CEO da maior provedora de planos de saúde privados dos EUA foi assassinado a tiros em Nova York, no que os investigadores descreveram como um "ataque ousado e direcionado". Receita da UnitedHealthCare foi de R$ 2 trilhões. Brian Thompson liderava uma empresa frequentemente criticada pela negação de coberturas e procedimentos médicos. Balas utilizadas no crime faziam referência ao legado sombrio da empresa
BBC
Brian Thompson, CEO da United Health Care (UHC), a maior provedora de planos de saúde privados dos Estados Unidos, foi assassinado a tiros na quarta-feira (4/12), em Nova York, no que os investigadores descreveram como um “ataque ousado e direcionado”.
Brian Thompson foi baleado nas costas e na perna do lado de fora do hotel Hilton em Midtown Manhattan.
Os investigadores dizem que as palavras “negar” (deny), “defender” (defend) e “destituir” (depose) foram escritas nas cápsulas de bala recuperadas na cena do crime.
A imprensa americana especula que as três palavras inscritas na bala poderiam ser uma referência ao título de um livro do proeminente acadêmico Jay M. Feinman publicado em 2010, Delay Deny Defend (que em português significam atrasar, negar, defender), cujo subtítulo é “Por que as companhias de seguros não estão pagando sinistros e o que pode ser feito a respeito.”
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A polícia está usando tecnologia de reconhecimento facial e um telefone descartado para identificar e rastrear o suspeito, e está se concentrando em uma imagem de vigilância captada em uma filial da Starbucks pouco antes do ataque.
Thompson estava em Nova York para falar em uma conferência de investidores da UHC.
A UHC é parte da United Health Group, que atua no mundo todo. No Brasil, a empresa já foi dona da Amil, que vendeu em 2023. Apesar da venda, a United Health Group continua operando no país através da empresa Optum, de consultoria em saúde.
Como foi o crime e qual o motivo?
De casaco de capuz e máscara facial, o suspeito chegou ao local a pé, cerca de cinco minutos antes de Thompson. Quando o executivo chegou, ele se aproximou dele e atirou. Depois, destravou a arma e disparou novamente.
Na sequência, ele pegou uma bicicleta alugada e fugiu pedalando em direção ao Central Park, segundo a polícia.
Ainda de acordo com as autoridades, Thompson foi levado para o hospital, onde foi declarado morto minutos após o ataque.
Os investigadores disseram não saber a motivação do atirador, que fugiu do local sem levar nenhum pertence da vítima.
“Com base nas evidências que temos até agora, parece que a vítima foi um alvo específico. Mas neste momento não sabemos por quê”, afirmou o detetive chefe Joseph Kenny em entrevista coletiva.
“Tudo indica que este foi um ataque premeditado, planejado e direcionado”, acrescentou a comissária de polícia de Nova York, Jessica Tisch.
Drones, helicópteros, cães policiais e milhares de câmeras de segurança estão sendo usados para vasculhar a cidade, rua por rua, na tentativa de encontrar o suspeito. A polícia ofereceu uma recompensa de US$ 10 mil.
Um porta-voz da Hilton Hotels disse que a empresa estava “profundamente triste com os acontecimentos desta manhã”.
A governadora do Estado de Nova York, Kathy Hochul, prestou condolências à família.
A empresa controladora da UnitedHealthcare, o UnitedHealth Group, disse estar “profundamente triste e chocada” com a morte de seu “querido amigo e colega”.
“Brian era um colega e amigo muito respeitado por todos que trabalharam com ele”, afirmou a companhia em comunicado.
“Estamos trabalhando em forte colaboração com o Departamento de Polícia de Nova York, e pedimos paciência e compreensão durante este momento difícil.”
Ameaças anteriores
Nas horas após o ataque, a esposa de Thompson disse à mídia dos Estados Unidos que houve “algumas ameaças” contra seu marido antes, mas não forneceu detalhes.
“Houve algumas ameaças”, disse ela à emissora MSNBC. “Basicamente, não sei, falta de cobertura [médica]? Não sei os detalhes. Só sei que ele disse que havia algumas pessoas que o estavam ameaçando.”
“Não posso dar uma resposta ponderada neste momento. Acabei de descobrir e estou tentando consolar meus filhos”, ela acrescentou.
A polícia também disse que houve um incidente suspeito na casa de Thompson em Maple Grove, Minnesota, em 2018.
Mas, após investigar o local, a polícia não encontrou evidências de atividade criminosa.
O que é a UnitedHealthCare?
