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O médico cardiologista Roberto Márcio Martins foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio após uma paciente morrer durante o procedimento de retirada do DIU (dispositivo intrauterino), na cidade de Matozinhos (MG). O homem está preso preventivamente (por tempo indeterminado) desde dezembro de 2023 por violação sexual mediante fraude contra seis pacientes.
O que aconteceu
Retirada ocorreu no dia 4 de novembro em uma clínica no centro do município que tinha alvará apenas para a realização de consultas cardiológicas. A vítima, Jéssica Marques Vieira, de 32 anos, foi sedada pelo médico que realizou o procedimento, mesmo em descumprimento de resolução do Conselho Regional de Medicina, que estabelece que a administração de anestesia deve ser realizada por um segundo médico. Além da retirada do DIU, a mulher também fez a coleta de material do colo do útero para biópsia.
Delegado narrou sequência de eventos. Após a finalização do procedimento, Jéssica apresentou uma piora no quadro respiratório e cardíaco. Mesmo com aplicação de “antídotos” da sedação, a mulher entrou em parada cardiorrespiratória. O médico tentou fazer ao menos 12 manobras de ressuscitação antes de pedir apoio aos socorristas da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Matozinhos, informou a Polícia Civil.
A Polícia Civil apurou que procedimento começou por volta das 7h30 e o resgate só foi acionado às 11h. “A equipe da UPA demorou apenas cerca de dez minutos para chegar. Foi realizado procedimento de intubação e diversas manobras de ressuscitação, sem sucesso. (…) Por fim, a vítima foi levada à UPA de Matozinhos, onde a morte foi constatada”, completou o delegado Cláudio de Freitas, responsável pelo inquérito.
Imagens de câmeras de segurança da clínica e confronto de depoimentos durante a investigação concluíram que o médico demorou para solicitar apoio do socorro. “A demora teria ocorrido com o objetivo de resolver a situação internamente e evitar problemas para o médico e para a clínica, que estava irregular”, destacou Freitas. O indiciamento foi por homicídio com dolo eventual, o que significa que apesar de não ter a intenção direta de matar, Roberto assumiu o risco para isso.
Causa da morte foi edema pulmonar. Uma perícia específica foi realizada e apontou que a associação de fatos, incluindo hipóxia (quantidade de oxigênio insuficiente nos tecidos) prolongada e efeitos adversos das medicações aplicadas, podem ter causado o edema e, consequentemente, a morte da paciente.
A reportagem tenta contato com a defesa do médico. O texto será atualizado tão logo haja manifestação.
Médico é indiciado por violação sexual
Médico é indiciado por violação sexual mediante fraude contra seis pacientes. O indiciamento, ocorrido em dezembro de 2023, aponta que os abusos teriam ocorrido durante consultas e exames. Em razão desses casos, o homem está preso.
Ontem, uma mulher que também seria vítima do médico procurou a delegacia de Matozinhos para relatar abusos semelhantes. Um novo inquérito foi aberto para apurar a denúncia.
Uma consulta ao portal do CFM (Conselho Federal de Medicina) apontou que o médico está com a situação de registro “regular”. A data de inscrição dele no CFM foi em 30 de janeiro de 1992.
Relembre o caso
Segundo o pai de Jéssica, Lino Antônio Vieira, 64, a filha nasceu com um sopro no coração. Por indicação de outros profissionais, passou a fazer acompanhamento cardiológico na Clínica Med, em 2011.
“Com o passar do tempo, o médico também passou a fazer os procedimentos ginecológicos na Jéssica. Pedia exames e indicou que ela parasse de usar a pílula e colocasse DIU. Como a Jéssica já tem um filho de 9 anos, ela aceitou”, contou o pai, em entrevista ao UOL em novembro de 2023.
Lino conta que o procedimento para colocar o DIU foi no dia 20 de outubro. Nesse dia, o médico percebeu que havia uma vermelhidão no útero de Jéssica e pediu mais exames. No dia 4 de novembro, Jéssica voltou à clínica, acompanhada do pai e do marido para fazer a retirada do dispositivo intrauterino.
Na época, a Prefeitura de Matozinhos, por meio da Secretaria de Saúde, disse que tomou conhecimento do fato a partir da solicitação de atendimento à UPA. Segundo a prefeitura, após os procedimentos de reanimação cardiopulmonar, foi constatada a morte. A Clínica Med Center foi interditada em novembro de 2023 pela prefeitura local, sob alegação de não ter alvará para fazer procedimentos ginecológicos, apenas cardiológicos.
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