Avenida Paulista.
É uma manifestação para, como ele anunciou, se defender das acusações que enfrenta. São mais do que acusações. São inquéritos e processos que contemplam um latifúndio do Código Penal.
É razoável que, cercado pelo sistema de Justiça, com o passaporte retido, sem direito de conviver com outros golpistas, Bolsonaro chame para o espaço público a turba que o considera injustamente investigado, denunciado, processado e até já condenado?
É aceitável que o próprio investigado acione o que seria sua base política e social, de tios e tias do zap, para afrontar a Polícia Federal, o Ministério Público e Alexandre de Moraes?
Seria razoável se gestos individuais ou coletivos demonstrassem apoio ao sujeito, como já vem acontecendo, principalmente na vida virtual. Mas não por convocação para ato presencial pelo próprio golpista, o que sugere reincidência na incitação ao golpe que não deu certo.
Imaginemos, numa situação semelhante, que um grande traficante, submetido a investigações e processos, com o passaporte cassado, chamasse seu povo da comunidade para se reunir na praça e criar um clima contra a Justiça.
Não é a mesma coisa? Não é. A situação de Bolsonaro é mais grave. O traficante tem ação restrita ao seu espaço geográfico. Bolsonaro é um ex-presidente golpista, que mantém o ativismo público e está exposto aos riscos que corre. Bolsonaro é um criminoso ainda impune e com amplo alcance.
O ato na Paulista peita o Judiciário e oferece fio desencapado a gente importante da extrema direita. Tem fio para todos, em toda parte, dependendo dos grupos que se formarão na avenida.
Os que chegarem perto de golpistas de segunda linha levarão choque de 220 volts. Quem se aproximar de Bolsonaro e seu entorno qualificado poderá ser carbonizado por descargas de alta tensão.
Vamos concluir, depois do ajuntamento, que talvez seja mais interessante identificar quem não foi, e não quem esteve presente. Os presentes poderão ser os óbvios de sempre, mas com desfalques memoráveis.
Teremos ausências como a do autoproclamado véio da Havan, que esteve com Bolsonaro até o fim e, segundo delação de Mauro Cid, sugeriu ao líder a radicalização do plano que levaria ao golpe. Desde a eleição, o véio é admirador radical de Lula.
Damares Alves, Jorginho Mello e Tereza Cristina já avisaram que não irão, segundo levantamento da Folha. Ricardo Nunes, Hamilton Mourão, Sergio Moro, Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior não se manifestam, ou seja, dificilmente vão aparecer. Moro poderá estar lendo uma biografia no dia 25.
O governador Tarcísio de Freitas será a figura mais vistosa, já com presença garantida, por fidelidade ao criador. O resto é golpista coadjuvante e figurante, mais a manezada e Silas Malafaia.
Quem tiver coragem de subir no trio elétrico ficará bem com Bolsonaro e com o espólio eleitoral que ele deixa. Mas estará exposto a prejuízos imprevisíveis, se algo não der certo ou se a aglomeração fracassar.
Uma fala, um gesto, um entrevero – qualquer movimento em falso pode acabar com a última festa de Bolsonaro antes de ir para a prisão. Porque a cadeia é inevitável.
A manutenção da liberdade de Bolsonaro por muito tempo será a condenação do sistema de Justiça, que permitirá a rearticulação do fascismo e a reconstrução de um cenário de terror para Ministério Público e Judiciário.
Não precisa ser uma Baby do Brasil para prever que o trio elétrico da extrema direita, dia 25 na Paulista, poderá ser apocalíptico.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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