Desembargador que manteve Lula preso trata vice de Bolsonaro como amigo
Em evento, desembargador que manteve Lula preso trata vice de Jair Bolsonaro como amigo. Episódio é mais um entre tantos que revelam que ex-presidente é perseguido pelo judiciário e sua prisão tem caráter político
O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), recebeu nessa segunda-feira (20), no Clube Militar, no Rio de Janeiro, o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Carlos Eduardo Thompson Flores.
Mourão tratou Flores – um dos envolvidos na trama do descumprimento do habeas corpus, no início de julho, que colocaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em liberdade – como um “amigo”.
“O desembargador (Thompson Flores) é meu amigo pessoal. É um homem que tem uma competência extrema na questão do Direito. Acho importante para os integrantes do clube que eu trouxesse alguém. Porque fica muita dúvida”, afirmou Mourão, que preside o clube.
Thompson Flores participou como palestrante do evento “O Poder Judiciário na Conjuntura Política Nacional”, e também tratou Mourão como “dileto amigo”.
A “dúvida” de Mourão se referia justamente ao conjunto de incertezas criadas pela inelegibilidade ou não de Lula. Mas o ex-presidente não foi mencionado por Flores, que preferiu tratar na palestra do “Caso Watergate”, escândalo político que culminou na renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, após revelação de um esquema montado por republicanos para espionar o partido adversário.
Thompson citou o caso para dizer que a “a República não veio abaixo”, após prisões de figuras ligadas ao presidente. Gerald Ford, que sucedeu Nixon na presidência, concedeu perdão ao antecessor, que havia sido acusado de participar da trama de espionagem, como forma de pacificar o país.
Mourão afirmou que conhece Thompson Flores de “outros tempos”, quando era “comandante no sul”. Ele foi exonerado do cargo, em 2015, do Comando Militar do Sul, após criticar a então presidenta Dilma Rousseff e homenagear o ex-comandante do DOI-Codi, o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido torturador durante a ditadura.
Transferido para o cargo de secretário de Finanças e Economia do Comando do Exército, Mourão foi novamente exonerado, em 2017, por críticas ao governo Temer e por defender reiteradas vezes a intervenção dos militares na política. Após ser confirmado como vice de Bolsonaro, Mourão se envolveu em mais uma polêmica, ao declarar que o brasileiro herdou a “indolência” do índio e a “malandragem” do negro.
O Clube Militar é uma associação civil, e reúne oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica. A entidade, que tem por objetivo “estreitar os laços de união e solidariedade entre os oficiais das forças armadas”, “defender os interesses dos sócios” e “incentivar manifestações cívicas e patrióticas”, tem longo histórico de participação política, desde a proclamação da República, em 1889, passando pela era Vargas (1930-1945), tendo apoiado também o golpe militar de 1964.
O comentarista de política da RedeTV!, Reinaldo Azevedo, comentou o episódio:
RBA