É previsível que a ordem de prisão de Gusttavo Lima acione a face mais pessimista dos brasileiros. Porque o sujeito tem muito dinheiro e conta com o suporte da estrutura de poder da extrema direita.
A primeira manifestação de pessimismo é a mais óbvia: se for de fato preso, por quanto tempo o cantor ficará encarcerado? Se tiver pedido de habeas corpus negado em primeira instância, Lima poderá ser beneficiado pelas altas cortes?
(Por acaso, no mesmo dia em que a prisão de Lima era decretada, o Tribunal de Justiça de Pernambuco determinava a soltura de Deolane Bezerra, investigada no mesmo caso de lavagem de dinheiro de empresas de apostas. Enquanto isso, Lima fugia de jatinho para os Estados Unidos.)
A segunda dúvida também tem fundamento, por mais absurda que pareça. A juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do Recife, que determinou a prisão do sertanejo, é a mesma que mandou prender Deolane.
Como as previsões são de que, com a prisão de Lima, todo o esgoto desse mundo sertanejo poderá ser exposto, a juíza terá força para continuar no cargo? Até porque, acreditem, já está sendo denunciada pela Folha como uma magistrada autoritária.
O que acontecerá quando, pelas suspeitas da própria juíza, forem reveladas as conexões do cantor com o crime organizado? E quando surgirem evidências das relações de prefeitos e políticos da extrema direita com o esquemão dos artistas vinculados ao bolsonarismo?
Se a estrutura do esquema for desmontada, não há como desvincular shows, cachês e outros desvios do ambiente criado pela extrema direita para faturar com esse e outros Gusttavos Limas, não só da área dos novos sertanejos.
Quem ainda está em dúvida sobre o tamanho desses rolos, que leia reportagem de Vinicius Segalla, no DCM, sobre um desses casos, em Tocantins, com o uso de verbas públicas para patrocinar uma banda de piseiro, que mistura forró e sertanejo com outros ritmos.
A reportagem foi censurada por uma decisão da Justiça de primeira instância e liberada, nessa segunda-feira, por ordem do ministro Gilmar Mendes.
Link a seguir: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/enriqueceu-com-os-baroes-da-pisadinha-leia-reportagem-que-deputada-bolsonarista-censurou/
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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