Por que Robinho mereceu tratamento vip da PF em carro de luxo?
Não faz bem a ninguém, nem à extrema direita futebolística, a imagem mais reproduzida ontem sobre a prisão de Robinho.
É a cena de um carrão saindo da casa do jogador. Robinho não foi preso num camburão, mas num sedan preto Corolla sem símbolos da Polícia Federal (PF).
Por que um carro executivo? O carro não é da PF? É do jogador? O jogador não estava no veículo? Por que então esse é o único carro que sai da garagem da casa?
É uma imagem que provoca questionamentos, principalmente depois do impacto recente de outro vídeo sobre uma prisão.
É a cena com o motoboy Everton Henrique Goandete da Silva algemado e preso, em fevereiro em Porto Alegre, depois de uma briga com um morador do Rio Branco, bairro de classe média alta.
Testemunhas viram Everton ser agredido por Sérgio Kupstaitis com um canivete e reagir jogando pedras no homem. Quatro policiais da Brigada Militar chegaram ao local, cercaram, imobilizaram e algemaram o motoboy, enquanto o outro homem não sofria nenhuma abordagem.
Everton foi enfiado na gaiola para presos de uma viatura da BM, que chamam de cachorreira. O agressor foi convidado depois a sentar-se no banco traseiro de outro carro da Brigada. Everton é negro. O agressor é branco.
Ontem, quem se lembra dessa cena foi impactado de novo pela imagem do carrão que foi buscar Robinho em casa, como se prestasse um serviço de Uber para clientes vips.
Por que Robinho foi preso num Toyota Corolla sem adesivos que o identifiquem como carro da PF? Por negociação com os advogados?
É a realidade brasileira. Negro rico e celebridade é preso em carro de luxo, enquanto motoboys negros são enfiados em cachorreiras.
A posição de uma bolsonarista
Declaração da presidente do Palmeiras e atual chefe da delegação da Seleção Brasileira, Leila Pereira:
“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da Seleção Brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”.
Quem quiser que se engane com essa conversinha. Leila Pereira é bolsonarista e gostava de tirar fotos com Bolsonaro ao recepcioná-lo com alegria em jogos do Palmeiras.
Os estupradores que ela condena também são bolsonaristas, como são 99% dos agressores de mulheres.
Primeira mulher a chefiar delegação da Seleção Brasileira masculina, Leila Pereira fala sobre casos de Daniel Alves e Robinho e questiona mundo do futebol: “Não é possível que as pessoas não tenham empatia ao sofrimento dessas meninas” pic.twitter.com/PLvBLfwyZv
— ge (@geglobo) March 22, 2024
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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