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Bolsonaristas pediram boicote às Olimpíadas após cerimônia de abertura, mas não param de falar da boxeadora argelina

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Bolsonaristas se declararam indignados com a cerimônia de abertura das Olimpíadas e fizeram campanha pelo boicote aos Jogos de Paris. A iniciativa, porém, durou pouco, pois eles não param de falar sobre a boxeadora argelina Imane Khelif. A atleta vem sendo alvo de desinformação nas redes, com posts que alegam que ela é transgênero, quando na verdade a boxeadora é uma pessoa intersexo

Imane Khelif. Ao lado, imagens dela quando criança

A boxeadora argelina Imane Khelif conseguiu fazer com que os apoiadores de Jair Bolsonaro quebrassem a promessa de boicote aos Jogos Olímpicos de Paris. Nas últimas 24 horas, Nikolas Ferreiras, Eduardo Bolsonaro e sua turma não falam de outra coisa.

Imane Khelif vem sendo alvo de desinformação nas redes, com posts da extrema-direita brasileira alegando que ela é transgênero. A boxeadora, na verdade, é uma pessoa intersexo.

Imane nasceu com uma condição em que tem órgãos genitais femininos, mas tem cromossomos sexuais XY, com níveis de testosterona no sangue elevados. A boxeadora se identifica como mulher. A situação é diferente do transgênero, quando a pessoa não se reconhece no sexo que nasceu.

Além disso, diferente do que espalharam os bolsonaristas, a italiana Angela Carini, que desistiu da disputa com menos de 50 segundos de luta, não deixou a competição por causa da condição de Khelif. Em entrevistas, ela disse que desistiu por causa de dores no nariz.

Intersexo

O termo intersexo é abrangente e usado para descrever uma ampla gama de variações corporais nas características sexuais inatas. Assim, segundo a Abrai e o Escritório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), as pessoas intersexo são aquelas que têm características sexuais que, desde o nascimento, não se enquadram nas normas médicas e sociais para corpos femininos ou masculinos.

Essas características podem estar relacionadas a cromossomos, órgãos genitais, hormônios, entre outros. Em algumas pessoas, as características intersexo são perceptíveis logo no nascimento; em outras, podem surgir na puberdade ou ficarem aparentes apenas em fases mais tardias da vida.

Uma pesquisa da ONU estimou que entre 0,05% e 1,7% da população mundial nasce com características intersexo — o que pode significar até 3,5 milhões de pessoas apenas no Brasil.

Diferente do intersexo, as pessoas transgênero não se identificam com o gênero de nascimento. Não há uma questão física, como ter os dois cromossomos, por exemplo.

Uma pessoa intersexo, portanto, pode ter um corpo identificado como classicamente o de uma mulher, com seios, vagina e útero, e ter um par de cromossomos XY (geralmente, pessoas designadas mulheres ao nascer têm cromossomos XX). Mas essa não é a única expressão que uma pessoa intersexo pode apresentar.

Com frequência, quando é possível identificar que o bebê é intersexo, os pais submetem a criança a procedimentos para “corrigir” essa característica. Hoje, contudo, essa prática é questionada por organizações de saúde internacionais.

O OHCHR descreve os traumas físicos e psicológicos que podem estar implicados nesses métodos: “crianças intersexo são frequentemente submetidas a cirurgias e outros procedimentos para tentar fazer com que sua aparência se conforme a estereótipos binários de sexo. Esses procedimentos, muitas vezes irreversíveis, podem causar infertilidade permanente, dor, incontinência, perda de sensibilidade sexual e sofrimento mental por toda a vida, inclusive depressão”.

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