Professores da UnB se posicionam sobre as eleições de 2018
Professores e professoras da Universidade de Brasília (UnB) divulgam carta aberta sobre as eleições de 2018: "Somente uma das candidaturas se alinha claramente com o projeto democrático e civilizatório do Brasil"
Carta dos professores da UnB*
Nós, professores e professoras da Universidade de Brasília (UnB), reunidos em assembleia geral no dia 17 de outubro, decidimos nos posicionar sobre o grave quadro político atual.
A história da luta docente é parte integrante da luta por democracia em nosso país. Quando ela foi fundada, ainda vivíamos sob a ditadura e intervenção militar e sem nenhuma autonomia. Não se votava para presidente, nem para governador ou para prefeito de capitais. As liberdades civis estavam fragilizadas. Os serviços públicos não eram acessíveis por concursos públicos e os servidores públicos não possuíam direito à sindicalização e as greves eram duramente reprimidas.
Certa vez Martin Luther King disse que sua preocupação não era o grito dos corruptos, dos desonestos, dos violentos, dos sem caráter ou dos sem ética, mas sim o silêncio dos bons. Tem muitos momentos em que o silêncio ou a omissão, sob qualquer justificativa, não cabe, por que se torna cumplicidade com a maldade.
O que estamos vivendo nos dias atuais não é um segundo turno entre duas candidaturas, dois partidos ou coligações. Todos nós estamos testemunhando o ressurgimento de um movimento reacionário, de características fascistas, semelhante ao integralismo da década de 30 do século passado.
As liberdades civis, especialmente as conquistas das mulheres, da comunidade LGBT, dos negros, dos indígenas, dos trabalhadores sem teto e sem-terra, estão sendo não somente ameaçados em termos programáticos, mas se tornaram alvo de manifestações de ódio, agressões e assassinatos. O ódio e o preconceito se tornaram lema de campanha.
Está sob risco a política social conquistada em 1988. Anuncia-se a reforma da Previdência como nunca antes fora anunciada para acabar com os direitos do trabalhador, desmantelamento dos investimentos em ciência e tecnologia, a privatização de bens públicos, inclusive da educação pública e de qualidade e a política nacional de saúde, materializada pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Alardeia-se a extinção de direitos humanos e garantias individuais fundamentais considerados cláusulas pétreas da Constituição Federal. Todos os dias presenciamos pronunciamentos que justificam a tortura que centenas de brasileiros sofreram, os assassinatos feitos pelo aparato estatal da ditadura militar. E assistimos manifestações de militares propondo o retorno de tempos tão sombrios.
Coerentes com a trajetória de luta pela democracia dos 40 anos de existência de nosso sindicato, convidamos toda a comunidade da Universidade de Brasília a se mobilizar para impedir que chegue à Presidência da República um candidato que representa o retrocesso nas liberdades democráticas e nos direitos sociais e que autoriza e dissemina o ódio e o preconceito na sociedade brasileira. Conclamamos todos e todas a não votar na candidatura de Jair Bolsonaro.
Somente uma das candidaturas se alinha claramente com o projeto democrático e civilizatório do país. Neste segundo turno, o enfrentamento ao fascismo é representado pela candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila. Por isso decidimos nos empenhar para garantir na Presidência uma candidatura que respeite a Constituição, que valorize os direitos sociais, que defenda de forma firme os direitos humanos, que pregue uma cultura de paz e tolerância e que esteja aberta a debater e negociar os interesses mais sentidos do magistério federal e de nosso povo.
*Carta aprovada pelos professores da Universidade de Brasília em assembleia geral realizada em 17 de outubro de 2018.
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