Médico capixaba tinha ido ajudar as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul e foi encontrado morto em abrigo. Marido do cardiologista diz que ele era saudável e sem histórico de doenças: "Sempre cuidou da saúde. Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu"
O médico cardiologista Leandro Medice, de 41 anos, foi encontrado morto em um abrigo de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, na manhã desta segunda-feira (13). Ele estava participando da sua primeira missão humanitária.
Antes de viajar para o estado que foi atingido pela tragédia da chuva, o profissional compartilhou vídeos falando sobre o desejo em ajudar as vítimas das chuvas e disse estar “ansioso”.
“Ei pessoal! Hoje eu estou fazendo uma coisa diferente. Pela primeira vez, eu vou partir para uma missão humanitária. O Sul está precisando da gente. Então, saí um pouco da minha rotina, do conforto do consultório. A cirurgia acabou agora pouco, a gente já emendou. São 4h da manhã agora. A gente tá indo pra lá ajudar os nossos irmãos que estão precisando. Eu vou tentar passar pra vocês aqui a real situação que está lá até mesmo pra gente conseguir juntar mais forças pra ajudar o pessoal, que está precisando em meio a essa catástrofe no Sul. Assim que eu conseguir, eu mostro tudo que está acontecendo e vamos juntos nessa missão. Conto com a oração de vocês pra gente juntar forças e ajudar o máximo de pessoas que a gente conseguir”, disse na publicação.
Entre os comentários que Medice recebeu de incentivo ao trabalho, um deles foi da própria mãe, Andrea Medice. No domingo, quando ele viajou, era celebrado justamente o Dia das Mães. Ele deixou a mãe em casa para ir ajudar as vítimas da chuva.
“Que lindo!!! Deus os acompanhe e conserve esse amor em seus corações. Esse é um presente que jamais sairá das minhas lembranças. Feliz Dia das Mães para todas nós, mulheres guerreiras que conseguirão vencer mais essa batalha. Deus as abençoe”, disse a mãe do profissional na publicação.
Hábitos saudáveis
De acordo com o esposo de Leandro, o acupunturista João Paulo Martins, Medice trabalhou a semana inteira com cirurgias na empresa de estética capilar e organizou a viagem ao Rio Grande do Sul com um grupo de amigos, também médicos, em um jato particular.
No mesmo dia, Medice contou ao esposo que trabalhou o dia inteiro aferindo pressão e fazendo os primeiros atendimentos básicos para as vítimas da chuva na região.
Por telefone, Leandro contou ao marido, ainda na noite de domingo, após um dia inteiro de trabalhos, que foi recebido com muito carinho no abrigo. Disse que trabalhou o dia todo e que ia dormir para estar pronto para trabalhar nesta segunda-feira (13).
“Leandro roncava um pouco e, por isso, preferiu dormir mais afastado dos amigos. Me contou que era tudo muito organizado, que conseguiram um colchão muito limpo e que já estava com saudade de mim. Estávamos juntos há seis anos e disse que não lembrava qual tinha sido a última vez que tinha viajado sozinho”, contou.
O retorno do profissional ao Espírito Santo seria nesta segunda. No entanto, o marido de Leandro contou ainda que, ao amanhecer, o médico não apareceu no ponto de encontro no horário combinado com os outros profissionais. “Ele sempre foi muito pontual. As amigas foram até ele e já o encontraram morto”, relatou.
“Antes de dormir, mostrou o vídeo do nosso casamento às amigas que viajaram com ele e contou como tudo tinha sido maravilhoso. Esse foi o último assunto da noite, segundo as próprias médicas”, contou João Paulo.
“Ele era muito saudável, sempre cuidou da saúde. Nunca teve histórico nenhum de problemas. Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu. Quando me contaram, pensei que fosse brincadeira. Ele foi para ajudar as pessoas e aconteceu essa tragédia”, contou o acupunturista João Paulo Martins.
A morte do profissional foi confirmada cerca de 24 horas após ele ter viajado. Nas redes sociais, a mãe do profissional também compartilhou uma publicação, na qual disse que Medice teve um infarto fulminante.
Fake news atrapalham ajuda ao RS
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, afirmou que notícias falsas sobre a tragédia das enchentes no estado têm atrapalhado o trabalho de ajuda às vítimas.
“Já foram resgatadas mais de 60 mil pessoas por todas as forças, e aqui eu estou colocando todo mundo: não tem que ter diferença entre Exército, Marinha, Aeronáutica, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, os voluntários que estão trabalhando. Toda a ajuda é importante nesse momento, mas as fake News prejudicam o trabalho”, disse Paiva.
“As pessoas que estão ajudando também têm famílias, muitas vezes também estão deslocadas, só que não podem ir pra casa. Estão dobrando três dias, quatro dias, às vezes não têm tempo pra tomar um banho. Estão fazendo de tudo pra gente fazer o mais importante que é resgatar vidas, salvar vidas. A fake news desmotiva, espalha inverdade. Mas não podemos nos desmotivar com isso. Temos que estar o tempo todo mostrando o que está acontecendo e mostrando a verdade.”
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, também defendeu a apuração e punição de grupos que divulgam desinformação.
“As Forças Armadas e equipes de resgate da Defesa Civil estão exausta de tanta fake news. AGU e PF devem agir para identificar os agentes criminosos para impedir sua ação organizada para prejudicar os resgates e salvamentos”, disse Pimenta.