Inflação anual no país está estimada em 300%
Reuters
O número de sem-teto está aumentando nas principais cidades argentinas, à medida que as duras reformas do novo governo libertário de Javier Milei reduzem as pensões e os salários do Estado e aumentam os preços dos aluguéis, forçando mais pessoas à pobreza.
A última pesquisa realizada pelas autoridades locais mostrou que o número oficial de argentinos que dormem nas ruas de Buenos Aires chegou a 4.009 em abril, acima dos 3.511 do ano anterior. Esses números estão se repetindo em outros centros urbanos, como Córdoba e Rosário, enquanto Milei reequilibra o Orçamento do Estado a um custo altíssimo para a economia e para os mais vulneráveis.
Rocio Coman, que recebe uma pensão do Estado, está sem teto há vários anos. Ela descreveu a situação atual como um “desastre”.
Ela estava entre uma mistura de sem-teto e pessoas da classe trabalhadora que buscavam ajuda da Amigos en Camino”, uma instituição de caridade em Buenos Aires que patrulha as ruas distribuindo ajuda àqueles que lutam para se manter.
A organizadora da instituição de caridade Monica De Russis, 59 anos, que ajudou a administrar a Amigos en Camino nos últimos 13 anos, viu as condições piorarem. Muito mais pessoas “que têm um teto sobre suas cabeças” estão indo até eles porque “não ganham o suficiente”, disse Monica. “(Estamos) fazendo a nossa parte.”
Até o momento, a resposta do governo à crise dos sem-teto tem enfrentado críticas.
A ajuda a milhares de refeitórios populares foi congelada quando Milei assumiu o cargo em dezembro, enquanto seu governo tentava combater a corrupção no sistema de bem-estar social e agilizar o processo de fornecimento de assistência estatal.
Milei disse que quer acabar com “o negócio da pobreza”, mudando a forma como as instituições de caridade são usadas como intermediárias na distribuição de recursos para os necessitados.
Na segunda-feira (3), um tribunal argentino ordenou que o governo liberasse toneladas de alimentos destinados aos pobres que estavam armazenados enquanto se aguardava uma auditoria solicitada pelo governo.
No início desta semana, o porta-voz da presidência confirmou que recorrerá da decisão.
Comer ou se aquecer
Apesar de ter um emprego, Francisco Llamas, de 52 anos, está entre os que foram obrigados a recorrer aos bancos de alimentos para obter ajuda.
Sua conta mensal de eletricidade em Buenos Aires subiu de $ 1.100 pesos (R$ 6,50) para $12.000 pesos (R$ 70,50) em novembro, à medida que o governo começa a mirar nos subsídios dos serviços públicos e a implementar aumentos de impostos como parte de seu programa de austeridade.
Juntamente com a inflação anual de quase 300%, a escolha para muitos argentinos neste inverno é entre aquecimento ou alimentação.
“Sou uma pessoa que trabalha e não consigo chegar ao fim do mês”, disse Llamas, que ganha dinheiro cuidando de idosos. O governo de Milei “não está pensando muito nas classes média e baixa”, acrescentou.
No primeiro trimestre deste ano, cerca de 18% das famílias não conseguiam mais atender às suas necessidades básicas de alimentos e energia, em comparação com os 9,6% registrados no ano anterior, segundo relatório da Universidade Católica da Argentina (UCA).
As estimativas da UCA sugerem que quase 55,5% – ou cerca de 25 milhões de pessoas – viveram na pobreza durante os primeiros três meses do ano, um aumento de 10% em comparação com o mesmo período em 2023.
Milei está lutando contra um problema herdado de alta pobreza. O país sul-americano registrou uma taxa de pobreza firmemente acima de 25% nas últimas duas décadas.
Mas a pobreza aguda, segundo os ativistas, exacerbou-se sob Milei, cujas políticas para controlar a inflação de três dígitos estão melhorando as finanças do Estado, mas deixaram mais pessoas lutando para se alimentar.
De volta às ruas de Buenos Aires, Russis apontou para o risco de mais pessoas comuns se tornarem desabrigadas: “A escolha é entre pagar o aluguel ou comer”, disse ela.
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