São Paulo debaixo de sangue: Tarcísio e Derrite comandam "legítima defesa do racismo" através da polícia assassina
Mais de 600 pessoas foram assassinadas pelas polícias de SP só este ano. A frase do rapper Eduardo Taddeo, é certeira em afirmar que os assassinatos foram em legítima defesa do racismo, pois a maioria absoluta dos mortos eram jovens negros. É preciso organizar a luta contra a violência policial!
De janeiro a outubro deste ano, as polícias civil e militar do Estado de São Paulo mataram pelo menos 676 pessoas no estado. A cada 4 assassinatos que acontecem em São Paulo um é cometido pelas polícias comandadas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo secretário de segurança pública Guilherme Derrite (PL). Os dados foram publicados pelo jornal Ponte e retirados do Diário Oficial do Estado (DOE), Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP)/Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No último mês uma criança de 4 anos foi alvejada e morta em Santos, nove meses depois do seu pai também ter sido assassinado na Operação Verão; um jovem trabalhador de 27 anos, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, foi assassinado com 11 tiros pelas costas na loja OXXO; um estudante de medicina foi morto a queima roupa com um tiro no peito e nas últimas horas um jovem foi arremessado por policiais de uma ponte. Em outubro, a polícia matou dois jovens, Guilherme de 18 anos e Luís de 21, e invadiu o velório, agredindo familiares das vítimas, impedindo que velassem os corpos dos seus filhos. No velório do menino Ryan, a PM também buscou impedir o velório e enterro de acontecer. “Eu perdi um pedaço de mim” , denunciava a mãe de Ryan e viúva de Leonel.
A Operação Escudo/Verão deixou um rastro de sangue com pelo menos 84 mortos, a maior chacina do século XXI e uma das maiores da história de São Paulo. Em menos de dois anos os assassinatos cometidos por policiais cresceram mais de 70% e as principais vítimas, dois em cada 3 mortos, são pessoas negras.
Desde que se elegeu, Tarcísio lançou mão de diversas medidas de favorecimento das forças policiais, com aumento de salários e verbas, prêmios além de medidas de incentivo a maior repressão e letalidade como as críticas e desincentivo ao uso das câmeras corporais pelos policiais, chegando a deixar de comprá-las, até que recentemente fez uma compra milionária de equipamentos que podem ser desligados pelos próprios policiais durante as operações. Quando questionada pela imprensa, ironizou que poderiam buscar a ONU ou a Liga da Justiça, que ele não estava nem aí. O suposto “descontrole” da polícia é na verdade uma política de repressão e morte deliberada da juventude negra no Estado comandado pela extrema-direita herdeira de Bolsonaro.
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Essa política de morte é seguida pela militarização e privatização das escolas. Com o aval do Supremo Tribunal Federal, na figura de Gilmar Mendes, Tarcísio pretende implementar o modelo de escolas cívico-militares em pelo menos 49 escolas no início do ano letivo de 2025. Paralelamente, 143 escolas serão entregues à gestão privada. A privatização das escolas em leilão da bolsa de valores de São Paulo se deu com dinheiro do BNDES, ou seja, com dinheiro público federal.
A lei orgânica das polícias e bombeiros militares, aprovada depois de mais de 20 anos de tramitação, que foi proposta pelo governo FHC em 2001, foi sancionada por Lula no final do ano passado e contou com o apoio de partidos como PT, PSOL e Rede. Tarcísio de Freitas, que se apoiou no discurso de fortalecimento das forças policiais e repressivas do Estado para se eleger, se sente legitimado para seguir com os assassinatos policiais graças aos acordos firmados com o governo de frente ampla de Lula-Alckmin para seguir com as privatizações. O maior cheque dado por Lula para as obras do PAC foi para Tarcísio. O dinheiro para a privatização das escolas, assim como para a venda da Sabesp e privatização dos transportes saiu dos cofres do governo federal. É por isso que dizemos que é a conciliação de classe, exemplificada por essas políticas do governo de frente ampla, que fortalece a extrema direita que odeia os negros, as mulheres, as LGBTs e os trabalhadores.
