Mais uma tese de jerico: comparar Bolsonaro a Lula
A comparação da situação de Jair Bolsonaro hoje com as circunstâncias já enfrentadas por Lula, em 2018, é pueril e cai na armadilha de achar que quase tudo entre os dois tem equivalências. Não tem, nem pode ter.
A comparação mais recente é essa: assim como Lula, Bolsonaro tentará levar a ideia da candidatura para 2026 até o fim, para manter seu nome no jogo e tentar escapar da Justiça.
Pode até tentar, mas a tese de que a situação é a mesma é uma grande bobagem. Lula era a única chance garantida de sobrevivência das esquerdas, e não só do PT.
Por isso aglutinou toda a resistência em torno do seu nome, até decidir, na cadeia, que Fernando Haddad seria o candidato.
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As esquerdas esperaram por Lula porque ele era o líder caçado pelo lavajatismo. Dizer que poderia ser solto e concorrer era, claro, uma jogada política.
Lula foi libertado, voltou e venceu a eleição e depois venceu o golpe. Bolsonaro é, ao contrário, um nome a ser descartado pela direita, por representar um estorvo a todos, inclusive à própria extrema direita, que aposta num futuro com Tarcísio de Freitas.
Se fosse preciso resumir ainda mais, esse seria o resumo: Lula sabia, enquanto estava preso, que somente sua reabilitação política poderia salvar o país do fascismo.
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Hoje, direita e extrema direita, incluindo a elite empresarial e o mercado financeiro, sabem que somente a total degradação de Bolsonaro pode salvá-las.
Para que o jogo continue e os nomes à espera de um novo tempo possam prosperar, Bolsonaro precisa ser um morto político. É muito diferente da situação de Lula em 2018.
Não haveria chance alguma para as esquerdas e os democratas se Lula fosse inviabilizado para sempre. Não haverá chance alguma para direita e extrema direita com Bolsonaro ainda tentando jogar.
Lula era franco favorito nas pesquisas para 2018. Bolsonaro ainda é forte politicamente apenas em pesquisas de institutos marca-diabo.
Lula era unanimidade e unia as esquerdas. Bolsonaro racha a direita e impede que essa se rearticule. Parece complexo, mas é muito simples. A comparação é mais uma tese de jerico.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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