Amigos de Eduardo Cunha mandaram espalhar pela imprensa amiga, pouco antes de cassação do sujeito em setembro de 2016, que ele tinha 80 deputados na mão. Comiam e bebiam o que ele determinava que comessem e bebessem.
Era um blefe. Não tinha tanta gente para que pudesse contar com pelo menos uma base na casa, diante do cerco da Justiça por envolvimento com corrupção.
Não tinha nada. Foi sacrificado pela própria Câmara por 450 votos a 10, poucos dias depois do golpe contra Dilma Rousseff, que ele deflagrou e que abriu a porteira para o que temos aí.
Cunha não tinha o que Aécio Neves parece ter ainda hoje, dentro do Congresso e dentro do sistema de Justiça. É o que Arthur Lira pensa ter e Sergio Moro planeja que, se não tem, ainda terá.
Querem ter o suporte do espírito de corpo no Congresso, porque não interessa aos outros que um ou outro parceiro tombe diante deles, e o reconhecimento de que têm força política, por parte do Judiciário.
Aécio tinha o corpo fechado no Supremo que o protegeu. Moro tem uma armadura cheia de furos, mas está certo de que pode escapar. O sistema escolhe os que vão para a guilhotina e os que escapam, dependendo do momento.
Um congressista a caminho da morte política é ele e suas circunstâncias dentro da casa e no Ministério Público e no STF. Arthur Lira tem todo jeito de ser o melhor de todos, a mais bem acabada criatura entre as que se movem com a arrogância dos que acham que não correm riscos.
É o personagem acabado do velho toma lá, me dá cá, em sua versão século 21 das emendas secretas. A criatura que tem uma base que Cunha não tinha. Lira é um profissional único, o craque que Cunha gostaria de ter sido.
Já foi poupado pelo sistema de Justiça e está limpo no Supremo. Escapou de poucas e boas (kits de robótica e caso do assessor-mula com dinheiro na mala) e nem precisa mandar dizer a quem interessa que tem um poder que nenhum outro teve.
Tem a capacidade de arregimentar sua turma dentro e fora também do Senado para manter Alexandre de Moraes sob a ameaça de um impeachment.
Arthur Lira, que depende de quem vai sucedê-lo na Câmara para continuar manobrando todo tipo de manobra, é a força do novo coronelismo a ser ainda testada.
Lira sabe que o futuro dele não é o da maldição de Cunha, porque seus domínios são mais estruturados, em tempos que não são os mesmos de oito anos atrás.
Mas tem um desafio que se presenta a todos os que se metem em pântanos, fazem todas as concessões a seus monstros e patrocinam, mesmo que às escondidas, coisas do nível do PL do estupro e da anistia para os manés do 8 de janeiro.
O Congresso que degolou Delcídio do Amaral e Demóstenes Torres há horas não degola ninguém, nem vai degolar. Talvez dê um susto em Carla Zambelli.
E nós vamos continuar nos perguntando? Do que mais Arthur Lira será capaz, quando estiver fora da presidência da Câmara, mas com a ambição de continuar gerindo demandas diversas das facções do centrão e da extrema direita e extorquindo o governo?
O que ainda não sabemos das fraquezas de Arthur Lira que talvez venhamos a saber antes ou depois de ele deixar o trono, no início de 2025? Ou Arthur Lira é um homem sem fraquezas?
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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