As mortes de figuras do mundo árabe, da África e de outras regiões dominadas por ‘inimigos do Ocidente’ abalam convicções que, a cada derrota, desmentem notícias propagadas quase como fake news.
Algumas são disseminadas como desinformação mesmo, outras são construções da mitologia do adversário, muitas são apenas mentiras criadas décadas antes da existência das redes sociais, dos mentirosos fascistas e de Elon Musk. Eis algumas:
1. Saddam Hussein tinha, perto do palácio de Bagdá, um imenso bunker subterrâneo indevassável, onde poderia morar com a família e serviçais por mais de ano.
Os jornais americanos publicavam até a planta baixa do bunker, com todos os compartimentos, ar condicionado, comida boa para a família toda e até salas de cinema.
Com o Iraque invadido, três anos depois Saddam foi encontrado sozinho, imundo (foto), dentro de um buraco usado como esconderijo, em 2006.
2. Depois de invadir o Iraque, em 2003, os americanos e os ingleses enfrentariam uma guerra de guerrilha interminável, por parte de milicianos sunitas, principalmente em Bagdá.
Até a estátua de Saddam foi derrubada, no primeiro dia da invasão, e não houve guerra urbana nenhuma, porque Saddam não tinha força militar e não havia grupo guerrilheiro algum.
3. Muammar Kadafi nunca seria derrotado, nem pelos inimigos externos (apesar de ter ficado amiguinho dos Estados Unidos), nem pela oposição interna, porque era o mais poderoso dos africanos e buscaria resistência e refúgio em Sirte, na região onde nasceu.
Kadafi foi cercado e fugiu do governo Líbio. Foi morto por um bando de civis, que se levantaram em revolta interna. Encontrado vagando em Sirte, escondeu-se num bueiro e foi assassinado a pauladas como um cão.
4. Osama Bin Laden tinha esconderijos por toda parte, por contar com a proteção de amigos poderosos. Os lugares onde ficava, nas montanhas do Paquistão, eram parte de um vasto labirinto que nenhum satélite e nenhum espião seriam capazes de localizar.
Bin Laden foi localizado e morto em 2011 por uma tropa de elite americana, os Seals, na cidade de Abbottabad, próxima a Islamabad, capital do Paquistão. Morava numa casa cheia de mulheres e crianças. Foi cercado e morto com mais de cem tiros.
5. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, tinha 32 anos quando assumiu o comando do grupo militar que se alojou no sul do Líbano. Tinha o suporte do Irã e, com o acúmulo de sabedoria, desde a juventude, sabia como se movimentar para escapar da caçada de Israel e dos Estados Unidos.
Pois Israel introduziu bombas em pagers comprados pelo Hezbollah de uma fábrica da Hungria. O equipamento era usado não só pelos combatentes inimigos, e o ato terrorista matou civis sem envolvimento com o conflito. Tudo para desmoralizar os controles da inteligência do Hezbollah.
E logo depois Israel atacou Beirute e matou Nasrallah, aos 64 anos. Que morreu dois meses depois do assassinato por Israel de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, morto dentro de Teerã, sob a proteção dos aiatolás.
E antes de Haniyeh havia sido morto o comandante militar do Hezbollah, Fuad Shukr. É a realidade. Tudo o que até a semana passada não poderia acontecer, pela solidez das defesas árabes e dos líderes árabes e muçulmanos, pode acontecer hoje ou amanhã. E às vezes com certa facilidade.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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