No poder desde dezembro, o presidente da Argentina tenta destravar reformas neoliberais, mas vem encontrando resistência da população, que marca desagravo sobre os 100 dias de seu governo com protestos em massa
O presidente da Argentina, Javier Milei, completa 100 dias no cargo, nesta terça-feira (19), entre polêmicas e uma forma diferente de governar. Apesar de aprovar projetos que atacam direitos sociais e os trabalhadores, a principal marca tem sido os constantes protestos nas ruas, que têm sacudido as estruturas do país.
O pilar principal do plano de Milei para desregulamentar a economia consiste em um megadecreto que pretende revogar ou modificar mais de 300 normas. Assim como uma lei ônibus, que continha mais de 600 artigos na versão original. Mas os argentinos foram às ruas e os projetos sofreram derrotas no Congresso, onde o partido do presidente é minoria. A lei ônibus, por exemplo, fracassou. E o megadecreto foi rejeitado no Senado.
As derrotas mostram que Milei não conseguiu convencer a população e parte da classe política de que seu plano fará bem à Argentina. O programa está agora nas mãos dos deputados que devem revisar uma versão diluída da lei ônibus e tomar a decisão final sobre o megadecreto que permanece em vigor a menos que também seja rejeitado pela Câmara.
Explosão da pobreza
Pouco depois de assumir o poder, Milei partiu para o ataque social, suspendeu obras públicas, não renovou contratos estatais, liberou preços e desvalorizou o peso em mais de 50%. O que provocou inflação de 25,5% em dezembro, que desacelerou em fevereiro, para 13%.
A meta do presidente de atingir o déficit zero neste ano é mais ambiciosa do que o pedido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual a Argentina mantém acordo de crédito de US$ 44 bilhões. O outro lado das medidas é o da tensão social alimentada por demissões, aumentos de preços e aumento nas tarifas dos serviços públicos devido à remoção de subsídios. As taxas de pobreza foram levadas aos piores níveis dos últimos 20 anos.
Houve uma desvalorização abrupta da moeda argentina. E a liberação dos preços que vinham congelados pelo governo antecessor, de Alberto Fernández, fez com que os mais pobres pulem hoje refeições. Enquanto a classe média diminui a lista do mercado. Às vésperas do marco de 100 dias de governo, ontem (18), a polícia de Buenos Aires reprimiu violentamente manifestantes mobilizados contra os cortes e a política do presidente ultraliberal. Com o slogan “A fome é o limite”, a população protestava por assistência alimentar para refeitórios e mercearias comunitárias.
Manifestações reprimidas
Desde fevereiro, enquanto a lei ônibus era debatida, milhares de pessoas vêm protestando e sendo reprimidas pela polícia. Na mesma época, a entrega de alimentos às quase 40 mil cozinhas comunitárias foi suspensa pelo governo de Milei.
“Existem milhões de famílias que não conseguem comer uma vez por dia. Estamos enfrentando uma crise humanitária em termos alimentares, e o governo precisa rever a decisão de parar de financiar refeitórios e mercearias. Também decidiu não financiar as unidades produtivas da economia popular e reduzir os rendimentos dos trabalhadores e trabalhadoras da economia popular”, contestou o secretário-geral da União de Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular (Utep), Alejandro Gramajo, ao convocar a mobilização nesta segunda.
Os cortes também afetaram o orçamento das universidades, o apoio estatal ao cinema e a pesquisa em ciência e tecnologia.
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