Por que Bolsonaro cresceu entre as mulheres após o #EleNão?
Jair Bolsonaro avançou ao menos seis pontos percentuais nas intenções de voto das mulheres logo depois que a hashtag #EleNão saiu da internet e se materializou em manifestações de rua no último sábado
Jair Bolsonaro (PSL) avançou ao menos seis pontos percentuais nas intenções de voto das mulheres logo depois que a hashtag #EleNão saiu da internet e se materializou em manifestações de rua no último sábado lideradas justamente por mulheres.
O crescimento de Bolsonaro no eleitorado feminino, inclusive já ultrapassando Fernando Haddad (PT) neste segmento, foi captado pelos institutos de pesquisa que realizaram entrevistas em campo na segunda e nesta terça.
Segundo o Datafolha, Bolsonaro tem 32% das intenções de voto contra 21% de Haddad, 11% de Ciro Gomes (PDT) e 9% de Geraldo Alckmin (PSDB).
A rejeição do capitão reformado entre as mulheres ainda é a mais alta, mas, de acordo com Mauro Paulino e Alessandro Janoni, do Datafolha, o candidato do PSL cresceu 10 pontos entre as mulheres de renda mais alta e ao menos 5 pontos entre as mulheres com renda de até dois salários mínimos.
A reação dos apoiadores de Bolsonaro ao #EleNão começou no dia seguinte, domingo, com manifestações pelo país e principalmente nas redes sociais e foi fortemente baseada em crítica de costumes.
Em comum, perfis de apoiadores de Bolsonaro fizeram viralizar as imagens apresentavam o viés da opositora do candidato ser caricaturada como uma manifestante mais radical contra uma apoiadora mostrada carregando crianças ou vestida de verde-amarelo.
Uma das imagens distribuídas nas redes por apoiadores de Bolsonaro.
A negação do feminismo foi martelada maciçamente durante os dias seguintes à onda do #EleNão. No perfil @MulheresComBolsonaro no Instagram, por exemplo, a ativista de direita Sara Winter aparece numa montagem de fotos sob o seguinte enunciado: “Eu era a feminista mais radical do Brasil, daí eu conheci o Bolsonaro e me curei dessa doença.”
O crescimento de Bolsonaro entre o eleitorado feminino após o #EleNão surpreende, segundo Pablo Ortelado, professor da Universidade de São Paulo: “Na verdade o que se esperava era o contrário, pois o #EleNão era movimento de mulheres tentando afastar outras mulheres do Bolsonaro.”
Não existe associação automática entre a reação dos apoiadores de Bolsonaro e o crescimento do candidato nas pesquisas. Mas o caráter predominante de esquerda do #EleNão pode ter inflado o antipetismo ou, pelo menos, ter ficado confinado a uma bolha.
Segundo uma pesquisa de campo conduzida pela equipe de pesquisadores liderada por Ortelado, só 3% das mulheres da manifestação de São Paulo no último sábado declaravam-se como de centro, centro-direita ou direita, enquanto 88% se disseram de esquerda ou centro-esquerda.
“A mobilização foi muito homogênea, foi muito de esquerda. Foram pessoas que já não iriam votar no Bolsonaro celebrando com outras que também não iam votar em Bolsonaro”, diz Ortelado.
O professor emérito da Universidade de Brasília, David Fleischer, afirma que o crescimento de Bolsonaro depois dos protestos de sábado indica que o #EleNão não encontrou ressonância fora do espectro da esquerda.
“Há mulheres muito conservadoras ou que estão descontentes com o sistema político atual e não foram afetadas. O #EleNão tem viés ideológico, e acaba não atingindo esse outro grupo de mulheres não ideológicas”, afirmou Fleischer.
Clarissa Passos, Severino Motta e Alexandre Orrico, BuzzFeed
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