Geraldo Alckmin está virtualmente morto após a facada em Bolsonaro
Establishment abandona PSDB e passa a sonhar em vitória consagradora no 1º turno com Jair Bolsonaro. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto
Ricardo Cappelli, Congresso em Foco
É preciso reconhecer a capacidade do deputado federal e candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) de gerar delírios. Ele funciona como uma espécie de entorpecente capaz de turvar a visão da esquerda e da direita ao mesmo tempo.
Uma multidão delirante o recebeu em Juiz de Fora (MG). Após a fatídica facada, o delírio mudou de lado. Parte da esquerda abriu sua caixa de loucuras.
O atentado, feito por um lobo solitário desequilibrado, teria sido na verdade uma conspiração internacional tramada com a família Marinho e colocada em prática pela dupla CIA/Mossad. “Cadê o sangue?”, gritavam os “esquerdominions”.
O capitão lidera a pesquisa, subiu no último Ibope, e resolveu contratar um israelense ninja que no meio da multidão desferiu um golpe milimétrico que por pouco não o mata. Faz todo sentido.
Ou pior, a conspiração envolveu todos os médicos, enfermeiros e toda a polícia federal. “A verdade é que não existe corte, é coisa de Hollywood!” Chega a ser ridículo.
A facada entrou para a história pelo paradoxo de suas conseqüências. Atingiu o coração da democracia e catapultou o candidato que mais ameaças representa ao sistema democrático. Cortou em pedaços Geraldo Alckmin e pode levar a uma unificação de forças impressionante.
O assunto atraiu audiência no planeta. Deu a Jair o que ele não tinha e jamais sonhou. Uma avalanche de mídia espontânea positiva, permitindo-o furar o equilíbrio imposto pelas regras eleitorais à cobertura jornalística de candidatos.
Dores pessoais têm o poder de humanizar o mais ogro dos mortais. Fragiliza o fortão e o traz para perto das pessoas de carne e osso.
Fica a imagem do homem destemido que resolveu enfrentar o sistema e acabou perseguido, ferido mortalmente. Um cidadão que colocou a própria vida em risco pela missão de salvar o Brasil. A fala dele com a sonda no nariz no hospital é devastadora.
Se já tinha o poder de se comunicar com seu eleitorado como um “Lula da direita”, simples e objetivo, direto, se somou ao ex-presidente agora na condição de vítima. Temos duas vítimas do sistema, um preso e outro sangrando em cadeia nacional.
Qualquer marqueteiro será capaz de reduzir agora suas dificuldades com o eleitorado feminino. Basta trazer sua família e sua mulher para a cena chorando, dizendo da dor que seria perder um marido e um pai maravilhoso.
Se já estava difícil que a profecia de derretimento de Jair se concretizasse, agora ela parece impossível. Que eleitor vai abandonar seu escolhido gravemente ferido no leito de um hospital? Esqueçam, o brasileiro é altamente solidário na dor porque a conhece de perto.
A rejeição do capitão deve cair e as próximas pesquisas devem indicar alguma alta. A facada teve o poder de transformar o general Mourão num defensor do devido processo legal para o agressor. A mudança é radical.
A grande mídia está com a faca e o queijo na mão. Pode colocar Bolsonaro na TV 24 horas por dia sem nenhuma contestação. Trata-se de um fato jornalístico. Quem teria a coragem de questionar a cobertura da situação de uma pessoa gravemente ferida?
A pressão do establishment sobre o PSDB será insuportável. Ao garantir vaga no segundo turno com Jair, passarão a sonhar com uma vitória consagradora no primeiro turno. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto.
A Justiça tende a radicalizar contra a aparição de Lula no processo eleitoral. Se a briga entre o PT e Ciro por uma suposta vaga no segundo turno se tornar insana, o risco de um abraço de afogados será enorme.
A facada na democracia materializou o crescente processo de radicalização, o descrédito nas eleições e nas instituições. Fez o país pender perigosamente para uma extrema direita que agora, oportunamente, recolhe os dentes.
As próximas semanas serão intermináveis. Os progressistas e democratas podem ser impelidos a se unir ainda no primeiro turno.
Nunca o capitão esteve tão próximo do Planalto.
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