Lula, o doador universal de votos; Bolsonaro, o herdeiro de todos nós
Análise das pesquisas eleitorais desde agosto revelam para onde foram os votos de Lula e de onde vêm os votos de Jair Bolsonaro
Sergio Saraiva, Oficina de Concertos Gerais e Poesia
Em 22 de agosto de 2018, a Folha de São Paulo trouxe a última pesquisa em que Lula aparecia como candidato. Tinha então estrondosos 39% de intenções de voto. Jair Bolsonaro tinha 19% Marina Silva 8%, Geraldo Alckmin 6%, Ciro Gomes 5%. Brancos e nulos 11% e Não Sabe 3%
Mas sua candidatura seria impugnada. Então a Folha fazia uma nova avaliação. Agora sem Lula. Quem herdava seus votos?
Marina herdava 8 pontos percentuais.
Ciro Gomes herdava 5 pontos percentuais
Haddad herdava 4 pontos percentuais
Bolsonaro herdava 3 pontos percentuais
Alckmin herdava 3 pontos percentuais
Outros candidatos herdavam somados 2 pontos percentuais
Não sabe aumentava em 3 pontos percentuais
Brancos e nulos subiam 11 pontos percentuais
Repare-se que todos herdavam votos de Lula. Inclusive Bolsonaro e Alckmin. E como a margem de erro era de 2 pontos percentuais, a herança de Bolsonaro e Alckmin estava fora dessa margem. Eram, portanto, reais.
Não é estranho que Bolsonaro receba votos de Lula – Alckmin menos – trata-se daqueles eleitores de Lula, não necessariamente de esquerda, não do PT. Sem a imagem de Lula, buscam o candidato que mais se aproxime de suas convicções. Bolsonaro e Alckmin sempre representaram os candidatos da ordem e da religião. Atraem, portanto, esse público – o voto moralista. Ele existe no eleitorado de Lula.
O quadro sem Lula era então Bolsonaro com 22%, Marina 16%, Ciro Gomes 10%, Geraldo Alckmin 9% e Haddad 4%. Brancos e nulos 22% e Não Sabe 6%. Outros candidatos somavam 11 pontos percentuais.
A Folha também avaliou o potencial de transferência de votos de Lula para Haddad. 49% dos eleitores diziam que votariam ou poderiam votar em um candidato apoiado por Lula.
Então, se aplicássemos esse percentual ao índice de intenções de voto de Lula – 39% – Haddad herdava um índice potencial de intenção de voto de algo perto de 19%.
IBOPE – 03 outubro 2018
É esclarecedor analisarmos como ficou o quadro de intenções de voto da pesquisa do IBOPE de 03 de outubro de 2018 e compararmos com o que o Datafolha mostrava em 22 de agosto. Ainda com Lula candidato.
Haddad o herdeiro de Lula
Haddad está com 23%, nas pesquisa IBOPE de 03 de outubro. Logo, confirmou-se a transferência de voto de Lula para ele e não é estranho que Haddad tenha parado de crescer. Atingiu até um pouco mais do que era esperado pelo Datafolha 22 de agosto – de 19% para 23%.
Ciro Gomes – está com os mesmos 10% previstos pelo Datafolha. Nada acrescentou. Nada devolveu a Haddad dos votos que recebeu de Lula – 5 pontos percentuais.
Os brancos e nulos retornaram ao patamar de antes do impedimento de Lula. Regrediram 11 pontos percentuais.
Para onde foram esses votos?
Provavelmente foram para Haddad que cresceu 19 pontos percentuais desde o cenário sem Lula do Datafolha de agosto. Os 11 pontos dos brancos e nulos mais 8 pontos percentuais que provavelmente recuperou de Marina Silva.
Os indecisos – votos não sabe – mantiveram os 6% do cenário sem Lula. Eram 3% com Lula. Continuam sem ter candidato 3 pontos percentuais que antes votavam Lula.
Bolsonaro herdeiro de todos nós
Já Bolsonaro acabou recebendo transferências de votos de todos os candidatos. Bolsonaro cresce aos saltos. Nada expressivo, em relação a um candidato em particular, poucos pontos percentuais de cada um, mas de vários. E os conserva; não houve, até aqui, candidato que tenha conseguido recuperar votos, uma vez transferidos para Bolsonaro. Esse é o modelo de crescimento de Bolsonaro.
Em 22 agosto, na pesquisa Datafolha, Bolsonaro tinha de seu 19%. Mas Bolsonaro disparou para 32%, na pesquisa do IBOPE de 03 outubro. Cresceu, portanto, 10 pontos percentuais a mais do que a Datafolha previa em agosto, para o cenário sem Lula – 22%. Já herdava aí 3 pontos percentuais de Lula. Primeiro salto.
Bolsonaro tem mais dois saltos na sua trajetória. Após o atentado que sofreu – cresceu 6 pontos percentuais acima do cenário Datafolha. E após as manifestações do #Elenão – quando cresceu mais 4 pontos percentuais.
Nada a estranhar. O atentado colocou-o na condição de vítima e lhe deu uma grande exposição midiática. E o #Elenão assustou os antipetistas dispersos a ponto de eles passarem para o barco de Bolsonaro, ainda no primeiro turno.
Mas de onde vieram esses votos a mais de Bolsonaro?
Provavelmente, uma parte veio do total dos outros candidatos somados – os nanicos majoritariamente do campo da direita – que cederam 4 pontos percentuais. O voto útil já no primeiro turno. Mais dois pontos percentuais que eram de Alckmin.
Agora, o grosso mesmo veio de Marina Silva. Marina derreteu 12 pontos percentuais desde o Datafolha sem Lula. Entregou 4 pontos percentuais para Bolsonaro. Além dos 8 que havia devolvido para Haddad. Note-se, contudo, que os quatro pontos de Marina que passaram para Bolsonaro eram de Marina mesmo – não herdados de Lula.
Os marinistas tornam-se bolsonaristas. Mas Bolsonaro é herdeiro de todos os candidatos, inclusive de Lula.
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