As afinidades e dívidas de Eduardo Leite com a extrema direita
Eduardo Leite é um avatar produzido como imitação de Aécio Neves por um programa experimental de inteligência artificial da direita. Mas Leite não deu certo.
O tucano nunca é o que parece ser. Às vezes insiste que é um social-democrata, mas age afinado com a extrema direita. E os fascistas não o aceitam mais como um deles.
Esse dilema do ser ou não ser o atrapalha em situações banais. Em duas oportunidades, em meio à cheias que destroem o Rio Grande do Sul, Leite teve a chance de expressar grandeza e agradecimento e citar o nome de Lula.
Mas se encolheu dentro do colete laranja da Defesa Civil, usado como fantasia desde o começo da catástrofe. Primeiro, negou-se a citar Lula ao ser entrevistado por cinco minutos por William Bonner no Jornal Nacional. Não citou Lula e referiu-se de forma protocolar ao “presidente da República”.
Depois, na última sexta-feira, ao lançar seu programa de reconstrução do Estado, novamente não conseguiu citar Lula. E quem o denunciou desta vez, por não dizer o nome de Lula, foi a Folha de São Paulo.
Poderiam alegar que Leite não fala o nome do presidente por enfrentar agora a concorrência do que seria o governo paralelo comandado pelo ministro Paulo Pimenta. Mas o governador esnobou Lula muito antes de se saber que Pimenta seria o gestor federal no Estado.
Leite não cita o nome de Lula por um motivo aparentemente encoberto, mas óbvio demais: ele teme que, ao citar Lula, acione a ira da extrema direita gaúcha.
Leite sempre teve, desde 2018, quando se declarou eleitor de Jair Bolsonaro, o fascismo como parte da sua base política. Seu primeiro governo foi sustentado e compartilhado com líderes bolsonaristas.
Na tentativa de reeleição de 2022, ele quase ficou de fora do segundo turno, no enfrentamento com Onyx Lorenzoni, o candidato do PL e de Bolsonaro, e Edegar Pretto, candidato do PT.
Venceu Onyx no segundo turno, no dia 30 de outubro, com apoio maciço dos eleitores do PT e das esquerdas. No dia 5 de novembro, viajou a São Paulo e participou do 7º Congresso Nacional do MBL, ao lado de Kim Kataguiri, Danilo Gentili e Mamãe Falei.
Disse no evento que não iria “passar pano” para o governo Lula. Foi aplaudido como uma das estrelas do encontro e principal aliado dos kataguiristas no Rio Grande do Sul. Acomodava-se, uma semana depois de eleito com os votos das esquerdas, no colo da extrema direita.
Foram ingênuos os que achavam que alegaria um imprevisto e não iria ao congresso de Kataguiri. Leite quer o MBL, mesmo que esse esteja em duelo om os bolsonaristas, e quer fidelizar parte da base do espólio do inelegível.
Esse é Eduardo Leite. Quando estava em desespero, sabendo que só venceria Onyx com o voto declarado de petistas históricos, procurou Tarso Genro. O próprio Genro já contou que Leite pediu socorro. Outros líderes de esquerda, entre os quais Olívio Dutra e Manuela D’Ávila, pediram publicamente o voto para Leite.
Leite não é Onyx, mas tem parte da índole da extrema direita disfarçada nesse avatar que não deu certo. No começo da pandemia da Covid, quando Bolsonaro remeteu cargas de cloroquina para os Estados, foi um dos primeiros governadores a aceitar o remédio milagroso do negacionismo.
Distribuiu cloroquina com o suporte de prefeitos bolsonaristas, incluindo Sebastião Melo, de Porto Alegre. O site da Secretaria da Saúde do Estado informava, em abril de 2020, que os kits com cloroquina estavam à disposição dos municípios. Referindo-se ao que chamava de “tratamento”, o site afirmava que “os resultados preliminares são promissores”. Essa informação está lá no mesmo site até hoje.
Leite foi bolsonarista, cloroquinista e emebelista. E só se desplugou formalmente da extrema direita quando, depois da eleição de 2022, não conseguiu consertar as sequelas da disputa com Onyx.
Mas esse tucano fraco, de voos curtos, que não consegue dizer o nome de Lula, ainda tenta de todas as formas manter-se próximo do bolsonarismo, por ter percebido o que todos os outros pretendentes a 2026 já sabem. Sim, ele pretende ser um nome de ‘centro’ para 2026.
Ele, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado sabem que precisam herdar a base de Bolsonaro em disputa com Michelle. Leite não diz o nome de Lula para não se indispor com essa base.
O avatar de Aécio é essa figura que fala sempre no mesmo tom, no mesmo ritmo e sem passar emoção e empatia. Que tentou passar a perna em João Doria nas prévias tucanas para escolha do candidato em 2022. E que depois ajudou a destruir o PSDB na presidência do partido.
Leite é o pernóstico da direita, que privatiza, destrói leis ambientais e joga para a torcida do agro pop. Foi atacado esses dias por uma mulher religiosa que gravou um vídeo em que o acusa, por ser gay, de ter provocado “a ira do Senhor” e ser o causador da tragédia gaúcha.
Leite conhece bem, por ter convivido e compartilhado o poder com líderes do fascismo homófobo, muitos dos inspiradores desse tipo de gente.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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