O Globo finalmente fez, mesmo que de forma enviesada, a pauta que Lula sugere todos os anos. Lula repete, como repetiu em fevereiro último, na festa de refiliação de Marta Suplicy, que o PT se acomodou e envelheceu.
Porque, entre outros motivos, seus quadros e lideranças se apegaram demais a mandatos, à verba partidária e a cargos públicos.
É uma pauta para os jornais e para o próprio partido, que não sabe lidar com esses incômodos. O Globo cumpre parte da pauta, a partir da ideia de renovação ligada à idade.
É uma abordagem que foge da provocação mais ampla feita por Lula, quando a renovação independe do fato do quadro ou do líder ser jovem, maduro ou idoso. Que se trate a renovação no sentido de caras e instigações novas mesmo.
A conclusão do jornal, pelo menos quanto à idade, tem aparecido desde a eleição de 2022: a baixa renovação do PT na Câmara, enquanto a direita se renova.
Por que são mais velhos? Porque são quase sempre os mesmos, nos mesmos mandatos. Alguns poderão dizer: mas Lula é a prova da não-renovação. Sim, ele mesmo admite que é.
Compartilho abaixo os trechos do começo da reportagem do Globo. O jornalão fez a sua parte, mesmo que com uma abordagem pela metade e etarista. O PT, nas internas, vai continuar refugando esse debate?
PT vê parlamentares envelhecerem, enquanto PL e PSOL rejuvenescem; confira idade média de cada partido
Guilherme Caetano, O Globo
Partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a maior idade média entre as bancadas da Câmara dos Deputados
Quatro décadas depois de eleger seus primeiros candidatos e à frente da Presidência da República pela quinta vez, o PT enfrenta um dilema.
Na medida em que o seu maior líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproxima dos 80 anos de idade, a legenda tem envelhecido junto com ele e tido dificuldade de se renovar.
O novo perfil petista pode ser observado na bancada de 68 deputados federais. O PT é hoje o partido mais “sênior” da Câmara — a bancada tinha uma idade média de 55,7 anos ao tomar posse em 2023, acima da média geral. O levantamento do GLOBO levou em conta todas as siglas com mais de dez assentos na legislatura atual: são 12 partidos somando 466 parlamentares.
Atrás do PT vêm PDT (idade média de 54,5 anos na data da posse), PSDB (53,3), PSB (51,1), PSD (50,9), PL (49,5), PP (49,4), Republicanos (49,3), MDB (48,5), União Brasil (47,6), PSOL (47,2) e Podemos (45,2).
Quando chegou pela primeira vez à Câmara, em 1983, o PT era conhecido pelas jovens lideranças ligadas a movimentos sociais, como Luiz Dulci (27), José Genoino (36), Eduardo Suplicy (41) e Lula (37), então candidato derrotado ao governo de São Paulo no ano anterior.
Os seis parlamentares da primeira bancada eleita tinham uma idade média de 39,7 anos. O mais velho era Plínio de Arruda Sampaio, então com 52. Metade da bancada era de “vintões” e “trintões”.
O cenário mudou radicalmente. Em 2023, a ala com menos de 40 encolheu para 13% da bancada. Os quinquagenários são basicamente um terço, 32%, os sexagenários, 30,8%, e os septagenários, 7%.
Enquanto isso, o PSOL tem dado espaço para lideranças jovens na esquerda. “Quarentona”, a bancada federal tem hoje a menor idade média entre os partidos de esquerda, e é mais diverso em termos de raça e gênero. Desconsiderando Luiza Erundina (SP), que aos 89 anos desloca a média para cima, a bancada psolista teria 43,8 anos, similar à segunda bancada eleita do PT, de 1987 a 1990.
A falta de renovação de lideranças nacionais empurra o PT para um beco. Em 2018, quando Lula estava preso e precisou lançar Fernando Haddad à Presidência em seu lugar, as alternativas para oxigenar a esquerda nacional vinham de outros partidos: Guilherme Boulos (36 anos naquele ano), no PSOL, e Manuela d’Ávila (37), no PCdoB.
O estado de São Paulo, berço do PT, é símbolo da dificuldade do partido em se renovar. A bancada paulista, com uma idade média de 60 anos, ainda é dependente de um dos seus mais antigos quadros, Eduardo Suplicy, para conseguir votos. Aos 81 anos, ele foi o deputado mais votado do PT no país em 2022.
A baixa renovação chegou a tal ponto que Thainara Faria, empossada aos 28 anos, é a única abaixo dos 50 entre os 18 eleitos do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo. Na Câmara dos Vereadores da capital paulista, ninguém além de Luna Zarattini (hoje com 31) tem menos de 40 anos na bancada petista. A escassez é tanta que, pela primeira vez na história, o PT não lançou candidato à Prefeitura de São Paulo e apoiará Boulos.
Juventude conservadora
O PL, que abriga o ex-presidente Jair Bolsonaro e é a maior força de oposição ao PT, tem uma idade média inferior a 50 anos. Apesar de associado ao eleitorado idoso, o bolsonarismo tem sido capaz de se renovar mais que o partido de Lula. Os “vintões” e “trintões” correspondem a 21,2% da bancada.
O deputado federal mais votado do país (1,47 milhão) é o mineiro Nikolas Ferreira (PL), militante radical que tomou posse aos 26 anos. Com 11 milhões de seguidores no Instagram, ele é considerado um dos maiores ativos do bolsonarismo no diálogo com jovens conservadores.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… Saiba que o Pragmatismo não tem investidores e não está entre os veículos que recebem publicidade estatal do governo. Fazer jornalismo custa caro. Com apenas R$ 1 REAL você nos ajuda a pagar nossos profissionais e a estrutura. Seu apoio é muito importante e fortalece a mídia independente. Doe através da chave-pix: pragmatismopolitico@gmail.com