A UnitedHealthcare é a maior empresa de seguros de saúde dos Estados Unidos.
A sua empresa-mãe, o UnitedHealth Group, cancelou a sua conferência de investidores após o ataque.
“Estamos lidando com uma situação médica muito séria”, disse o CEO do UnitedHealth Group, Andrew Witty, no evento.
A UnitedHealth Group é uma empresa em expansão que administra grupos de médicos, redes de cuidados paliativos e centros cirúrgicos, programas de benefícios de medicamentos prescritos e trabalha em estreita colaboração com seguros de saúde governamentais nos EUA, como Medicare e Medicaid.
No Brasil, ela já foi dona da Amil (que vendeu em 2023) e continua operando através da Optum, empresa de consultoria em saúde.
Ela é regularmente acusada de se recusar a pagar por cuidados médicos válidos, alegações que, em alguns Estados, levaram a ações judiciais e acordos.
Os reguladores também processaram as aquisições propostas pela empresa, alegando que seu controle sobre o setor é muito grande.
No início deste ano, a empresa atraiu nova indignação como alvo de um ataque hacker paralisante, que causou turbulência financeira para práticas médicas em todo o país e gerou acusações de que a empresa não havia implementado práticas adequadas de segurança cibernética.
As controvérsias não prejudicaram muito seus negócios. Antes do assassinato do executivo, a empresa previa um crescimento de receita de dois dígitos e dos lucros de aproximadamente 10% no próximo ano.
Quem era Brian Thompson?
Thompson se tornou CEO da seguradora UnitedHealthcare em abril de 2021.
Sua conta no LinkedIn mostra que ele trabalhou para a empresa por mais de 20 anos, ingressando como diretor de desenvolvimento corporativo em 2004.
Ele ganhou US$ 10,2 milhões (R$ 60 milhões) trabalhando para a empresa no ano passado.
Ele se formou na Universidade de Iowa em 1997 com bacharelado em administração de empresas e contabilidade, e morava em um subúrbio de Minneapolis, no Estado de Minnesota.
O homem de 50 anos era casado com Paulette Thompson, com quem deixou dois filhos.
“Estamos arrasados ao saber do assassinato sem sentido de nosso amado Brian”, disse sua cunhada em comunicado divulgado em nome da família.
“Brian era um homem incrivelmente amoroso, generoso e talentoso que realmente viveu a vida ao máximo e tocou muitas vidas”, disse ela.
Ela também acrescentou que ele era “um pai incrivelmente amoroso” para os dois filhos do casal.
Investigação com software de reconhecimento facial
O suspeito foi capturado pelas câmeras de segurança em um Starbucks próximo, minutos antes do ataque.
Embora ele apareça usando uma máscara na imagem, fontes da polícia disseram à rede CBS, que a máscara está abaixada o suficiente para permitir ver seus olhos e parte do nariz.
Sendo assim, os investigadores estão usando um software de reconhecimento facial para tentar identificá-lo.
Além disso, a polícia está analisando, em busca de DNA, os três cartuchos e as três balas encontradas na cena do crime.
As autoridades dizem que estão analisando se as palavras inscritas nas balas apontam para um motivo relacionado às respostas das companhias de seguro aos sinistros.
Um telefone celular também foi encontrado em um beco ao longo da rota de fuga do suspeito. A polícia diz que está “trabalhando” no telefone.
Os investigadores também informaram que iriam fazer uma busca no quarto de Thompson no Hotel Marriott, que fica na mesma rua do incidente.
O ataque aconteceu em uma das áreas mais movimentadas de Manhattan, perto de pontos turísticos como a Times Square e o Central Park, onde tiroteios são extremamente raros.
Quando Thompson chegou caminhando sozinho ao Hotel Hilton, o atirador saiu de trás de um carro na calçada e atirou nas costas e na perna dele.
As câmeras de segurança mostram que o suspeito usou um silenciador na arma quando abriu fogo, segundo a polícia.
Acusações de fraude
Thompson enfrentava acusações de suposto uso de informações privilegiadas para obter lucros no mercado de ações.
Uma ação coletiva movida por um fundo de pensão em maio de 2024 acusou-o de vender US$ 15 milhões de suas ações na UnitedHealth quando sabia que a empresa estava sob investigação do Departamento de Justiça dos EUA.
As autoridades estavam investigando se a seguradora havia violado as leis antitruste dos EUA, de acordo com uma investigação revelada pelo The Wall Street Journal em fevereiro.
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