Homem que matou mulher trans gritou o nome "Bolsonaro"
Homem ameaçava trans aos gritos de “Bolsonaro”. Laysa Furtano morreu após receber uma facada na região do tórax
Jeniffer Mendonça, Ponte
O morador de rua identificado como Alex da Silva Cardoso, de 36 anos, foi preso na manhã de sábado (20/10), no centro de Aracaju, em Sergipe, acusado de assassinar a transexual Laysa Fortuna, que morreu na sexta-feira em decorrência de complicações médicas após receber uma facada no tórax, no dia anterior.
A militante trans-feminista Linda Brasil disse à Ponte que retornava para casa de carro quando avistou Laysa ferida em meio a outras mulheres trans e travestis na Rua Estância, esquina com a Rua Itabaianinha, próximo ao DAGV (Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis, da Polícia Civil). “Outras trans conseguiram rendê-lo até a chegada da Polícia. Eu fiquei desesperada”.
De acordo com Linda, as ameaças contra Laysa e outras trans e travestis eram frequentes, mas se intensificaram nas últimas semanas por causa da atuação de apoiadores do presidenciável pelo PSL Jair Bolsonaro.
“Nós somos um público que já é alvo de violência, mas nos últimos dias ele gritava ‘Bolsonaro’ para assustá-las. Não sei se pode dizer que a motivação é política, mas os discursos que esse candidato prega estão incentivando esses atos”.
Laysa é a segunda vítima da comunidade LGBT a ser morta aos gritos de “Bolsonaro”. Em São Paulo, a travesti Priscila foi assassinada a facadas na terça-feira (16/10) na região central. Uma testemunha disse que ouviu da janela do apartamento os agressores gritarem o nome do militar da reserva.
Na quinta-feira (19/10), Alex foi detido, mas assinou um termo circunstanciado e foi liberado em seguida. Segundo a Polícia Civil, o delegado plantonista da 4ª Delegacia Metropolitana de Aracaju havia entendido que house lesão corporal com base em relatório médico que informava ferimentos leves. Laysa foi socorrida ao Hospital Nestor Piva e depois encaminhada para o Hospital de Urgência de Sergipe.
“O que me deixou em pânico foi considerar a morte da Laysa como lesão corporal. Como um homem com uma faca que já vinha ameaçando pode ser solto? Pedi ao delegado para colher os depoimentos de testemunhas, mas fomos ignoradas. Também fomos desrespeitadas na delegacia porque nos tratavam no masculino”, denuncia Linda, que era amiga de longa data da cabeleireira.
Por conta da morte de Laysa, foi expedido um mandado de prisão e aberto um inquérito para apurar o caso como homicídio. As investigações serão conduzidas pelo Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis.
“Ela era uma pessoa super alto astral, que estava com a gente em todos os eventos, se posicionava bastante pelos direitos LGBTs. É uma grande perda, a conheço desde adolescente e ela sempre se destacava. Adorava ser cabeleireira. Infelizmente, por causa do desemprego, ela teve que retornar às ruas”, desabafa Linda.
O enterro da transexual aconteceu no sábado, no Cemitério São João Batista.
Outro lado
De acordo com um escrivão da delegacia ouvido pela Ponte, “não houve motivação política”. “Ele é um morador de rua de Alagoas que está há três anos em Aracaju e costumava perturbar as travestis para obrigá-las a fazer programa com ele”, afirma. “Quando elas estavam em grupo, ele não conseguia, mas como a Laysa estava sozinha e se negou, ele deu a facada. Ele não sabe o nome de um candidato, isso de discurso incentivar é coisa da imprensa”.
A Ponte procurou a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe e as assessorias dos hospitais, mas não teve retorno até a publicação.
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