Tarcísio, que é apontado como possível candidato da extrema direita à eleição de 2026, uma vez que Bolsonaro ainda está inelegível, no início do ano, após as denúncias da chacina no litoral, repetiu a cartilha de seu padrinho eleitoral, dando de ombros se dizendo “nem aí”. Derrite chamou de vitimismo as denúncias do assassinato do menino Ryan. Agora, desde o absurdo assassinato do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta e o escandaloso vídeo que mostra um jovem, que até o momento não se sabe se está vivo ou não, sendo arremessado por PM de uma ponte na Zona Sul, tiveram que se relocalizar. Isso não tem nada de lamento nem de preocupação com as vítimas, mas sim querem parecer mais sóbrios e viáveis diante desse aparente descontrole policial, com os olhos voltados para o futuro e para o mercado financeiro.
Mas a polícia nada mais é do que uma fábrica de corpos mortos em nome da manutenção desse sistema que se não mata de tanto trabalhar, mata os filhos da nossa classe pelas mãos da polícia.
Neste ano em que se completa 5 anos do escandaloso Massacre de Paraisópolis, quando 9 jovens entre 14 e 21 anos foram mortos por asfixia mecânica causada pela Polícia Militar num Baile Funk, se faz urgente denunciar o caráter assassino dessa instituição que alimenta a sede de sangue da extrema direita. O papel da polícia, seu objetivo primordial, é manter a ordem capitalista. Para isso não importa se contra criança de quatro anos ou contra jovens desarmados, se com balas de armas de fogo ou com armas supostamente não letais, como balas de borracha e bombas de gás, a polícia, se GCM, como a que matou a adolescente Camily, que estava na garupa da moto quando foi morta com um tiro nas costas no Capão Redondo, ou Polícias Civil ou Militar, essas instituições vão se valer da repressão e assassinatos em nome dos interesses dos patrões. Por isso, não podemos defender mais investimentos ou preparo para uma instituição forjada para nos oprimir.
É preciso responsabilizar os governos e seus comparsas como Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite, bem como todos os governantes que tem suas mãos sujas com o sangue da classe trabalhadora, para que paguem pelos seus crimes.
Nossa luta deve ser pelo fim imediato das operações policiais, junto à elementar bandeira da legalização das drogas para enfrentar a repressão e o tráfico. Pelo fim de todas as tropas especiais como a ROTA, a Tática e a Força Nacional, que são criadas para massacrar o povo pobre e as lutas. É preciso derrotar a PEC das Drogas e revogar a Lei Orgânica das PMs. Pela punição de todos os responsáveis civis e militares pelas chacinas e massacres, pelo fim dos Tribunais Militares e dos autos de resistência, para que os responsáveis sejam julgados por júris formados pelos pares das vítimas da violência policial. Pelo fim de todas as polícias, essa instituição racista e assassina que serve apenas para proteger os interesses da classe burguesa. O Coronel Derrite não deveria seguir nem mais um minuto no cargo. Mas sabemos que não se trata de mudar os representantes que comandam a repressão a mando do governo Tarcísio. É preciso organizar uma luta de conjunto contra este governo, mas que enfrente as verdadeiras bases da violência que é o sistema capitalista.
Para que a juventude tenha o direito elementar à vida e ao futuro é preciso movimentar as engrenagens da nossa classe. É o nosso sangue sendo derramado nas ruas. O menino Ryan é filho do ventre de uma mulher trabalhadora. Quando matam um dos nossos, matam uma família inteira, como disse a mãe do Guilherme. Os policiais alegam legítima defesa ao executarem um homem desarmado pelas costas, mas como disse Eduardo Taddeo, foi legítima defesa do racismo!
As centrais sindicais de massas, como a CUT e a CTB, junto às entidades do movimento estudantil e movimentos sociais precisam urgentemente encampar a luta contra a violência policial junto à luta contra a escala 6×1 e as reformas que destroem a vida da juventude negra, pobre e periférica. São os filhos da nossa classe que tem seu sangue derramado impunemente e somente os trabalhadores em luta podem dar uma saída à violência policial e de estado que rouba o futuro dos seus filhos. Levantemos todo o país contra a violência policial, como fizeram nos EUA com o Black Lives Matter.
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