Por que Bolsonaro fugiu do compromisso para combater fake news?
Uma demonstração do tom que Jair Bolsonaro pretende dar à sua campanha foi a resposta à proposta de Fernando Haddad de assinarem uma carta de compromisso contra mentiras na Internet
Joaquim de Carvalho , DCM
Uma demonstração do tom que Jair Bolsonaro pretende dar à sua campanha foi o post no Twitter no fim da tarde de ontem. Foi uma resposta à proposta de Fernando Haddad de assinarem uma carta de compromisso contra mentiras na Internet:
“O pau mandado de corrupto me propôs assinar ‘carta de compromisso contra mentiras na internet’. O mesmo que está inventando que vou aumentar imposto de renda pra pobre. É um canalha! Desde o início propomos isenção a quem ganha até R$ 5.000. O PT quer roubar até essa proposta”, escreveu.
Saiba mais: Bolsonaro chama Haddad de canalha ao recusar acordo de combate às fake news
A propaganda a que Bolsonaro se refere não é da campanha de Haddad, mas circula pela internet. Faz referência à proposta de criar alíquota única de 20% de imposto de renda para pessoas físicas e jurídicas.
Quem fez a defesa desta alíquota única, que beneficia os de maior renda, que hoje pagam 27,5% de IR, foi seu consultor econômico, Paulo Guedes, ao mesmo tempo em que anunciou a recriação da CPMF para financiar a Previdência.
Com a repercussão negativa do anúncio, feito em uma palestra para público restrito, promovida pela GPS Investimentos, gestora especialista em grandes fortunas, Bolsonaro determinou que Guedes não mais falasse em público.
Leia mais:
Jair Bolsonaro em rota de colisão com Paulo Guedes
Você deveria se preocupar com o plano econômico de Jair Bolsonaro
Guru de Bolsonaro pretende aumentar imposto para os mais pobres
Desde então, Guedes cancelou palestras e tem se mantido em completo silêncio.
A agressividade de Bolsonaro diante da proposta de Haddad — essa proposta foi feita na rápida entrevista que deu em Curitiba –, no início da tarde de ontem, é mais uma demonstração de que o capitão da reserva não tem nenhum compromisso com a verdade factual.
Horas depois, ao dar entrevista no Jornal Nacional, Bolsonaro reclamou que perdeu votos no primeiro turno em razão de fake news.
Ora, se fosse verdadeira essa preocupação, nada mais civilizado do que aceitar a proposta de Haddad ou ir além.
O problema é que Bolsonaro cresce em meio à confusão. Onde falta luz, tem boato, meia-verdade, ali é que ele tenta se dar bem, como na manipulação que faz da farsa do kit gay.
Saiba mais:
Bolsonaro chama Haddad de canalha ao recusar acordo de combate às fake news
Manuela D’Ávila é a principal vítima de fake news na eleição de 2018
“Mamadeira erótica de Haddad” – a fake news que viralizou nas redes sociais
Imagem falsa de Manuela D’Ávila com blusa ‘Jesus é travesti’ viraliza nas redes
‘O pior prefeito do Brasil’: como se constrói uma manipulação
Campanha de Bolsonaro espalha fake news sobre imagens do #EleNão
Dizem que, nisso, ele tem um ponto de convergência com Donald Trump, nos Estados Unidos, que fez campanha em 2016 apoiado em fake news e classificando de fake news toda informação publicada que lhe é era desfavorável.
A diferença é o eleitor.
Lá, os mais escolarizados, em geral, rejeitavam sua candidatura justamente pela impossibilidade de aceitar argumentos contraditórios, muitas vezes desprovido de qualquer fundamento.
No Brasil, é justamente aqueles que têm mais anos de escola é que dão maior vantagem eleitoral a Bolsonaro.
Talvez isso explique muito da dificuldade que o Brasil tem para alcançar outros patamares de desenvolvimento.
Os que deveriam ser a vanguarda do progresso se comportam como âncoras do atraso.
Leia também:
O bicho-papão e a lógica do mal-menor
Há uma intervenção autoritária em marcha no Brasil hoje
O fascismo é um mecanismo de contágio
As eleições de 2018 e a emergência da luta antifascista no Brasil
Brasil vive fenômeno político sem precedentes
Como diferenciar a direita da esquerda?
Quem quer ser um cidadão de bem?