Silêncio criminoso da mídia não impediu que 100 mil soubessem da morte do blogueiro Mosquito
Movidos por intolerência à impunidade, mais de 100 mil pessoas acessam Pragmatismo Político em menos de 24 horas e rompem silêncio midiático
Não fosse o empenho fomentado a partir das mídias sociais, a estranha morte do blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, teria passado como um acontecimento cotidiano e descartável. Não é assim, aliás, que a vida humana é manuseada diariamente nos meios de comunicação mercadológicos; com desdém?
Desde que anunciamos aqui, ontem, a perda do colega e a cobrança por isenção nas investigações, mais de cem mil pessoas já acessaram a página e tomaram conhecimento do triste ocorrido. Isto sem contar a reverberação em demais sites e blogs.
Toda essa massiva repercussão não significa nada mais do que um contraponto ao silêncio sepulcral e inexplicável do ponto de vista jornalístico, mas inteligível pela ótica da contrariedade.
Humanista, afirmam os que com ele conviveram, era marcado por um misto de generosidade e coragem. Foi o primeiro a descobrir e denunciar um caso de estupro envolvendo o filho de uma importante figura do grupo RBS (afiliada da Rede Globo), e um dos poucos com destemor para levá-lo adiante. Suas atuações, no entanto, não se limitaram à este caso, e o supracitado blogueiro tornou-se notado por opor-se aos supostos desmandos proferidos no andar de cima da sociedade catarinense, o que lhe rendeu vários processos e condenações.
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Na última terça-feira, dia 13, Mosquito foi encontrado enforcado em sua residência. Mais detalhes sobre a morte você pode encontrar aqui.
Mosquito não trabalhava na redação de nenhum grande jornal, e nem por isso era menor ou detinha espírito especulativo inferior. Ao contrário, talvez justamente por esta razão fosse livre para exercer a criticidade plena, sem amarras e cada vez mais escassa nos veículos de mídia convencionais.
Os mais de 100 mil usuários que acessaram Pragmatismo Político em menos de 24 horas não o fizeram movidos por mera curiosidade, mas por um sentimento de intolerância à impunidade.
Aquele blogueiro sofria ameaças diversas e chegou a revelá-las de público. Sozinho, lutou contra gigantes como um gigante. Perdeu algumas batalhas, teve o seu blog censurado, mas venceu a maior delas: foi eficaz no estímulo ao inconformismo. Por toda essa bagagem conflituosa, é plausível aceitar a convicção do suicídio como afirmativa ainda prematura.
Nada se exige além de uma investigação séria, sem interferências, e, para tanto, o acompanhamento dos desdobramentos caberá a todos nós. Pragmatismo Político se coloca a fazer a sua parte, e toda informação adicional poderá ser enviada para o seguinte e-mail: [email protected]
Mosquito faria por qualquer um desses mais de 100 mil o que preciso fosse para não permitir o sucesso da injustiça. Não nos mobilizemos apenas após as tragédias – essa é uma lição que fica.
Luis Soares – Pragmatismo Político