Esquerda

A derrota da esquerda foi maior do que se esperava

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Imagem: Rovena Rosa | Agência Brasil

Certa vez, Maria da Conceição Tavares disse que “ninguém come PIB, come alimentos”. No país que mais produz alimentos no mundo a frase se torna ainda mais simbólica. Afinal, se espera que onde produz tanto exista o suficiente para que a população não passe fome.

Da mesma forma que não se come PIB, nem sempre indicadores dão voto. Principalmente, quando os números apresentados são decorrentes de atividades que não contribuem para a distribuição de renda, não geram empregos, quase não geram impostos, degradam o meio ambiente e concentram a parcela mais fascista do empresariado brasileiro, como é o agronegócio.

As eleições municipais servem de parâmetro para algumas análises sobre os rumos políticos do país e da condução que tem sido dada pelo presidente Lula e sua equipe. De imediato, está claro que a esquerda teve um péssimo resultado. Não existe uma só vitória com simbolismo que demonstre força e sirva como exemplo de que o pensamento progressista volta a ocupar espaços perdidos.

O efeito Lula não foi percebido. Nem o Nordeste deu demonstrações de que o apoio do presidente foi determinante para a eleição de prefeitos e vereadores. Se fizermos uma comparação com 2012, quando Lula mesmo fora da presidência demonstrava muita influência, ao ponto de alguns brincarem que ele seria capaz de eleger até um poste se fizesse esforço pra isso.

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A situação merece alguns alertas. O Governo Lula foi eleito com a esperanca de combater o fascismo representado por Jair Bolsonaro e seus aliados, mas, também, resgatar a dignidade da população. Independentemente da correlação de forças desfavorável no Congresso Nacional, os caminhos que o presidente tem escolhido não são muito distintos dos que o Brasil já vinha seguindo.

A economia continua conduzida com base em preceitos liberais: déficit zero, produção de superavit primário e incentivos a setores que geram mais concentração de renda, porém servem como base para produção de números macroeconômicos, que não refletem em melhoria real na vida do povo.

Um bom exemplo dessa condução está na concessão do seguro safra recorde, dinheiro destinado ao agronegócio, que não contribui para redução da pobreza no Brasil e alimenta um setor que financia o fascismo. Contraditoriamente, os recursos destinados ao Minha Casa Minha Vida, estão bem aquém do que se tinha há mais de dez anos, quando Dilma ainda era presidente.

Fica claro que não só por dificuldades políticas o Governo Lula toma decisões erradas. Poderia ter vitaminado o programa de habitação, que foi um dos grandes responsáveis pela geração de emprego e melhoria da renda no Brasil. Ao contrário dos setores que o Governo privilegia, a construção civil mexe com uma cadeia enorme que movimenta a economia real, do servente de obras ao empreiteiro. Sem contar toda rede de materiais de construção, linha branca e mobiliário que têm a demanda aumentada.

O lulismo não pode ficar apenas no imaginário. Diante da falta de razões objetivas, numa eleição em que o Lula não seja o candidato, o resultado se mostra desastroso. A falta de avanços significativos nas políticas públicas joga a população no campo de influência do fascismo e o discurso fácil de negação a esquerda.

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Mesmo com indicadores favoráveis na geração de empregos e taxa de ocupação elevada, a renda média segue muito baixa, ao ponto de, mesmo com a inflação controlada, a capacidade de consumo está muito limitada. Vivemos os reflexos da alta do dólar desde Bolsonaro, que jogou os preços nas alturas e, até agora, os impactos não foram minimizados. Basta ver que um setor como o do varejo patina, sem conseguir decolar.

As eleições municipais não definem o resultado de 2026, mas a derrota da esquerda, do PT e de Lula foram gigantescas. Não existe nada para comemorar, o eleitor fez opção pela direita e extrema-direita majoritariamente. Fazer discurso ufanista que coloca aliados circunstanciais do centro como parte da vitória é fechar os olhos para o que é a política no Brasil.

O recado foi duro. A lapada foi grande. Esse governo água com açúcar que Lula vem fazendo não empolga nem contagia os que acreditaram nele como opção de mudança. Não será com bravatas conciliadoras que se chegará a 2026 em condições de derrotar os adversários. O Lula que elegemos não foi esse que precisa comemorar as vitórias do Centrão como se fossem suas.

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