A postura da esquerda diante do atentado contra Bolsonaro
Como defensores dos direitos humanos, a esquerda não pode deixar de repudiar atos de violência contra qualquer indivíduo. Se criticamos tanto a desumanidade do outro lado, não podemos nos nivelar por baixo
Daniel Trevisan Samways*, Revista Fórum
O atentado contra Jair Bolsonaro gerou um novo curto-circuito na militância das esquerdas e pode ter consequências imprevisíveis na eleição. Rapidamente, certos grupos afirmaram que tudo não passava de fraude, já que nem sangue existia. Bolsonaro teria armado tudo e articulado com centenas de pessoas para que tudo saísse como o previsto, assim como nas novelas do Manoel Carlos.
Outros grupos saíram em defesa do ato, comemorando a violência sofrida pelo deputado e lamentando a sua sobrevivência. Torciam pelo pior.
Em outro ponto da bolha, pessoas repudiaram o ato, mas afirmaram que o atingido não merecia nenhuma solidariedade, já que sempre atacou e defendeu a violência.
Outros, ainda, tentam afirmar que existe uma espiral de violência, como se houvesse um equilíbrio nas forças e que o atentado deveria ser creditado na conta da própria esquerda.
Como defensores dos direitos humanos, não podemos deixar de repudiar atos de violência contra qualquer indivíduo. Se criticamos tanto a desumanidade do outro lado, não podemos nos nivelar por baixo. A crítica à violência deve ser nosso alicerce, nosso ponto de união.
A política não é feita apenas com a racionalidade, como pensam alguns. Ela também é o espaço das paixões, do ódio e da admiração. Um ato como esse pode ter consequências ainda imprevisíveis. Como será a atuação da militância de Bolsonaro? Ficarão calados? Irão “revidar” contra aqueles que denominam como responsáveis? E se insistirem em um confronto, as esquerdas também vão reagir? E se algo acontecer com alguém do campo progressista?
Tenho muito receio do que vem pela frente. Pode ser um prato cheio para aqueles que querem ainda mais tumulto e justificar saídas autoritárias. Infelizmente elas estão na ordem do dia para muitas pessoas. Seria a oportunidade de aprofundar ainda mais os retrocessos e contra a vontade popular.
*Daniel Trevisan Samways é doutor em História e professor no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
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