Em 1º dia de julgamento, testemunha relata que vítima sofre com depressão e ansiedade desde que foi estuprada, não sai mais de casa e chora dia após dia; a mesma testemunha relatou que Daniel Alves ejaculou dentro da vítima e citou "atitude nojenta". Jogador pediu para mudar data de seu depoimento. Advogados de Daniel Alves alegam que ele está endividado e afirmam que o jogador é vítima de um "tribunal paralelo". Ministério Público espanhol pede nove anos de prisão
No primeiro dia do julgamento de Daniel Alves, prestaram depoimento no tribunal a amiga e a prima da jovem que acusa o jogador de estupro. Três funcionários da boate Sutton também falaram. Nesta terça-feira, são esperados 22 novos depoimentos, incluindo o da mulher de Daniel Alves, a modelo espanhola Joana Sanz, e de seu amigo Bruno, que estava com ele na ocasião.
Daniel Alves chegou à Audiência de Barcelona, palácio da Justiça no centro da cidade, por volta das 10h (6h em Brasília) e sentou-se na sala do julgamento às 10h29. Ele seria o primeiro a falar, mas teve seu depoimento transferido para a quarta-feira (7), o último dia do julgamento, a pedido da defesa.
Nesta segunda, a imprensa acompanhou as sessões em três salas no local, nas quais se podia assistir ao julgamento por meio de um circuito fechado de televisão. Credenciaram-se 270 jornalistas. Na saída, a advogada de defesa, Inés Guardiola, disse estar “bastante satisfeita” e que seu cliente havia sido muito corajoso ao enfrentar o tribunal.
A primeira pessoa a ser ouvida foi a vítima, mas não foi possível conhecer o teor de seu depoimento, já que o sinal interno foi cortado. Essa medida foi tomada para garantir a sua privacidade. Além disso, ela se sentou atrás de um biombo para evitar contato visual com Daniel Alves. Sua voz foi distorcida para que, mesmo no futuro, a filmagem não a possa identificar.
Sua fala, de cerca de uma hora e 15 minutos, foi seguida pelo testemunho de sua amiga e de sua prima, que a acompanhavam na boate quando o caso aconteceu. A amiga, que chorou algumas vezes durante o depoimento, iniciou detalhando o que fizeram naquela noite.
“Fomos jantar na minha casa e depois fomos para a zona de Tusset, para o [bar] Duplex, onde nos dão um desconto para entrar na Sutton antes das 2h. Estávamos dançando na parte geral da boate e, em frente, na mesma altura, fica a área VIP. Dois ou três mexicanos desceram e perguntaram se queríamos ir com eles para lá. Nós concordamos e fomos com eles, afirmou.
Na área VIP, “estava esse homem [Daniel Alves] de pé. Ele teve uma atitude nojenta, colocou a mão nas minhas costas e quase tocou na minha bunda. Minha amiga disse ‘ele tocou minha vagina’.”
Mais tarde, a prima da jovem lhe avisou “que precisavam ir embora”. “Ela me disse: ‘Ele ejaculou dentro, me machucou muito’. Eu a conheço desde os três anos e nunca a vi chorar daquele jeito. Nós três choramos, eu não sabia como reagir naquele momento”, explicou ela.
A testemunha disse que de forma alguma a relação de sua amiga com Alves foi consensual: “Ela não quis, não, não, não”. Questionada pela acusação sobre o que a denunciante lhe contou que aconteceu no banheiro, ela afirmou o seguinte: “Ele a agarrou e a jogou no chão e disse algo como ‘você é minha putinha’.”
“Ela não queria denunciar, realmente foi muito difícil. Ela estava em choque. Até hoje está muito mal, perdeu muito peso, está ansiosa. Reduziu seu círculo de amigos porque não confia em ninguém. Está obcecada com tudo isso, não sai de casa. Acha que todo mundo está olhando para ela e tirando fotos”, comentou.
Após uma hora de interrupção para o almoço, foi a vez da prima da denunciante. “Na mesa da área VIP estavam duas meninas, Dani [Alves] e Bruno [seu amigo]. No começo estava tudo bem, depois ficamos um pouco desconfortáveis. Dançaram muito perto de nós, houve momentos em que nos tocaram. Dani Alves colocou a mão na minha região íntima. Na minha prima também”
“Fui falar com ela e me disse que o Alves estava insistindo muito para que eles fossem para algum lugar. Ela não queria. Ela contou que Dani entrou por uma porta e achava que era uma sala para fumantes. Depois, me disse que precisava ir embora e saímos de lá”, afirmou.
