A esquerda brasileira é latino-americana? Ela se integra às lutas dos povos da região?
Me deparo dia após dia pensando nisso, não consigo me distanciar desta questão, me parece que estamos isolados, não nos integramos as lutas, não fazemos parte delas, mas quando algo ocorre na Europa ou nos Estados Unidos, a esquerda se alia e se preocupa, o que parece, que a esquerda brasileira, é uma esquerda que se sente feliz em não mudar a lógica em que vive, e consequente, não se preocupa em seguir sendo colonizada e caracterizada por ser apenas um braço de tudo aquilo que nega.
E não venham, querer defender, aqueles que são da esquerda tradicional, dizendo que é a internacional comunista, que deve se seguir e falar do mundo todo, já lhes pergunto de antemão, então ser internacional é sair das Américas? Não existem países ao nosso lado, que também tem partidos comunistas? Fica a reflexão.
Mas deixemos estas questões de lado e pensamos em como a esquerda brasileira ao não integrar realmente aos contextos latino-americanos, passa por se tornar um pivô fundamental para movimentos de extrema-direita, como foi o caso de Donald Trump influenciando a vitória de Jair Messias Bolsonaro, na mesma época em que na Argentina ganhava Alberto Fernandez, no México, Andrés López Obrador e até mesmo na República Dominicana se mantinha um governo de esquerda desde os anos 2000, mas não, o importante foi se apegar ao contexto pentagonista (dos Estados Unidos), como se fosse um país semelhante e próximo a nós, o que levou não só a esta vitória, mas a outras que vieram na mesma “enxurrada”, pelo fato de os países vizinhos, (na contramão do Brasil), se espelharem nele para os contextos político-sociais.
Existe um paradoxo brasileiro na região, que se consolida com o fato de que não há relação entre as esquerdas regionais, mas há uma relação das esquerdas com a brasileira. O que caracteriza vitórias como a de Gabriel Boric no Chile e a de Javier Milei na Argentina, sendo uma resultado de uma influência brasileira da esquerda e a outra da direita.
Pensando no momento atual e nas eleições regionais, o Brasil deveria estar de olho, pois as direitas que ganharam são muito diferentes e surpreendentemente tiveram apoio da direita brasileira, que anda percebendo a necessidade de sua presença em saber o que está acontecendo na região, seguindo os passos de Nayib Bukele, que se contextualiza em se tornar uma direita menos entreguista e mais descolonial, o que parece um fenômeno extremamente estranho, mas que é o que estamos vendo recentemente por conta do contexto que estamos presenciando em que a direita está vendo a necessidade de criar algo claramente latino-americano, enquanto a esquerda ainda fica com a questão colonial, abraçando Rússia e China, como se fossem países fronteiriços e não como grandes potências interessadas em aumentar ainda mais o seu poder.
Até porque com a minha vivência dentro do Partido Comunista do Brasil, só vejo interesse em criar cursos sobre o pensamentos marxista, sobre a história da Rússia, sobre a China, sendo que nossos vizinhos, são extremamente importantes e ja criaram pensamentos analisticos com base em tudo isso, é o caso de Juan Bosch e José Carlos Mariátegui, que como intelectual peruano, trouxe as ideias marxistas para o contexto latino-americano e seria importantíssimo para os cursos, tornando tudo isso palpável a nossa realidade.
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Quando pensava nesse contexto, algo me dava esperança, que era a ideia de que o brasileiro se importa com Cuba, mas isso é o mínimo, não chega a ser nem um pouco a forma e a importância que sente com a ilha, é para a compra de bonés, camisetas ou qualquer outra bugiganga, não vejo a esquerda indo para Cuba ajudando o Miguel Díaz-Canel nos protestos desestabilizadores, mas vejo ela atuando igual atuou com Fernando Lugo no Paraguai, quando em 2012 ele sofreu um golpe parlamentar, (da mesma forma que Dilma 4 anos depois), mas que quando era para o ex-presidente paraguaio se calou diante do fato.
No contexto atual: vejo com falta de otimismo as esquerdas brasileiras que tendem a defender uma hegemonia de mudança de agente colonial do que uma emancipação efetiva de qualquer poder externo à região latino-americana, aprendendo com os peruanos, por exemplo, a pensar em um contexto ligado aos indígenas do país ou aprendendo com o zapatismo no México e criando uma sociedade rural igualitária, se vê abraçando as atitudes da China ou da Rússia e aceitando de bom grado a colonização por parte deles e assim, o que não leva ao fim da colonialidade, (que está ao lado da direita com os Estados Unidos e Europa), mas faz com que dentro da lógica de dominador e dominado, ser simplesmente os seus agentes e nada mais.
Se continuar assim, veremos um contexto ainda mais profundo da lógica colonial dentro do contexto brasileiro, que deve ser considerado, até porque não podemos mais mudar de agente colonial e continuarmos sendo colonizados em nossas atitudes, economia e política, temos que começar a andar com os “próprios pés” e se não nos cuidarmos, poderá a onda Bukele na região fazer com que a direita tome essa posição antes da esquerda, até porque a atitude deste presidente salvadorenho é justamente essa, mas ele é abominável e pode, sem nem percebermos ser um espectro que ronda a nossa volta, pois está aí, ele foi reeleito e continuará no poder de seu país.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol. Mestrando no Programa de Integração Contemporânea Latino-americana da UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-americana.