Dono de pousada morto em Brumadinho fez desabafo contra barragem há 1 ano
“É mais importante dinheiro ou pessoas? Estão acabando com tudo”. Há exatamente 1 ano, dono de pousada em Brumadinho publicava desabafo sobre a barragem que provocaria a sua morte. Seu corpo foi identificado nesta semana
Marcio Paulo Barbosa Pena Mascarenhas publicou um desabafo no dia 3 de fevereiro de 2018 sobre os estragos provocados pela barragem da Vale em Brumadinho. Ele é uma das vítimas fatais do crime da mineradora brasileira.
“Estão acabando com tudo em volta. É mais importante dinheiro ou pessoas?”, escreveu o dono da pousada Nova Estância, que foi completamente destruída pela lama da Vale.
A Defesa Civil anunciou ter encontrado também o corpo do filho de Márcio. O corpo da mulher, Cleosane Coelho Mascarenhas, havia sido identificado na segunda-feira. Seu sepultamento foi marcado por comoção, tristeza e revolta.
No Facebook, o empresário havia dito que Brumadinho estava se transformando em um “deserto poeirento e desabitado”.
“Onde antes era uma mata atlântica cheia de nascentes, hoje está virando um deserto empoeirado e sem vida. O que é mais importante, o dinheiro ou, as pessoas que morrem de doenças pulmonares respirando esse pó poluído com minerais pesados e bebendo água misturada com esse mesmo veneno?”, escreveu. “Cenário horrendo de um futuro que começou décadas atrás. Será que ainda há esperança?”
Fundador da rede de escolas de inglês Number One, Márcio Paulo, de 74 anos, deixou a administração do negócio há dois anos para se dedicar a cuidar da pousada com a família.
Então cercado de belezas naturais, o estabelecimento era um dos mais mais procurados da região e já havia recebido celebridades como o músico Caetano Veloso, o ator Marcos Veras, o humorista Marcelo Madureira e o casal de jornalistas Sandra Annenberg e Ernesto Paglia. O local foi completamente devastado.
Mortos e desaparecidos
A Defesa Civil de Minas Gerais informou, no fim da tarde desta quarta-feira (30), que há 99 mortos e 259 desaparecidos após o crime da Vale em Brumadinho.
Dos 99 mortos confirmados até agora, 57 já foram identificados. Há ainda 259 desaparecidos. O número de pessoas desalojadas subiu de 135 para 175, segundo o governo de Minas Gerais.
A barragem de rejeitos, que ficava na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, se rompeu na sexta-feira (25). O mar de lama varreu a comunidade local e parte do centro administrativo e do refeitório da Vale. Entre as vítimas, estão pessoas que moravam no entorno e funcionários da mineradora. A vegetação e rios foram atingidos.