Racismo não

Homem que agrediu morador de rua negro com chibatadas no Dia da Consciência Negra pede desculpas

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Homem branco pagou R$ 10 ao morador de rua negro para açoitá-lo. O vídeo repercutiu muito nas redes e o agressor foi localizado e preso. Ele responderá pelos crimes de racismo e tortura. “A pena pode ser superior a 15 anos de prisão”, diz delegado do caso. Agressor pede perdão: "Peço desculpas a todos os brasileiros, foi só uma brincadeira, o problema foi o vídeo ter viralizado no dia de Zumbi de Palmares"

Um homem negro foi agredido com cintadas nas costas por um homem branco que ofereceu R$ 10 para espancá-lo. A agressão ocorreu em frente a um bar no Centro de Itaúna, no Centro-Oeste de Minas. O vídeo circulou fortemente neste 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, e causou revolta.

De acordo com o delegado responsável pelo inquérito, o agressor está sendo investigado pelos crimes de racismo e tortura. “Podendo, inicialmente, a pena ser superior a 15 anos, mas outros eventos podem ser apurados diante da complexidade das investigações”, informou.

A Polícia Militar informou que não foi acionada em relação ao caso. Contudo, devido à repercussão e, após tomar conhecimento do vídeo, os militares decidiram sair em busca do agressor.

No vídeo, o agressor exibe a nota de R$ 10 e, em tom político, diz: “Enquanto tiver Bolsonaro e Lula, será desta forma”; Em seguida, questiona: “Quer usar droga? Não quer trabalhar não?”. Simultaneamente, ele tira o cinto e questiona se a vítima quer o dinheiro em troca da “chicoteada”.

A deputada estadual Lohanna França (PV) informou em suas redes sociais que acionará formalmente as polícias Militar e Civil, além de provocar o Ministério Público. “Vamos adotar todas as providências necessárias para garantir a justiça neste caso”, declarou a parlamentar.

O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) também se manifestou, classificando o vídeo como “o pior que já viu na vida”. Ele prometeu trabalhar para endurecer as leis contra atos racistas e preconceituosos, defendendo a pena máxima para esses crimes.

A Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB de Itaúna emitiu uma nota de repúdio, destacando que acompanhará o caso para assegurar a adoção de todas as medidas jurídicas cabíveis. “Manifestamos nosso repúdio à cena de agressão e reafirmamos nosso compromisso com a justiça e a igualdade”, afirmou a entidade.

REPERCUSSÃO

O caso gerou comoção entre moradores de Itaúna e também nas redes sociais. Nas postagens no perfil do Instagram do homem, várias mensagens foram deixadas. “Então você gosta de bater em vulnerável, ‘capitão do mato’? Acha que uma sociedade não tem responsabilidade sobre as pessoas que usam drogas e estão em situação de rua? Você se acha Deus? Não julgue para não ser julgado! Você vai responder judicialmente e vai aprender na dor a consciência social e negra que você não teve e nem humanidade. O que você fez foi muito errado”, diz um comentário.

“Que os seus dias de paz sejam interrompidos temporariamente até você pagar pelo crime que cometeu”, postou outra internauta.

PEDIDO DE DESCULPAS

O agressor é José Maria Vilaça, de 44 anos. Ele disse que o vídeo foi gravado com o consentimento do homem agredido. “Eu tava numa resenha. Foi uma brincadeira. O problema foi o vídeo ter viralizado no dia de Zumbi de Palmares. Agora tá essa burocracia toda. Foi uma resenha. Eu vou provar que não passou de uma resenha. Peço desculpas a todos os brasileiros, paraminenses e itaunenses também”, completou.

Segundo o advogado Maciel Lúcio, da Comissão de Igualdade e Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Divinópolis, o caso é grave. “É inadmissível que ainda enfrentemos situações como essa em pleno século XXI. É um verdadeiro retrocesso. Não por acaso, ontem tivemos o primeiro feriado em celebração ao Dia da Consciência Negra, pois ainda há quem precise ser educado sobre esse assunto”.