Julian Assange declara-se culpado e isso muda o quê? Muda que ele sobrevive e escapa de morrer no cárcere, além de livrar as próprias democracias pela metade de britânicos e americanos do risco de carregar nas costas a morte dele na cadeia.
Assange ganha a liberdade e o mundo todo continua sabendo que ele fez o certo ao divulgar as atrocidades cometidas pelos americanos e seus parceiros de guerras, matanças e espionagens. Não há capitulação. O que há é a briga pela sobrevivência para continuar lutando.
O que muda é que agora muita gente que não sabia o que ele fez vai ficar sabendo. A libertação de Assange expõe ainda mais os crimes cometidos em nome de uma ‘democracia perfeita’ que pode permitir a volta de Trump ao poder.
As denúncias de Assange estão mais vivas e valem muito mais hoje do que valeram até aqui. O jornalismo covarde, que só tem sido valente em tempos de normalidade no Brasil, enxerga diante do nariz o dedo de Assange.
O jornalismo que se rendeu ao poder do fascismo, que teme Bolsonaro e seus asseclas, esse jornalismo deveria ter vergonha de divulgar a libertação de Assange.
Não é preciso buscar exemplos complexos para mostrar que o caso Assange criou uma armadilha para a imprensa brasileira defensora da liberdade de imprensa, desde que seja para atacar as esquerdas e Lula.
Uma prova desse desconforto foi dada, sem retoques, por Cesar Tralli, o comentador de banalidades e obviedades no Jornal Hoje da Globo.
O analista das platitudes pagou o mico de ter que ler no ar uma declaração de Lula, reconhecendo a bravura de Assange e defendendo a liberdade de imprensa, mas ficou quieto.
A libertação de um jornalista não mereceu comentários de uma das estrelas do jornalismo gasoso da Globo e candidato a sucessor de William Bonner no Jornal Nacional.
A Globo teve que divulgar uma nota do presidente da República defendendo o que a própria Globo deveria defender, se a conversa fiada da liberdade de imprensa fosse para valer.
O caso Assange desmascara o cinismo de corporações que não conseguem afrontar nem mesmo as linhas de montagem de fake news das big techs, porque o poder de empresas amigas não pode ser contestado.
Assange denuncia o cinismo de jornalistas que comentam sobre a importância da jardinagem para o meio ambiente, mas se negam, por covardia, a atacar os destruidores da Amazônia.
Assange fez jornalismo de enfrentamento dos poderosos e dos grandes criminosos em cargos de liderança. É ele que as escolas de comunicação devem estudar em sala de aula.
Tralli, que representa todas as omissões da grande imprensa, é apenas um tio fazendo comentários rasos, para escapar de pautas que deveria comentar. Mas um tio representativo de uma maioria omissa e medrosa.
Ninguém irá encontrar uma linha de subalternos famosos da grande imprensa em defesa de Assange. O jornalismo brasileiro das corporações nunca foi tão covarde como agora.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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