Declaração de Lula, em entrevista a César Filho, no SBT (foto), quando foi questionado sobre a permanência do clima de guerra entre ele e Jair Bolsonaro:
“Essa polarização é boa, se a gente souber trabalhar os neutros, para que a gente possa construir maioria e governar o Brasil”.
Lula disse não se preocupar com a polarização, porque sempre foi assim, desde o tempo em que, a partir da segunda metade dos anos 90, passou a existir o confronto PT x PSDB.
Claro que não era a mesma coisa, até porque, como lembrou o próprio Lula, o embate agora é dele com Bolsonaro. Lula tem o PT e do outro lado o sujeito não tem nem partido. O inelegível ocupou o PL de Valdemar Costa Neto como agregado.
É a verdade, mas uma verdade com outras faces. Como a que envolve a controvérsia sobre ganhos e perdas no fato de que o presidente da República continua citando Bolsonaro e admitindo que essa é uma briga boa.
E seria boa, como está lá na frase do começo, se conseguisse atrair para a sua base, para alargar apoios, os eleitores que o próprio Lula chama de neutros.
Só que esses neutros, que parecem indiferentes ou vacilantes em relação a posições políticas, que não votaram nem em Lula nem em Bolsonaro em 2022, porque não saíram de casa ou votaram em branco ou anularam o voto, esses neutros preocupam. Eles chegam somados a 23% do total dos eleitores.
Valter Pomar, em artigo no Brasil 247, mostra que a maioria das pesquisas recentes (Quaest, Atlas e Ipec) converge para dois dados que não ajudam o raciocínio de Lula.
O primeiro dado: Lula não consegue fidelizar o apoio de sua base como deveria, nesse primeiro ano de governo. E quem pode ser considerado neutro caminha na direção da extrema direita.
Leiam o artigo de Pomar (‘O que dizem as pesquisas?’), que é longo como deve ser uma análise com a ambição da profundidade. O resumo é este: a preservação da polarização teria, até aqui, favorecido Bolsonaro.
As outras controvérsias envolvidas nas pesquisas fazem parte de outros departamentos e têm provocado debates intermináveis. Como esse de que a percepção de bem-estar das pessoas teria mudado em relação ao que era até aqui, em decorrência da amplificação da manipulação de informações pelas corporações de mídia e das mentiras difundidas pelas redes sociais.
Mas essa é uma pauta para várias semanas de discussão. Leiam o artigo de Pomar, que ajuda a esclarecer e também a fomentar mais debate.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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