“Antes de chegarmos à chapelaria, minha prima me disse que ele tinha machucado muito ela e que tinha ejaculado dentro. Um porteiro nos nos disse que tinha que ativar o protocolo e nos levaram para uma sala mais reservada. Ela disse que não queria denunciar, que queria ir para casa.”
A testemunha disse que, nesse momento, o jogador e seu amigo passaram por elas. “Ele não fez nada, continuou andando, foi embora. O Bruno me escreveu às cinco da manhã, me disse onde morava e que, se eu precisasse de alguma coisa, ele estaria lá. Respondi a ele, queria ser gentil caso ele dissesse alguma coisa.”
“Minha prima não dorme, ela começou a tomar antidepressivos. Não tomava nem paracetamol para enxaqueca. Ela mal sai de casa. Choramos dia após dia. … Não sei, é errado”, disse a prima.
Os três últimos a falar foram dois garçons e o porteiro da boate Sutton. O primeiro disse que, quando começou a atender Daniel Alves e seu amigo, eles já tinha na mesa uma “garrafa grande de champanhe, um litro e meio. O amigo do Dani Alves fez um gesto para mim e eu interpretei que era para convidar aquelas meninas. Me disseram não no início, mas depois pareceu que elas estavam pensando.”
Questionado pela defesa se viu algo fora do comum na área que atendia, afirmou que não. “Não sei. Vi pessoas se divertindo. Não me lembro de ter visto nada de estranho”, respondeu o garçom.
O segundo garçom disse que os dois amigos pediram “uma garrafa de Moët [& Chandon, um espumante francês] e depois uma maior.” “A porta do banheiro estava aberta. Quando o banheiro está aberto, a luz fica sempre acesa. A luz estava acesa, a porta do banheiro estava aberta”, afirmou, sem se lembrar de mais detalhes da noite.
Por fim, o porteiro da casa falou de quando as moças chegaram na saída, chorando. “Fui ver se estava tudo certo. Percebi que alguma coisa estava acontecendo com ela. Inicialmente, pensei que ele tivesse tido algum problema com um namorado, o que é comum em uma boate. O diretor da Sutton veio e se envolveu na conversa. Elas contaram que tinham tido um problema com o acusado.” Ele confirmou que, quando conversava com elas, Alves passou ao lado sem dizer nada.
O Ministério Público espanhol pede nove anos de prisão ao jogador. A defesa da mulher que denunciou o estupro queria uma sentença maior, de 12 anos de prisão. O julgamento deve durar 3 dias.
RELEMBRE OUTROS DETALHES:
Daniel mudou o depoimento três vezes. Na primeira vez em que falou sobre o caso, em um programa do canal de TV Antena 3, da Espanha, ele afirmou que nem sequer conhecia a denunciante. “Nunca vi essa senhora na vida”, disse, na ocasião. Essa entrevista foi feita no início de janeiro de 2023.
Dias depois, em um primeiro depoimento à polícia, ele disse que entrou no banheiro junto com a espanhola, mas negou que algo havia ocorrido.
Em 20 de janeiro, convocado para um segundo depoimento depoimento em uma delegacia de Barcelona, quando foi preso em flagrante, Alves disse que a jovem praticou sexo oral nele, porém de forma consensual. Ele mudou a versão ao ser confrontado pela polícia com imagens da boate.
Em 17 de abril de 2023, já preso, Alves declarou à juíza responsável pelo caso que manteve relações sexuais consensuais com penetração – àquela altura, exames periciais haviam encontrado sêmen do ex-jogador na espanhola. O brasileiro argumentou ter mentido, em um primeiro momento, para ocultar da esposa a relação extraconjugal, a modelo espanhola Joanna Sanz.
Em janeiro deste ano, a imprensa espanhola afirmou, com base em fontes da defesa, que Alves vai oferecer uma quinta versão em depoimento na quarta-feira, alegando que ele estava embriagado e, portanto, sem as suas faculdades preservadas.