Direita

Os jovens da extrema direita chegaram lá. E os jovens da esquerda?

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Imagem: reprodução

Moisés Mendes*, em seu Blog

Nikolas Ferreira e Caroline de Toni têm virtudes, lá pra turma deles, que as esquerdas perderam e a extrema direita esfrega na cara da democracia. São dois jovens na linha de frente do bolsonarismo, escalados para uma missão que os coloca em outro patamar.

Ambos deixam de ser apenas propagadores da retórica fundamentalista para se transformar em protagonistas de ações políticas dentro do Congresso. Nikolas, na Comissão de Educação, e Caroline, na Comissão de Constituição e Justiça, passam a agir talvez até mais do que falar e pregar. Chegaram ao primeiro time.

As esquerdas que não enfiam a cabeça na areia devem ver a ascensão de ambos não como uma provocação da extrema direita a Lula, como andam dizendo, mas como um movimento de aposta no que eles representam.

São os jovens e seus atrevimentos que farão pelo PL e pelo centrão o que Valdemar Costa Neto e a sua geração não conseguem fazer por conveniência política. Vão para a afronta aberta ao governo Lula, como operadores de sabotagens e não como provocadores, com os instrumentos que lhes dão acesso a grandes decisões do parlamento.

Saem das redes sociais para o embate duro, analógico, cotidiano, de ações que podem paralisar as pautas progressistas e da base governista e fazer avançar as da direita. Além de contribuir para a produção do que eles mesmos gostam de chamar de narrativas.

É um incômodo para as esquerdas por tudo o que significam. Nikolas tem 27 anos. Caroline tem 37 e está no segundo mandato. Com 33, foi vice-líder de Bolsonaro na Câmara.

Não há equivalentes à esquerda hoje, por mais que se procure, com esse ativismo ideológico e agora com essa representação de ponta reconhecida por suas lideranças, ou não teriam chegado onde estão.

Nikolas e Caroline são exemplos da capacidade de renovação da direita, enquanto mandatos e lideranças do PT e das esquerdas envelhecem e se repetem nos últimos anos.

Mesmo que o bolsonarismo seja um fenômeno com base social e núcleo de ativismo envelhecidos, como se viu na Avenida Paulista, há mais exemplos da geração de políticos com o perfil de Nikolas e Carolines na direita do que na esquerda.

Quem, num contraponto a Nikolas, subiria hoje aos 27 anos num trio elétrico ao lado de Lula, como o mineiro fez, como protagonista, ao lado de Bolsonaro na aglomeração de Silas Malafaia em São Paulo?

Ele foi o deputado mais votado de Minas em 2022, com um recorde nacional de 1.492.047 votos. Caroline de Toni foi escolhida por 227.632 eleitores, a maior votação de Santa Catarina.

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Ambos são do PL, que elegeu a maior bancada, com 99 deputados. Os dois têm o mesmo discurso golpista, armamentista, anticomunista, negacionista, antissistema e anti-Supremo. Levam adiante as mesmas pautas de costumes moralistas de combate ao aborto, à maconha e aos direitos humanos e com Deus, família e propriedade acima de tudo.

Ela briga desde 2020 contra as cotas para as candidaturas de mulheres nos partidos. Ao contrário do que seria considerado normal, é assim que fideliza seu eleitorado feminino ultraconservador e pretende ampliar o voto de mulheres ajudadoras dos maridos, e não só os votos dos homens.

Não são apenas apostas de futuro da extrema direita, são líderes em formação com tarefas práticas e funcionais bem definidas para o agora, dentro de um Congresso que nunca foi tão reacionário e nunca teve tanto poder.

Nikolas e Caroline farão pelo bolsonarismo o que Bolsonaro nunca fez no Congresso, como um dos deputados avulsos, sem turma e mais improdutivos da Câmara. Os jovens do PL têm turma e sentimento do interesse coletivo das facções políticas que representam.

E aí estão eles, como a primeira grande invertida do bolsonarismo, depois de um ano de perdas dramáticas. O fascismo entrega a dois jovens impetuosos a missão de conspirar e agir para que o governo não funcione.

É a realidade que constrange e desafia. Os ambientes de produção de líderes das esquerdas se encolheram, com a retração dos movimentos estudantis, comunitários e sindicais, enquanto as estruturas da direita se renovam, principalmente dentro das igrejas.

Guilherme Boulos e outras caras novas, essas mais recentes, com expressão nacional e regional, algumas com mandatos que expressam a luta identitária, são bravas exceções nesse ambiente religioso e militarizado em que interesses da Fiesp, da Faria Lima e de grileiros e garimpeiros se misturam.

Não reconhecer o alcance da ascensão de Nikolas e Caroline pode ser uma atitude confortável, no curto prazo, como autoengano. Mas será devastadora mais adiante, se as forças da democracia não souberem compreendê-los e enfrentá-los com os meios que a democracia oferece.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).

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