Água, fezes, ratos e lixo brotam do chão de Porto Alegre. Bueiros estouram como furúnculos da cidade doente. Bairros das periferias, que já não contavam com recolhimento de lixo, como o entorno da Hípica, na zona sul, são grandes aterros de imundícies.
O centro da cidade e bairros pobres e ricos são aterros sanitários. Porto Alegre fede. As ações destrutivas acabaram com Porto Alegre. Não foi o negacionismo.
Não atribuam ao negacionismo o que é ação deliberada de sabotagem em nome do poder do dinheiro. Não ofereçam atenuantes aos criminosos definidos genericamente como neoliberais.
Há sabotagem contra o meio ambiente do entorno das cidades, de áreas rurais, rios, encostas. Sabotagem pela ocupação do solo urbano, da especulação imobiliária, do vale tudo em nome do poder econômico.
Não tem nada de negacionismo. O mundo é destruído, em Porto Alegre, Gramado, Petrópolis, Sorocaba, Salvador e Taquari por ações deliberadas de quem acha que conseguirá gerir os danos que provoca.
Tudo é ação destrutiva autorizada pelo poder político a serviço do poder empresarial urbano e do agro pop. Até os ratos sabem disso. Não é negacionismo. Parem com essa conversa de negacionismo. É um plano, um planejamento, uma articulação.
Mas como esse plano acaba conspirando contra seus idealizadores e executores? Porque muitos deles continuam achando que terão sempre o controle da situação. Que vão controlar os rios e suas margens degradadas. Que controlarão a destruição e as inundações das cidades.
Até o dia em que um dilúvio anuncia que nada mais tem controle. E temos então as mortes e os danos causados por ação deliberada, planejada, projetada, calculada de destruição. Uma destruição que eles consideravam gerenciável.
Porto Alegre implodiu porque Sebastião Melo e Eduardo Leite e seus cúmplices achavam que as ações destrutivas não têm um limite. Que gambiarras iriam resolver as sequelas que eles autorizam ou provocam.
Os ratos sabem que até os bueiros de Porto Alegre eram lacrados com cimentos, para nivelar as tampas com o asfalto. Tudo era enjambrado. Tudo é gambiarra. O muro alquebrado, os diques que estouram, a drenagem sem bombas. Porque a enjambração permitiria o avanço das ações destrutivas. Era possível gerir o caos.
Tudo o que foi destruído na parte de cima do Estado, na Serra, nos vales do Rio Pardo e do Taquari, tudo desagua em Porto Alegre. A morte desagua no Guaíba. E o Guaíba avisou que iria implodir a cidade.
O Guaíba não consegue absorver a destruição que vem de toda parte. A devastação exercida pelos macrodestruidores mundiais. Pelos médios destruidores nacionais e estaduais e pelos microdestruidores municipais de rios e solos.
A destruição é liderada pelos falsos negacionistas do aquecimento global. Não são negacionistas. São destruidores deliberados, planejados e organizados de todas as formas de vida.
Porto Alegre passa a ser um case mundial, por absorver as grandes e pequenas destruições de todas as esferas e de todo o entorno. É a cidade modelo de destruição a toda Terra, que nem a mais cruel distopia poderia ter imaginado. Não é negacionismo, é empreendedorismo criminoso e impune exacerbado pelo bolsonarismo.
A implosão da cidade pelas águas que brotam com ratos e merda é a vitória da realidade sobre a ficção. As águas podres infectam as ruas, mas até os ricos não têm água nas torneiras. O Guaíba se vingou de quem nem sabe direito se ele é rio ou lago.
Ele, com pronome pessoal, é o verdadeiro dono de Porto Alegre. Ele é quem pede para ser salvo, ou nada irá salvar a cidade.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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